Aquaman, você é maravilhoso, mas sou mais João Grilo e Chicó…será?

Diante de um público entusiasmado na CCXP2023, o ator Selton Melo olhou para o estande da Warner que exibia imagens de Aquaman 2, bem em frente ao Palco Omelete  (onde ele próprio estava), e disparou: “Aquaman, você é maravilhoso, mas sou mais João Grilo e Chicó! Aqui é Brasil, meu filho”.

A reação do público, entusiasmadíssimo com os melhores convidados de um sábado bem xoxo, não poderia ser diferente: aplausos ensurdecedores e gritos de concordância. Contudo, diferentemente de Aquaman 2: O Reino Perdido, que estreou em dezembro do ano passado e ainda pode ser conferido nos cinemas neste início de ano novo, O Auto da Compadecida 2 só chegará às salas de exibição em dezembro de 2024, portanto será preciso esperar um pouco para fazer qualquer tipo de comparação efetiva.

Muito provavelmente o filme nacional terá maior bilheteria por aqui, afinal como prometeram Selton, Matheus Natchtergaele e Taís Araújo na comic con, será “o maior lançamento do cinema nacional já teve”,  enquanto Aquaman foi vítima das mudanças anunciadas da DC e outros pontos que neste ano prejudicaram os filmes de super-herói.

Mais ainda, por mais que o elenco afirme que o Auto é um filme de “super-heróis brasileiros”, que lutam contra a fome e o poder desmedido de alguns coronelismos, na prática não dá para comparar os gêneros. Porém, muita gente, mesmo antes do filme nacional chegar aos cinemas, já acha que pode cravar, sim, uma vitória dele, porque Aquaman 2 “é ruim.” Mas não é, não!

Em termos de bilheteria, até o momento a produção da DC não decolou o quanto era esperado. Afinal, segundo consta, foram gastos US$ 205 milhões e, na primeira semana de exibição, a arrecadação foi de US$ 120 mi.  Ainda há expectativa que o filme se pague nos cinemas do mundo e posteriormente nos serviços de streaming, mas a própria Warner Bros/DC tem que assumir que parte do desinteresse sobre Aquaman 2 é resultado de autossabotagem.

Afinal, o todo poderoso James Gunn, ao assumir o universo cinematográfico dos quadrinhos da DC, já anunciou que irá descontinuar o título. Desta forma, muita gente nem quis ir ver Jason Momoa interpretando um personagem que, se é que será retomado posteriormente, não será o mesmo interpretado com ele.

Dizem, inclusive, que a montanha de músculos havaiana estaria cotada para fazer o papel do exagerado assassino intergaláctico Lobo, que deverá ser desenvolvido na linha do anti-herói (?) Deadpool, da Marvel. A conferir.

O fato real, porém, é que Jason Momoa novamente mandou muito bem na pele do senhor da Atlântida. Mais uma vez, o personagem mistura tiradas engraçadas e uma certa falta de noção/inteligência a pancadarias generalizadas em meio a boas cenas de ação.

E o roteiro de Aquaman 2 é cheio destas cenas, boa parte delas realizada de maneira frenética em meio a um cenário submarino – o que permitiu que o pessoal do CGI e efeitos especiais fizesse um ótimo trabalho, não só com os lugares onde se passa a ação como as criaturas.

Duas delas são referências diretas a aventuras de Aquaman nos quadrinhos e nos desenhos animados, e merecem destaque. A primeira é o divertido polvo Topo,  criado por Ramona Fradon para as HQs  em 1956. O bicho, que é muito engraçado no filme, apareceu nos quadrinhos pela primeira vez na revista Adventure Comics 229 e às vezes atuava de baba do “Aquababy” (que depois se tornou Aqualad).

No primeiro filme, Topo aparecia de maneira secundária, tocando bateria durante a luta entre Aquaman e o irmão dele, Orm. Contudo, nesta continuação o cefalópode tem bem mas destaque, ajudando Aquaman em uma missão bastante arriscada.

A segunda criatura de destaque é o cavalo marinho Tempestade, que – assim como muitos outros amigos e habilidades “inúteis” do herói – já foi razão de muita gozação ao longo dos anos.  O bicho apareceu pela primeira vez em 1965 (criação de Nick Cardy) no gibi Aquaman 23 e tinha destaque nos desenhos animados, mas sempre parecia um bichinho fofinho fora de contexto.

E sem muito sentido, já que claramente Aquaman se deslocava com mais rapidez e eficiência quando não estava montado nele… No filme,  porém, ficou com jeito de selvagem e perigoso, muito mais rápido e forte.

Antes de seguir, vale lembrar o roteiro de Aquaman 2: O Reino Perdido. Nesta aventura, que se passa anos depois do primeiro filme. Aquaman casou com Mera, teve um filho (Arthur Jr)  e afora se divide entre a família, cuidar dos mares e salvar pessoas de perigos diversos, e a administração de Atlântida – esta última tarefa é a mais enfadonha e irritante para ele.

Em paralelo, o vilão Manta Negra, auxiliado pelo cientista Stephen Shin, está em busca de tecnologia atlante para se tornar mais forte e vingar a morte do pai (de preferência matando Aquaman e destruindo tudo o que ele gosta). O Manta, porém, achará um tridente com poderes advindos de um antigo e banido rei-feiticeiro dos mares, Kordax.

