Em 1933 dois adolescentes de Cleveland (EUA), Jerry Siegel e Joe Shuster, conceberam uma tira de quadrinhos com um super-herói defensor da Justiça, originário de outro planeta, e que quando não estava ajudando a combater o mal se travestia em um ser humano normal. Durante anos os dois tentaram vender sua tira para os syndicates (os distribuidores americanos de tiras de jornal) e tiveram seu trabalho recusado. Em 1938, a história chamou a atenção de M.C. Gaines, que a levou para Harry Donnenfeld – então proprietário da quase falida Detective Comics.
Siegel e Shuster, que então já estavam trabalhando para a DC em outros projetos, receberam o “OK” para desenvolverem aquele que é considerado o primeiro e maior super-herói dos quadrinhos (o herói foi o primeiro criado a ter poderes sobre-humanos).
Ainda em 1938, Superman apareceu na capa do primeiro número da revista Action Comics e, em menos de dois meses, as edições da revista com as histórias do herói passaram a vender 2 milhões de exemplares mensalmente. As tiras do herói (publicadas em jornais de 1939 a 1966 e de 1977 a 1993) também causaram enorme furor.
Inicialmente, o herói era bem diferente, tinha um visual mais austero (com olhos negros “entradas” no cabelo indicando um homem mais maduro), não tinha os mesmos poderes – em vez de voar, por exemplo, pulava prédios altos com um único pulo – e era uma espécie de mistura entre um agressivo superpolicial e um superassistente social: ao mesmo tempo em que prendia bandidos, reprimia aqueles que desrespeitavam as normas morais, éticas e até trabalhistas dos Estados Unidos.
Bêbados, machistas que batiam em mulheres e até um dono de Mina que explorava os trabalhadores irregularmente sofreram com a ira do Super nestes primórdios. Cabe reforçar que a primeira publicação do herói no Brasil ocorreu também em 1938 no suplemento “A Gazetinha”, do jornal paulistano A Gazeta (a primeira revista sairia em 1947, pela Ebal).
Uma curiosidade é que, seguindo a “tradição” brasileira de dar nomes diferentes dos originais nas versões em português, Clark Kent foi rebatizado como Eduardo Kent e Lois Lane ganhou o nome de Miriam Lane, além de Smallville ter sido “traduzida” para Pequenópolis. O nome Eduardo foi trocado por Clark rapidamente, mas Lois permaneceu sendo chamada de Míriam até os anos de 1980.
De volta aos primeiros anos do Superman, com o advento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a entrada dos EUA no conflito, na década de 1940 o herói ganhou histórias nas quais ajudava nas investidas aliadas contra os nazistas . Aliás, foi nesse período, mais especificamente em 1943, que surgiu nas HQs a Kryptonita, mineral que torna o super vulnerável, nas aventuras radiofônicas (nos quadrinhos, ela apareceria apenas em 1949)
Após a Guerra, o herói assumiu de vez o apelido de “escoteirinho da América”. Ao mesmo tempo em que aparecia em algumas histórias ingênuas e com altas doses de psicodelismo, defendia acima de tudo os interesses estadunidenses, de tal forma que seu lema (usado tanto nas HQs quanto nos programas de rádio) foi modificado para “O Campeão da Justiça, da verdade e do American Way”.
No decorrer dos anos, o personagem foi se desvinculando dos governos de plantão e passando a defender um conceito mais amplo de Justiça, e ao mesmo tempo mais distante dos problemas do dia a dia dos cidadãos que não envolviam segurança. Até mesmo em virtude da longevidade do herói, constantemente elementos da história foram alterados, até mesmo personagens centrais como o vilão Lex Luthor, que começou nas tiras como cientista e depois virou um poderoso e inescrupuloso empresário.
Até mesmo fatos relacionados às origens do Superman foram alterados algumas vezes. A razão do planeta Krypton ter explodido, por exemplo, já teve várias versões, assim como a sociedade Kryptoniana (e os pais biológicos do herói, Jor-el e Lara) já foi descrita como uma sociedade amorosa e posteriormente como extremamente fria, até mesmo sem contato físico.
Os pais terrestres do personagem também são constantemente alvo de mudanças. Houve épocas em que os Kent já haviam morrido nas histórias quando Clark foi para Metrópolis, em outras apenas Jonathan morreu e, na maioria das vezes, Jonathan e Martha permaneceram morando na fazenda e dão suporte emocional a Clark sempre que ele precisa.
Nas tiras originais, Kal-El – nome kryptoniano de Clark Kent – ganha superforça ainda bebê (na versão inicial ele está em um orfanato, o que logo depois foi trocado com a introdução dos pais terrestres). Em outras HQs, contudo, ele teria ganho poderes ainda menino/adolescente e já atuado como um herói, o então Superboy.
