Em junho de 1983, um estranho personagem de cabelos lilases e roupinha colante fazia sua estreia no gibi Ômega Men número 3. Criado por Keith Giffen e Roger Slifer, o personagem chamava-se Lobo e era o sobrevivente de um planeta chamado Velorpia. Taciturno, ele contava que os verlopianos, pelo fato de se multiplicarem em vez de morrer, lotaram tanto o planeta que todo mundo morreu desintegrado – menos ele, Lobo.
Por algum motivo desconhecido o estranho herói caiu nas graças dos leitores e os argumentistas e desenhistas da Marvel resolveram apostar no personagem, fazendo aos poucos uma série de modificações em seu visual e história.
No final dos anos 80, graças principalmente aos argumentos de Alan Grant e aos excelentes desenhos de Simon Bisley, Lobo havia se tornado um personagem de extremo sucesso e quase totalmente diferente do seu conceito original.
Foram mantidos apenas os olhos vermelhos e o rosto branco, mas agora com algumas manchas negras que lembram a maquiagem dos roqueiros do Kiss.
As roupas também foram totalmente mudadas, passando para jaquetas estilosas geralmente de couro, calças jeans e botas, além de uma série de ganchos e correntes que ele usava com destreza para… matar. Lobo havia se tornado um sanguinário, com uma origem bem diferente da original.
Lobo também ganhou uma moto espacial e a eventual companhia de golfinhos espaciais, alguns pinguins esquisitos e eventualmente até mesmo um vira-lata, que o acompanha em algumas de suas missões sanguinolentas.
Esta, por sinal, se tornou a maior característica do personagem: histórias absolutamente cheias de violência – que incluem tiros, decapitações, mutilações e uma enxurrada de mortes, a maior parte qualquer sentido – e humor negro. Esta violência caricatural ao ponto de ser engraçada fez “O Maioral”, um de seus apelidos, ganhar milhares de fãs no mundo inteiro e um gibi próprio nos Estados Unidos.
No Brasil, Lobo teve várias histórias publicadas em revistas especiais, lançadas pelas editoras Globo e Abril, que incluíram séries como “Lobo”, “Lobo está Morto”, “Lobocop”, “Lobo e Juiz Dredd” e “Lobo e Máskara”, entre outras.
O sucesso de Lobo foi tanto que ele ganhou até mesmo uma versão para o desenho animado Superman, the Animated Series, obviamente bem mais leve já que o desenho é exibido nos EUA em TV aberta e em horários com audiência infanto-juvenil.
Enredo
Há cerca de 300 anos, havia um lindo planeta chamado Czarnia, um paraíso no qual não havia fome nem guerras nem qualquer tipo de infelicidade. Não havia qualquer tipo de violência e nem sequer existiam palavras como “briga”ou “discussão”.
Em um belo dia, no entanto, nasceu Lobo, que desde cedo já causou estrago: a própria parteira assistiu o nascimento teve uma visão de que a criança era o demônio e se tornou o primeiro caso de doença mental registrado em Czarnia em 10 milhões de anos.
No jardim da infância, Lobo bombardeou sua professora com Napalm. Aos cinco anos, causou o suicídio do diretor da escola e, ainda adolescente, criou uma raça de escorpiões alados que dizimou todo o planeta.
Restaram apenas ele – que fez isso apenas porque queria ser o único czarniano vivo – e sua professora da 4ª série, srta. Tribb, que ele veio a assassinar mais tarde – na minissérie Lobo, the last czarnian (1990), publicada no Brasil pela Globo em 1991 com o nome de “Lobo” – porque ela publicou uma biografia não-autorizada do “Maioral”.
Lobo tem força sobre-humana (já derrotou o Super-Homem em uma briga da qual não se lembra porque estava bêbado), um fator de cura que inclui capacidade de regenerar membros do seu corpo e é capaz de identificar o ponto fraco do inimigo apenas olhando para ele. Além disso, possui uma habilidade de rastreio especial que faz com que ele consiga localizar sua presa em qualquer lugar do universo e é especialista em qualquer tipo de luta e tortura.
Odeia tudo que representa bondade e Justiça e não tem nenhum caráter, mas tem um código de honra que segue à risca: se ele deu sua palavra, cumpre com ela. Por esse motivo, acabou sendo ludibriado pelo comandante da Força Policial Intergalática Legião (L.E.G.I.O.N. – Licenced Extra-Governamental Interstellar Operatives Network), Vril Dox, a cumprir tarefas para esta “polícia espacial”.
Dox também conseguiu retirar de Lobo, por processos químicos, a capacidade que o czarniano tinha de se auto-clonar. Lobo quer matar Dox por isso, mas como havia dado sua palavra de que seria leal ao comandante, não pode fazer isso.
A única maneira definitiva de matar Lobo é o desintegrando, mas tanto o Céu quanto o Inferno têm um acordo para deixar o caçador de recompensas vivo, em virtude do estrago que ele fez em ambos os lugares quando morreu uma vez (minissérie “Lobo Está Morto”, publicada em 1994 pela Editora Abril).
Aliás, nesta minissérie hilária, o personagem reencarna várias vezes em diferentes corpos, que incluem um animalzinho fofinho e uma versão feminina extremamente musculosa…
Mesmo cumprindo tarefas para a Legião sempre que requisitado, na maior parte do tempo Lobo está atrás de algum fugitivo intergaláctico e, claro, matando, trucidando, mutilando…
Personagens
Quase todos os que passaram pelo caminho de Lobo, mesmo boa parte de seus amigos, acabaram sendo mortos por ele. Assim, além do próprio “Maioral”, restaram como personagens “mais ou menos fixos”: os golfinhos espaciais e os estranhos pinguins que às vezes acompanham o herói; seu cachorro Buldogue que aparentemente se chama “Mutt”(gíria para vira-latas em inglês); a ex-namorada Ramona, que atualmente é dona de uma agência de caça-recompensas e salão de cabelereiro; Vril Dox e alguns integrantes da Legião que preferem se manter o mais distante possível de Lobo…[
Curiosidade: “irmão” do Wolverine?
Diz a lenda que a personalidade sanguinária de Lobo surgiu após uma história da DC produzida exclusivamente para tirar sarro de um dos mais populares heróis da Marvel na época, o também violento (na época) Wolverine. Brincando com o então “slogan” de Wolverine (algo como “ele é o melhor no que faz, mas o que faz não é nada agradável”), Lobo teria começado a matar tudo o que via pela frente, sem nenhum objetivo ou sentido. Os leitores não entenderam o personagem como gozação, adoraram e pediram mais.
Falando sobre o tema em 2006, Keith Giffen (um dos criadores de Lobo) seguiu uma linha um pouco diferente. Segundo ele, que afirma não ter ideia porque o personagem decolou, o objetivo era ser uma crítica a heróis – da Marvel – como “Justiceiro e o protótipo Wolverine.”
“E de alguma forma ele colou como um poster boy da violência extrema. Vai entender”, conclui Griffin, que também é criador de outros personagens como Rocket Raccoon.
Em tempo, vale lembrar que Lobo e Wolverine já se enfrentaram no crossover Marvel vs DC, no final dos anos de 1990. E por acordo das editoras, Wolverine – que na época estava com a popularidade extremamente alta – ganhou a luta. Até parece…
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