Batman

Em 1939, um ano após o surgimento do Super-Homem, o então diretor da National Periodical Publications Vincent Sullivan solicitou ao cartunista Robert “Bob” Kane que criasse um herói para a editora seguindo a trilha de sucesso do Homem-de-Aço. Kane tinha 22 anos e produzia tiras de humor como “Cleo and Clancy”, dois policiais no estilo O Gordo e o Magro.

Segundo a lenda, usando uma figura do Super-Homem como modelo e esboços de Leonardo Da Vinci em que um homem aparece com asas nas costas semelhantes às de um morcego, Kane criou um herói que tinha asas, vestia um uniforme vermelho berrante e usava uma máscara fina, e o chamou de Bat-man (Homem-Morcego).

 

Kane pediu então a opinião do amigo e quadrinista Bill Finger, que sugeriu algumas mudanças: ampliar a máscara para uma espécie de capuz, com orelhas pontiagudas como as de um morcego; trocar as asas rígidas coladas nas costas do personagem por uma capa com pontas recortadas, evocando a figura do mamífero voador; e a troca do uniforme vermelho por um azul-cinzento, mais adequado para as aventuras noturnas do personagem.

Kane acrescentou ainda luvas, botas, o símbolo do morcego no peito e o cinto de utilidades. Em maio de 1939, na revista Detective Comics número 27, Batman (o hífen acabou sendo abandonado com o tempo) estreou com a história “O Caso dos Químicos”, escrita por Bill Finger e desenhada por Bob Kane.

Inicialmente mais detetivesco e muitas vezes convidando o público a resolver os casos com ele, o personagem passou por uma série de mudanças ao longo do tempo, tendo de fases mais alegres, coloridas e até com aspectos nonsense (com direito a personagens como o Batmirim) a aventuras mais sombrias.

Um fato que sempre permaneceu, porém, foi o de Batman ser extremamente inteligente (ele é considerado “o maior detetive do mundo”), forte, versado em diversas lutas e com acesso a diversas tecnologias de ponta, que utiliza em armas, veículos e artefatos diversos. Aliás, cabe ressaltar: ele não é um herói com poderes super-humanos e sim um ser-humano excepcional. Tanto que histórias em que, quando o personagem remove o uniforme, é possível notar uma série de cicatrizes e machucados.

O traço do personagem também mudou ao longo dos anos e até mesmo muda em diferentes histórias, desenhadas por artistas distintos ou ainda para reforçar universos paralelos. Em 2024, por exemplo, a DC Comics lançou uma linha chamada Absolute na qual os principais personagens vivem em um mundo alternativo, com diferentes origens e, nele, o desenho utilizado retrata Batman como um homem extremamente grande e maciço.

Nas mais de oito décadas de existência do personagem, diversas HQs se tornaram verdadeiros marcos na história do personagem, mas quatro delas são consideradas leituras essenciais. A primeira é Batman, o Cavaleiro das Trevas (Batman: The Dak Knight Returns), de Frank Miller, lançada originalmente em 1987 .

A história apresenta um Bruce Wayne sessentão, que aposentou o uniforme após a morte do Robin Jason Todd, mas que acaba se vendo compelido a reassumir o papel de super-herói em meio a violência crescente em Gotham.

Mais cínico, violento e enfrentando não só um mundo no qual se sente deslocado como fato de não ter mais a mesma capacidade física, esse Batman irá confrontar vilões mais mortais (entre eles um também ressurgido Coringa) e até mesmo um antigo aliado: O Super-Homem. Aliás, em uma de suas cenas mais célebres a HQ mostra o velho Homem-Morcego dando uma surra no Homem de Aço, transformado em agente do governo.

Outra curiosidade da série, que foi apelidada lá fora como DK (Dark Knight) é que pela primeira vez o papel de Robin é assumido por uma menina, Carrie Kelley. Miller lançou duas continuações, DK2 e DK3, ambas boas, mas nem tanto quanto a história original (e ainda um spin off totalmente equivocado, A Criança Dourada).