Durante os anos de 1980 e 1990, no entanto, o herói passou por transformações profundas. Primeiro em 1986, quando a macro série Crise nas Infinitas Terras realinhou a origem do herói (e dos demais da DC) eliminando versões paralelas e criando uma linha cronológica oficial. Naquele momento, Superman, por exemplo, passou a ser o único sobrevivente de Krypton – a prima dele, Kara, a Supergirl, desapareceu da história oficial do personagem, bem como versões mais maduras ou diferentes dele que existiam em “outras terras” (o que passou a ser conhecido como multiverso).
Inicialmente, o herói foi retomado – em especial pelas mãos do quadrinista John Byrne ´ com a proposta de ser mais próximo ao conceito original de ser uma criatura única, o último sobrevivente de um planeta, o defensor maior da Terra. Foi Byrne, porém,que introduziu o conceito da sociedade Kryptoniana mais fria e deu maior importância a criação (especialmente moral) de Clark pelos pais terrestres.
Contudo, essa criação não incluiu as histórias do Superboy -pelo contrário, os pais de Kent o ajudaram a desenvolver os poderes com cuidado e a esconder qualquer pista deles. A amizade de infância com Lex Luthor também foi excluída da história oficial, o vilão apareceria na vida do herói apenas quando ele vai para Metrópolis, já como um dos homens mais ricos e poderosos do mundo. Também foi dado muito mais foco sobre a vida de Kal-El como Clark Kent.
Ironicamente, porém, com o passar dos anos o super foi ficando mais humanizado e passou a não ser tão invulnerável. Se antes era afetado apenas por kryptonita, ele passou a ser também vulnerável a magia e a apanhar mais constantemente de outros heróis e vilões na base da força bruta. Já o alter ego Clark Kent passou a ser cada vez menos tímido e mais heroico, além de ter destacada a inteligência (ganhou até mesmo prêmios Pulitzer por reportagens no Planeta Diário).
Em 1992 (no Brasil a HQ foi publicada em 93), o herói morreu, destruído pelo vilão Apocalypse (Doomsday). Oficialmente, a história da morte teria sido engendrada pela DC em 1992 como uma forma de “segurar” o casamento de Clark e Lois Lane. Isso porque na época a TV exibia o seriado Lois & Clark: The New Adventures of Superman, no qual o romance de ambos ainda não estava maduro, e a ideia era não conflitar as mídias.
Então alguém teria lembrado de uma piada antiga na DC sobre matar o herói e os roteiristas e mandachuvas acharam que seria uma boa solução. Fora da história oficial, são apontados outros dois motivos. O primeiro era aumentar as vendas dos gibis, o que efetivamente ocorreu. O segundo, defendido por alguns teóricos, era o de possibilitar uma retomada do mito do grande herói e afastar o super da “humanidade excessiva” que o personagem vinha apresentando.
Para isso, nada melhor do que aproximá-lo do “herói dos heróis”: Jesus Cristo, que morreu para salvar a humanidade (que é efetivamente o que o Syperman faz nesse arco de histórias)a morte – e ressuscitou. Com efeito, o próprio Superman ressuscita depois em uma história com várias referências à ressureição de Jesus.
Depois de voltar dos mortos, Superman casou-se com Lois. Logo depois perdeu os poderes e acabou se transformando em um herói diferente, de pele azul, com poderes eletromagnéticos e até mesmo com um uniforme radicalmente diferente do tradicional. O visual e poderes do “novo Superman” duraram quase um ano.
Pouco antes do aniversário de 30 anos do herói, em 1998, ele foi dividido em dois seres eletromagnéticos (um azul e um vermelho) e, finalmente, em 98 (no Brasil, em 99), voltou ao visual e poderes tradicionais. Mas, logo na sequência, foi “dividido” em quatro, em épocas diferentes, por entidades cósmicas – um Super-Homem da era de ouro dos quadrinhos (anos 30), um da era de prata (anos 50), um da era sintética (anos 70) e um do futuro (2999).
No ano 2000, alterado por uma espécie de kryptonita criada por Luthor, tornou-se uma espécie de ditador que tentou impor suas regras ao mundo. Em 2001/2002 teve que enfrentar Luthor como presidente dos Estados Unidos e, logo depois, um evento que acabou vitimando pessoas muito importantes em sua vida e fez com que mudasse o símbolo para fundo preto. Vale destacar ainda uma HQ deste período chamada “Olho por Olho”, vencedora do prêmio Eisner, na qual Superman começa a perder espaço para super-heróis mais violentos, que matam vilões – em uma referência clara a personagens lançados em outras revistas na época. Eventualmente Super se confronta com o grupo e aparentemente adota as táticas deles para derrotá-los, para demonstrar na prática não só as consequências da violência como o fato de “ser mais fácil” agir daquela forma.
