Com lançamento antecipado na CCXP 2018 e estréia para o resto dos mortais no último dia 13 de dezembro, o filme do Aquaman está lotando as sessões de cinema e dando o que falar. Trocadilhos à parte, a aventura do herói aquático está sendo vista como um “divisor de águas” dos filmes de heróis da DC Comics. Não é exagero: o filme é dos bons mesmo e é fácil identificar algumas razões pra isso.
1. Aquaman é um badass – Já tinha ficado claro no filme da Liga da Justiça que o Aquaman trazido à vida na telona é bem diferente do herói loirinho bonzinho dos desenhos de Superamigos que virou motivo de gozação como o herói mais inútil de todos os tempos no Youtube. O herói do filme, pra começar, não tem como único poder respirar embaixo d´água e se comunicar com as criaturas marinhas. Esse Aquaman tem uma tremenda força, é invulnerável à maioria das armas (pelo menos as terrestres), consegue saltar longas distâncias e cair de grandes alturas sem se machucar, e na água é extremamente veloz e ainda mais forte. É brigão e parece ser meio inconseqüente às vezes, não leva desaforo pra casa e às vezes age – e responde – sem pensar, mas no fim do dia tem a cabeça e o coração no lugar. Não desiste mesmo quando tudo está contra ele, tem um senso de humor acurado e sabe rir de si mesmo.
2. Jason Momoa…e o resto do elenco também. O cara é ator, diretor, produtor, modelo, tem 1m93 e faz um Aquaman sensacional, conseguindo misturar um jeito bruto a gargalhadas que fazem todo mundo rir junto . E, é bom dizer, interpreta muito bem: as cenas em que mostra carinho e preocupação pelo pai, o amor/culpa que sente pela morte da mãe convencem tanto quanto as cenas de ação (que não são poucas). O restante do elenco também é de primeira: Nicole Kidman manda bem como Atlana, mãe do herói (em especial no inicio do filme, nas cenas da origem do personagem), Amber Heard deu a química certa entre Mera e Aquaman, Patrick Wilson faz um Orm detestável na medida certa, Willem Dafoe faz um Vulko indefectível, Yahia Abdul-Mateen II é o Arraia Negro perfeito e por aí vai.
Ah, e há que se mencionar: Dolph Lundgren, artista marcial e ator que ficou conhecido pelos filmes de ação desde que estreou como o russo Ivan Drago em Rocky IV (e apontado como o “ator que mais matou em filmes”, com mais de mil e cem “vítimas”) está irreconhecível como o Rei Nereus, pai de Mera.
3. As referências aos quadrinhos. São inúmeras, ainda que nem todas tenham exatidão (afinal, são referências…rs).O vizir Vulko pode não ter os vastos bigodes, mas está lá. O herói acaba por vestir a roupa clássica laranja e verde, as criaturas do Fosso são as do arco Os Novos 52 (assim como o oceanologo desacreditado Stephen Shin, ainda que nos quadrinhos ele é que tenha ensinado a cultura atlante a Aquaman, e não Vulko). Aliás, a cena do salvamento do submarino russo e o primeiro encontro com o Arraia Negra também saiu direto das páginas de Os Novos 52. Os habitantes dos diversos reinos e a maior parte das armas e tecnologia do filme também saíram das HQs. Quem lê o quadrinhos, portanto, pode até não “reconhecer” a história criada pelo diretor James Wan, mas vai se sentir em casa no cinema.
4. A tecnologia atlante. Os meios de transporte dos atlantes são baseados nas formas de vida marinha, quando não são os próprios animais. Para o filme eles foram criados por computador e o resultado é de tirar o chapéu. A nave de Mera, por exemplo, é baseada em um peixe escorpião, há várias naves-arraia e por aí vai. Ainda que os tridentes sejam as armas da nobreza atlante, as armas de raio e as verdadeiras naves submarinas fazem com que as batalhas e perseguições lembrem cenas de perseguições e combates no espaço. A ideia dos bolsões de ar no meio do reino de Atlantis e as armaduras que possibilitam que os atlantes que não conseguem respirar ar se locomovam em terra firma também se destacam, assim como a forma de comunicação de Orm com o Arraia: uma espécie de holograma de água, pelo qual o vilão atravessa quando resolve ignorar o comparsa.