Na medida em que utiliza os poderes e conhecimentos do monarca maligno, Manta também vai sendo possuído por ele. Aliás, vale aqui um parêntese: Kordax é o monarca do reino perdido que dá nome ao filme, Necrus. E este reino também vem direto das HQs de Aquaman, onde apareceu pela primeira vez em 1966,  porém nelas o monarca era outro, o tirano Mongo, bem menos assustador que Kordax.

De volta ao filme: para vencer o mal, Aquaman  vai precisar da ajuda um tanto relutante do irmão, Orm, o Mestre dos Oceanos, que no momento está preso por ordem do próprio Aquaman, depois de ter perdido o trono pra ele no primeiro filme. Por sinal, a dinâmica dos dois irmãos é um dos pontos fortes de Aquaman 2.

Por razões óbvias, a dupla vive se cutucando e Aquaman o tempo todo trola Orm, misturando ensinamentos errados – atenção à dica de alimentação, que gera o “saboroso”  pós-crédito do filme – com um amor fraterno sem noção.

O próprio herói acaba sendo “vítima” de algumas das próprias zoeiras, como no momento em que zomba do jeito que Orm corre e acaba ensinando o irmão a foma certa de fazer isso, apenas para se ver superado pelo mais velho. Ainda que com final previsível (e nada de errado nisso), o relacionamento de ambos é um dos pilares do filme e funciona muito bem graças à impecável atuação de Patrick Wilson, que merece o mesmo destaque que Jason Momoa nos créditos.

Tahya Absul Matten II, por sua vez, repete o bom trabalho que fez no primeiro filme como Manta, ainda que nesta sequência o vilão seja mais taciturno e caladão.  O restante do elenco  de apoio continua afiado, tanto o mais “sério” (Nicole Kidman como a mãe de Aquaman, Atlana; Temuera Morrison como o pai, Tom Curry; Dolph Ludngren como Nereu) quanto o apoio cômico.

Neste último caso, além do já citado polvo Topo,  destaques para Randall Park na pele do cientista pau-mandado-mas-no-fundo-boa-gente Stephen Shin, destaque para Martin Short fazendo a voz do líder do refúgio dos piratas, Kingfish. E John Rhys-Davies, muito conhecido dos fãs de O Senhor dos Anéis por ter interpretado o anão Gimli, dando voz ao engraçado Rei Crustáceo (Brine King).

E a Amber Heard?

 Depois de toda a polêmica – pra não dizer baixaria  – que protagonizou nas disputas judiciais com o ex-marido Johnny Depp, Amber Heard foi alvo de inúmeras campanhas de fãs pedindo para que fosse cortada de Aquaman 2. Houve até (muitas) artes na Internet colocando Emília Clarke, de Game Of Thrones, no papel da esposa do herói, mas a demanda por substituição não foi atendida e o diretor James Wan trabalhou com a Amber mesmo.

Contudo, é visível que a personagem foi cortada, ou melhor, mutilada do filme. Ainda que apareça e até tenha ações decisivas salvando a pele do herói, a moça praticamente entra muda e sai calada, mal aparece de perto ou em closes por tempo suficiente para que se enxergue direito a cara da atriz. Uma pena, porque Mera foi muito bem explorada no primeiro filme e poderia ser aprofundada na continuação, mas, graças à “capivara” da atriz no mundo real, acabou escanteada.

Fortão fraco

Aquaman 2 tem, sim, um ponto fraco no roteiro (opa! Se ainda não viu o filme e não quer ler spoilers, pare por aqui).

No início do longa, o herói – com a ajuda de Orm – pena para combater o Manta Negra possuído por Kordax. Ele  apanha e vê seus aliados serem surrados por mais de uma vez quando tenta impedir o vilão de explorar o elemento Oricalco (que, numa pegada muito atual de mudanças climáticos causadas por tecnologia, ameaça os oceanos e a vida de todo o planeta).

Quando depois de muita ação e aventura, a turma chega ao tal reino perdido, Kordax “despossui” Manta e pula pro corpo muito mais poderoso de Orm, aproveitando os sentimentos confusos de ira e poder que o irmão de Aquaman ainda sente em relação ao herói.

Mas acaba sendo exorcizado muito rapidamente (ainda que o motivo seja razoável e condizente com a história até então) e, quando finalmente habita o próprio corpo, no qual seria em tese ainda mais poderoso, é derrotado muito rapidamente, numa espécie de anticlímax. Pra quem joga videogame, é como se depois de muito tempo derrotando chefes de nível difíceis, o Big Boss final fosse vencido com um soquinho e ficasse aquele sentimento misto de alívio e decepção…

Mas isso, de maneira alguma, estraga o filme. Aquaman 2 é, sim, um bom programa. Mesmo sabendo que James Gunn não retomará o herói como foi concebido até aqui e que ele não será mais interpretado por Jason Momoa (ou talvez nem mesmo volta a ter aventuras solo nos cinemas por um tempo), é um filme de super-herói que vale a pena conferir.  

Agora, pra saber se Selton Melo estava certo, só mesmo aguardando dezembro de 2024…

 

 

NOTA DO CRÍTICO: Esse é bom

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