Em 2011, a DC promoveu o reboot Os Novos 52 e refez a origem do personagem (que inclusive aparece no início do reboot de “uniforme” composto por calça jeans e camiseta). Nesta versão, Clark Kent teve os pais terrestres mortos em um acidente de trânsito e se envolve romanticamente não com Lois, mas com a Mulher-Maravilha.
Por fim, em 2015, na minissérie Convergência: Superman, o herói re-apareceu casado com Lois Lane e (!!!) com um filho, Jon Kent. Em a DC fez um novo reboot nos quadrinhos, chamado Rebirth (Renascimento, no Brasil), e oficializou esta versão como canônica (oficial).
Na prática, no arco Superman Reborn aparecem duas versões diferentes de Superman e Lois Lane (de O Novos52 e pós-crise nas Infinitas Terras) que na história – dividida em quatro partes – acabam sendo de certa forma “fundidas” na versão oficial. Jon Kent, inclusive, assume a alcunha de Superboy e chega a assumir interinamente o manto de Superman quando o pai sai em aventura mais longa no espaço. Em uma destas ocasiões foi revelado que o garoto é bissexual, o que gerou polêmica e grande confusão na mídia que chegou a noticiar que “o novo Superman” era bi.
Por fim, vale registrar ainda que em 2024 a DC Comics lançou o Universo Absoluto, uma realidade paralela com uma nova origem para o herói. Essa versão, porém, é alternativa e não interfere no cânone.
Ao lado de Batman e de heróis de outras editoras como Homem-Aranha e X-Men, Superman o herói é um dos mais “multimídia” do mundo. Na TV (e posteriormente streaming) foram inúmeros desenhos animados solo ou acompanhado por outros heróis (como Os Superamigos), além de vários seriados live action.
O primeiro deles data de 1948 (Superman, com 15 capítulos tendo Kirk Alyn no papel título e uma vilã chamada Spider Lady) e foi seguido por um bem mais popular, no ar de 1952 a 1958, com George Reeves interpretando o herói. Destaque ainda para Lois & Clark: The New Adventures of Superman (1993 a1997), Smallville (2001 a 2011) e a mais recente Superman & Lois (de 2021 a 2024).
Também há um grande número de filmes do super-herói. O primeiro é um filme de 59 minutos chamado Superman e os homens-toupeira, com George Reeves – mesmo ator que na época estrelava um seriado televisivo do herói.
Em 1978 veio aquele que se tornou um grande marco dos filmes de super-herói: Superman, com Cristopher Reeve no papel principal, Marlon Brando como Jor-El e Gene Hackman como Lex Luthor. O filme ganhou um Oscar (teve ainda outras três indicações) e teve três continuações, em 1980, 1983 e 1987, além de um spinoff da Supergirl em 1984.
Super estrelou ainda Superman Returns (2006), Man of Steel (2013) e Batman vs Superman (2016), além de estar presente em outros filmes de heróis como A Liga da Justiça (2021). Um novo filme, Superman:Legacy, está previsto para estrear em 2025.
Superman também está presente em inúmeros videogames, camisetas, brinquedos, memorabília, inúmeros produtos de licencing e nas mais diversas bugigangas.
Enredo
Para salvar seu filho do fim iminente do planeta Krypton, um casal de cientistas – Zor-Ele Lara – envia para o espaço uma nave com o pequeno bebê, Kal El, minutos antes do planeta explodir. A nave cai na zona rural do Kansas (EUA), próximo à cidadezinha de Smallville, onde é encontrada por um casal de fazendeiros, Jonathan e Martha Kent. Eles decidem criar a criança.
Quando cresce, o então adolescente alienígena – batizado de Clark Kent pelos pais adotivos – descobre superpoderes que incluem imensa força, invulnerabilidade a praticamente qualquer tipo de ataque físico, visão de Raio-X, visão de calor, super audição, super sopro, super velocidade e a capacidade de voar.
Movido por conceitos éticos e morais sólidos, ele decide empenhar os superpoderes e habilidades para fazer o bem e a Justiça no mundo que o acolheu (em especial no país que o acolheu). Kent vai para a cidade grande, Metrópolis, onde se emprega como um tímido repórter no jornal Planeta Diário e se apaixona pela repórter Lois Lane.