Aliás, a armadura do Arraia também se origina da tecnologia atlante, costumizada por ele (a cena em que ele chega a conclusão que precisará de um capacete maior, além de divertida, é uma boa explicação para a descomunal pela que o pirata usa na cabeça).
5. Fauna marinha e as paisagens – O pessoal do CGI caprichou e os cenários são deslumbrantes embaixo do mar, com show de cores das criaturas marinhas, em especial as águas vivas, tecno-cidades em meio a escombros de civilizações antigas e, não podia faltar, um navio afundado. Os tubarões que servem de montaria às tropas de Orm são bem convincentes, assim como os cavalos marinhos hardcore do rei Nereus – que, aliás, servirão de montaria a Aquaman eventualmente, reeditando de maneira cool aquela famosa cena tosca dos Superamigos em que Aquaman e Aqualad cavalgavam cavalinhos marinhos mais fofinhos. Por sinal, atente para a forma por qual Aquaman se comunica com os peixes quando está sob o mar: ela é igualzinha a do desenho animado. Os cenários fora do mar também são grandiosos – como o deserto do Saaara e a ilha onde está escondido o Tridente do Rei Atlan – ou charmosos, como a Vila Italiana pra onde Aquaman e Mera seguem em busca do tridente (pelo menos até a hora em que o Arraia encontra o casal).
6. Os vilões – Pelo menos dois merecem destaque. O meio-irmão de Aquaman, Orm, é muito bem interpretado por Patrick Wilson, passando arrogância, ambição e prepotência na medida certa. Mesmo sendo extremamente violento (aliás, Aquaman também não é flor que se cheire neste sentido, como mostra a decisão que toma logo no começo em relação ao pai do Arraia Negra). Ao mesmo tempo fica a dúvida de até que ponto Orm é apenas fruto da cultura atlante e do que lhe foi ensinado, deixando uma ponta de esperança para uma redenção do personagem. Ou não.
Já o Arraia se mostra desde o princípio um vilão para se temer. Como pirata, ele só não vence Aquaman por causa dos poderes do herói. Quando tem acesso à tecnologia atlante, porém, a história muda. A cena em que ele se reencontra com Aquaman, já devidamente paramentado, surpreende (literalmente, tem muita gente que não está esperando e pula na cadeira do cinema…). Obsessivo, o Arraia não desiste e vai com tudo para cima do herói, é um daqueles “inimigos número 1” que incansáveis e por muito pouco não dá uma surra homérica em Aquaman. E, na cena pós-crédito (sim, há uma), fica claro quem será o vilão do próximo filme…
7. É o melhor filme da DC – Não à toa, o filme superou as expectativas do estúdio e já lucrou mais de US$ 260 milhões até o dia 16 de dezembro. As famosas punch lines estão presentes nos diálogos e garantem boas risadas, os efeitos especiais são ótimos, boas interpretações, muita ação e… um roteiro coerente! Sem dúvida, melhor que o bom filme da Mulher-Maravilha e quilômetros à frente de Liga da Justiça, Esquadrão Suicida, Superman x Batman e outros filmes da era recente da DC (deverá ser mesmo um “divisor de águas” ou ao menos espera-se que sim).
Mesmo se comparado a alguns bons filmes que a DC fez antes da leva mais recente – como a trilogia de Batman estrelada por Cristopher Nolan (e Heath Leadger como o melhor Coringa ever) – Aquaman não se sai mal. Resumindo: vá assistir, que você não vai se arrepender.
Ah, sim, só pra não dizer que não falamos de flores, a cena (quase) final com o “I´m Aquaman” era meio dispensável. Podia parar na romântica cena anterior que estaria de bom tamanho. Mas vai ver que não fizeram isso porque o herói não estava nela…
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