Ele não gosta de queijo derretido, mas não dispensa um chocolate ou qualquer sobremesa que tenha o doce em sua receita. Não foram os hábitos alimentares que tornaram famoso, no entanto, o “rabiscador compulsivo” Sergio Aragonés. Nem tão pouco foi fácil conquistar a fama para este espanhol nascido em 1937, em Castellon – de onde a família fugiu por causa da guerra civil espanhola.
Sergio cresceu na Cidade do México, onde seu pai era um verdadeiro barão do cinema. Desde pequeno já adorava desenhar – ou melhor, rabiscar, o que fazia com rapidez incrível, o que lhe arrebatou o título de desenhista mais rápido do mundo (o quadrinista brasileiro Ziraldo é um dos que contava ter ficado impressionado com a velocidade do colega de trabalho quando o visitou).
Aragonés estudou arquitetura, principalmente para agradar aos pais, já que estes não viam grande futuro nos desenhos humorísticos do filho. No início da década de 1960, no entanto, o cartunista conseguiu abrir espaço para a própria arte na revista de humor Ja-Ja e no periódico Mañana.
Em 1962, Sergio atravessou a fronteira em busca do sucesso nos EUA, mas o mercado não era tão receptivo quanto ele pensava. Por isso, durante um bom tempo ganhou a vida cantando em restaurantes de segunda categoria e vendendo (bem baratinho) cartuns para revistas pequenas.
Em 1963, no entanto, a revista MAD resolveu apostar no espanhol e, a partir do número 76, passou a publicar as tiras literalmente marginais (já que saem nas margens da revista) dele.
Querido pelos leitores de todos os países onde a revista foi publicada (ainda que muitos não soubessem o nome dele), Aragonés é considerado pela própria MAD como um dos maiores artistas da publicação, que inclusive incluiu uma coletânea com os melhores trabalhos do espanhol em cinco décadas de dedicação da revista.
O trabalho na MAD o deixou famoso e o levou a outras editoras, entre as quais a DC Comics. “Achavam o meu trabalho meio louco, mas aquele tipo de loucura se encaixava nas revistas de humor”, conta. Para a DC, Aragonés trabalhou nas revistas Young Romance e Plop!.
Mas foi em 1982 que o cartunista espanhol estourou, com a criação de um bárbaro desastrado, violento e “meio devagar”: Groo, o errante. Com o personagem (que tem revistas publicadas pela Pacific, Marvel, Image e Dark Horse, entre outras editoras), Aragonés – brinca de maneira hilária com o gênero Sword and Sorcery, popularizado nas HQs por Conan, o Bárbaro.
Sérgio Aragonés – que usa pantufas com a cara do gato Félix e gosta de ler os ótimos Bone e Usagi Yojimbo nas horas vagas – virou então referência para outros artistas, tema de um documentário de TV (levado ao ar em 1984 nos EUA) e fez até participações especiais em filmes como Norman, is that you?, de 1976. Também passou a escrever para alguns sitcoms da TV estadunidense.
Junto com Mark Evanier (que roteiriza a maior parte dos trabalhos do desenhista), Aragonés ainda se dedica a Groo em especiais lançados anualmente e outras HQs eventuais como bárbaro e companhia. Porém, a dupla também desenvolve uma série de outros projetos de humor. No final da década de 1990, por exemplo, os dois criaram os excelentes Sergio Aragonés destrói a DC e Sergio Aragonés massacra a Marvel.
Em ambos, lançados no Brasil pela Editora Abril, fazem troça dos jargões e situações absurdas vividas pelos super-heróis das duas editoras, como o fato de Superman achar que engana alguém colocando óculos e dizendo que é outra pessoa (no caso, Clark Kent), ou os diálogos melancólicos enormes dos X-Men na época, que cobriam a maior parte dos quadrinhos. Na mesma toada vieram posteriormente outras obras, como Sérgio Aragonés esmaga Starwars e Sérgio Aragonés exorciza a Bruxa de Blair.
Um dos trabalhos mais fantásticos de ambos, porém, é Fanboy, minissérie em seis edições lançada em 1999 nos EUA (aqui no Brasil a Brainstore reuniu o material em três revistas, publicadas em 2002). Utilizando como pano de fundo o adolescente Finster, um típico nerd que trabalha numa loja de quadrinhos e vive fantasiando tudo ao redor (sem perceber diversas situações que ocorrem na vida real dele), Aragonés e Evanier fazem um mergulho histórico nos quadrinhos da DC Comics das mais diversas épocas.
E não só apresentam aspectos históricos dos personagens e do mundo dos gibis, como se utilizam de desenhistas convidados – nas cenas em que Finster delira estar no meio das HQs – como Dave Gibons e Gil Kane (dois dos mais celebrados artistas de Lanterna Verde); Wendy Pini (Elfquest); Neal Adams, Frank Miller e Bruce Timm (Batman); Steve Rude e Dick Giordano (Mulher-Maravilha); e diversos outros mestres da nona arte.
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