A mesma Lois é quem acaba batizando o herói como Super-Homem ao vê-lo salvar um avião em queda. Inicialmente, Lois se apaixona pelo Super-Homem, mas nutre um profundo desprezo por seu alter ego, Clark Kent. O herói também desperta um sentimento profundo, mas de ira, em Lex Luthor, um inescrupuloso empresário que é praticamente dono da cidade.
Super-Homem salva milhões de vidas, combate o crime e ajuda o planeta combatendo o mal, invasões alienígenas e perigos diversos. Na atual cronologia oficial da DC Comics, eventualmente casa-se com Lois Lane com quem tem um filho, Jonathan Samuel “Jon” Kent, que herda os poderes do pai e “a curiosidade e tenacidade da mãe” -tornando-se o atual Superboy.
Personagens
Além de Super-Homem e seu alter ego, Clark Kent, há vários personagens importantes e conhecidos na HQ, como:
Lois Lane – Repórter intrépida, ágil, independente, inteligente, cheia de recursos… a mulher ideal para um Super-Homem. Casada com o herói, Lois é tão heroína quanto o próprio marido e está sempre descobrindo maracutaias e perigos com seu faro de repórter.
Jimy Olsen – É o amigo do Super-Homem e de Clark Kent (não sabe que os dois são a mesma pessoa) e trabalha no Planeta Diário. Nas histórias da era de ouro e de prata dos quadrinhos, vivia se metendo em encrenca em aventuras fantásticas nas quais era salvo pelo Super-Homem e até mesmo possuía um sinalizador par chamar o herói.
Lex Luthor – O mais maquiavélico vilão já desenvolvido em uma história em quadrinhos. Dono de um QI altíssimo e de uma fortuna maior ainda (acumulada graças a negócios altamente ilícitos que se iniciaram com o assassinato de seus pais para receber o seguro), Luthor é virtualmente o dono de Metrópolis e odeia o kryptoniano por várias razões que podem ser resumidas em uma: o herói alienígena é mais poderoso que ele.
Vários outros personagens compõem as HQs, dos quais destacam-se: Perry White (editor do Planeta Diário, chefe e amigo de Kent e Lois; Cat Grant (repórter bonita e geralmente fútil, que chegou a dar em cima de Kent); Jonathan e Martha Kent (os amorosos e justos pais adotivos do herói); Pete Ross e Lana Lang (amigos de infância); e, dependendo do último reboot, a prima Supergirl e o supercão Krypto.
Do lado dos vilões se destacam também Brainiac, Metallo, Bizarro, Banshee Prateada, Super Cyborgue, Apocalypse, Derkseid, Mongul, General Zod, Parasita e o engraçado e mortalmente perigoso senhor Mxyzptlk, da quinta dimensão.
Curiosidade: judeu voador
O Super-Homem é um dos personagens que mais desperta teses – dentro das universidades e fora delas – e polêmicas esdrúxulas em todo o mundo. Em 1995, o então editor do personagem no Brasil, Mário Barroso, criou uma horda de leitores ensandecidos ao afirmar que o Homem-de-Aço era virgem. A afirmação do editor foi feita de forma brincalhona, mas gerou muita briga.
Muito antes disso, na época da II Guerra Mundial, as HQs de Superman irritaram os nazistas a ponto de despertar a ira do ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, que ordenou que o jornal Der Stümer fizesse um artigo contra o herói sob o título “Super-Homem é judeu”. Curiosamente, em 1995 o Jerusalem Post publicou um estudo afirmando justamente que o Super-Homem é judeu.
As “provas” começam com a “missão” do kryptoniano, sempre disposto a defender os mais fracos em sua eterna busca pela Justiça. Ela corresponderia ao velho conceito religioso judeu do “Tikum olam”, a reparação das imperfeições do mundo. O disfarce do herói como o tímido Clark Kent, com auxílio de um par de óculos e – originalmente – um chapéu de feltro também seria uma prova de sua origem judaica. “Sob essas características, tradicionalmente atribuídas aos judeus da Diáspora, esconde-se o antigo combatente hebreu, portador de uma missão divina”, explica Daniel Schifrin, dirigente da Fundação Nacional Norte-Americana pela Cultura Judia.
Até mesmo o nome verdadeiro do herói, Kal El, tem “som judeu”, podendo ser interpretado como “Deus” ou “amigo de Deus” em hebraico. Na época da publicação doestudo, a viúva de Jerry Siegel, Joana Carter, já afirmou que as “tendências judias” do herói não eram intencionais, mas fez uma ressalva. “Meu marido ouviu pessoas falando em hebraico durante sua infância, por isso é possível que tenha sido influenciado inconscientemente.” Vale lembrar ainda que há também semelhanças entre o herói e Jesus Cristo.
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