O segundo título essencial é Batman Ano Um, de 1987, também com argumentos de Frank Miller. Nele são mostradas as dificuldades de Bruce Wayne no primeiro ano dele como Batman – o herói é considerado um vigilante e tem que enfrentar a polícia e a política de Gotham, contaminada pela corrupção.

Ao mesmo tempo, James Gordon também está vivendo o primeiro ano dele como policial da cidade. Além do excelente argumento em si, Miller inovou ao colocar tanto Gordon quanto Wayne na condição de condutores da história – é por meio dos pensamentos deles, escritos em recordatórios com cores diferentes, que o desenrolar da HQ é conduzido.  A série, inclusive, acabou inspirando anos mais tarde o filme Batman Begins (2005),primeira da chamada trilogia Nolan (o diretor Christopher Nolan).

A terceira leitura obrigatória é A Piada Mortal, do roteirista inglês Alan Moore. Apesar de girar mais em torno do Coringa, dando uma nova origem ao personagem, a HQ marcou época ao mostrar o vilão atacando a família Gordon – em uma ação que deixaria Bárbara em uma cadeira de rodas – e um final com Batman tentando, inutilmente, ajudar o arqui-inimigo antes que a loucura e agressividade do vilão escalonasse ainda mais.

Por fim há um quarto arco que marcou época, ainda que não necessariamente de maneira positiva, A Queda do Morcego. Nele, um vilão até então desconhecido chamado Bane arquiteta um plano para deixar o herói exausto e derrota-lo: o que acontece em uma cena épica, na qual Bane quebra as costas de Batman e na sequência o arremessa de um prédio.

Com a coluna quebrada, o herói escolhe como substituto um desconhecido que integra uma ceita amalucada, Jean Paul Valley, que até então assumia a identidade de Azrael, assassino da tal ceita. A versão Batman-Azrael, claramente feita para testar a aceitação de algo novo junto aos leitores, era desastrosa tanto visualmente (com uma armadura esquisitíssima) quanto no enredo, com um Batman violento, descontrolado e claramente pirado.

Os leitores não só rejeitaram o novo Batman como o fato de Dick Grayson (Asa Noturna/primeiro Robin) não ter sido o substituto, o que seria natural, como pela DC ter criado “do nada” um vilão que derrotou o herói. Seria muito mais coerente que um vilão já existente e perigoso, como o Coringa, fosse o autor da façanha. Isso posto, não demorou a Bruce Wayne “se recuperar” (sim, sarou de uma coluna quebrada!) e reassumir o manto.

Batman é um dos personagens mais multimídia do planeta (e consequentemente um dos que mais arrecada dinheiro), já tendo sido transposto para séries de TV e streaming, inúmeros filmes de cinema, videogames, desenhos animados, brinquedos e bugigangas em geral. O personagem ainda pertence à DC Comics. No Brasil a maioria das histórias do herói é publicada pela editora Panini (antes dela, pela Editora Abril). Crossovers do herói e histórias alternativas também são publicadas por outras editoras, sem periodicidade definida.

Enredo

O médico Thomas Wayne e sua esposa Martha voltavam do cinema com o filho Bruce, quando um assaltante tentou tomar o colar de Martha. O médico reagiu e foi morto por um tiro, assim como sua mulher, que tentou chamar por socorro.

O garoto, que teve sua vida poupada, jura vingar a morte dos pais e dedicar sua vida ao combate contra os criminosos. Para isso, Bruce Wayne passa os próximos anos de sua vida – e empenha parte da imensa fortuna herdada dos pais – estudando com os melhores mestres de artes detetivescas e marciais, filósofos, psicólogos e grandes criminalistas do mundo.

Ao voltar para Gotham City, o jovem se faz passar por um playboy milionário ao mesmo tempo em que, secretamente, se veste de morcego e combate os criminosos.

Ao contrário do demais personagens da categoria super-herói, o Batman não tem superpoderes, mas conta com uma incrível força física e agilidade, conhecimentos de vários tipos de lutas, um intelecto superior aguçado por estudos que o tornaram um excelente detetive e, por fim, um alto arsenal de tecnologia desenvolvido pelas empresas Wayne.

Batman é ainda a antítese do Super-Homem: é violento, taciturno, muitas vezes monossilábico e cínico, e tem sérias dúvidas em relação ao funcionamento da Justiça, ainda que acabe entregando vilões e psicopatas à polícia ou ao famosos Asilo Arkham.

Personagens

Batman conta com o auxílio de Robin, o menino-prodígio, cargo que já foi ocupado por quatro diferentes jovens desde que o personagem foi criado pelo quadrinsta Jerry Robinson até o ano de 2010.

Em sua atual edição, o side-kick do herói é Damian Wayne, filho do próprio Bruce Wayne com Talia Al Ghul –  filha de Ras Al Ghul, um dos piores inimigos do Morcego. Um parêntese: além de Damian, na década de1950 Batman teve uma filha com Mulher-Gato, Helena Wayne, que assumia o nome de Caçadora. Porém a personagem foi descontinuada em 1986, com o evento Crise nas Infinitas Terras.

De volta a Robin, o primeiro a vestir o uniforme do parceiro de Batman foi Dick Grayson (primeira aparição em 1940), um filho de trapezistas que acabou adotado por Wayne depois que os pais foram vítimas fatais de uma armação da máfia. Quando se tornou um jovem adulto, filiou-se ao grupo Jovens Titãs e depois assumiu uma nova identidade heroica, como Asa Noturna. Quando Bruce Wayne foi dado como morto, após os eventos da série Crise Final, assumiu o manto de Homem-Morcego até o reaparecimento do “titular”.

O segundo Robin, Jason Todd, era um menino de rua revoltado que Batman surpreendeu roubando as calotas do Batmóvel. Instável e nunca obedecendo ordens, morreu nas mãos do vilão Coringa em uma história marcante (e posteriormente foi ressuscitado como Capuz Vermelho).

O terceiro Robin, antes do atual, foi Tim Drake, um garoto filho do vizinho de Wayne, que descobriu a identidade secreta do milionário. Este Robin era, ao contrário dos outros, mais independente do herói e atuava mais sozinho ou como suporte tecnológico, participando com menos frequência nas aventuras ao lado do Morcego. Tornou-se o Robin Vermelho depois que deixou o cargo e, apesar de ter sido um personagem bastante apagado, ganhou destaque na mídia mundial quando a DC Comics oficializou que o personagem era bissexual.

Aliás, vale lembrar que nos anos de 1950, em um livro lançado nos Estados Unidos, um psicólogo afirmava que Batman e (o primeiro) Robin eram um casal gay e, graças à obra literária, muitos quadrinhos foram até queimados e a censura se estabeleceu sobre os gibis estadunidenses.

Ainda do lado dos mocinhos estão o mordomo Alfred, o comissário Gordon e alguns detetives que aparecem mais na história (como Bullock e Montoya), Bárbara Gordon (filha do comissário, Batgirl/oráculo), e alguns vigilantes de Gotham como a atual Caçadora, entre outros.

Os vilões da série são um capítulo à parte e merecem destaque. Entre eles o psicopata Coringa, o mais perigoso e imprevisível dos bad guys, Pinguim, Senhor Frio, Duas-Caras, Mulher-Gato (atualmente variando entre ser heroína e vilã), Hera Venenosa, Arlequina, Rhas Al Ghul, Ventríloquo, Bane, Vagalume e Charada, entre outros.

Curiosidade: Bruno Miller é Morcêgo Negro, protetor de Riacho Doce

Quando estreou no Brasil na revista “O Lobinho”, em 1940, Batman ganhou uma série de “versões brasileiras” para os nomes utilizados nas HQs, situação que era bem comum na época. Assim, ele era o  “Morcêgo Negro”, que defendia o crime não em Gotham City, mas, acredite se quiser, em “Riacho Doce”.

Bruce Wayne foi rebatizado como “Bruno Miller”, nome que se manteve por um tempo, mesmo depois de “Morcêgo Negro” já ter virado “Homem Morcêgo”

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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