A melhor coletânea de Maurício de Sousa. E olha que não é dele

Mundo HQ

Cinquenta obras primas. Perdoe o leitor se a adjetivação parece exagerada, mas não é comum uma releitura ser tão boa ou até mesmo superar o original, de modo que é difícil manter a impassividade ao se deparar com 50 releituras que atendem perfeitamente a esse quesito. É isso que ocorre, de maneira genial e envolvente, em MSP50 Artistas, livro que acaba de chegar às livrarias no qual cinquenta mestres do traço brasileiros homenageiam o meio século de carreira de Maurício de Sousa com histórias próprias dos personagens do mestre.

O hilário Bugu de Gustavo, do jornal Lance!: fora-de-série
Aliás, não só histórias: também há tiras, caricaturas e até mesmo uma charge – de ninguém menos do que o premiado cartunista Dalcio Machado, do Correio Popular, que faz rir com uma visão bem-humorada de Chico Bento e Zé Lelé. Dalcio, inicialmente, pensou em uma história para o Louco, mas acabou mudando para o caipira. Aliás, o segredo do resultado impecável está aí: cada artista teve total liberdade de traço e argumento para homenagear o personagem que lhe deu na telha.
O resultado vai do inusitado ao emocionante, e deixa gosto de quero mais repetidas vezes. Apenas para dar uma prévia ao leitor e já assumindo a injustiça de deixar coisa boa de fora (os cinqüenta autores são relacionados nesta matéria, mas fazer cinqüenta resenhas seria inviável), vale citar algumas histórias que se destacam.
As duas de Horácio são, sem dúvida, fora-de-série. Fã declarado de Calvin , o mineiro Raphael  Salimena inova no traço do dinossaurinho (que poderia contracenar com um Calvinossauro facilmente) e mantém toda a carga filosófica do personagem em uma história de cinco páginas na qual os grandes carnívoros resolvem seguir o exemplo do pequeno comedor de alfaces em busca de uma vida mais saudável, com resultados surpreendentes.
Já Spacca (Santô e os pais da Aviação) remete ao traço –e colorido – do próprio Maurício nos anos 60 e produz outra HQ de alto teor reflexivo, na qual um Horácio já ancião revela ao neto a única ocasião na qual comeu carne. Uma história de sacrifício, dualidade e inúmeras metáforas.  
Horácio no traço calviniano de Raphael: filosofia e inteligência
Daniel Brandão, por sua vez, faz de Mônica e Magali duas senhoras cinquentonas, que relembram no chá da tarde a infância e a juventude perdidas. Franjinha e Marina também ficam mais velhos e realistas no traço de Otoniel Oliveira, enquanto o Capitão Feio ganha uma merecida história solo sob a batuta cartunesca de Orlandelli.
Em inúmeras histórias é divertidíssimo ver as feições diferentes conferidas à turminha da Mônica na “idade real”. Destacam-se aí o a turma toda no traço de Luciano Félix; Chico Bento e Cebolinha de Julia Bax; e Cebolinha, Magali e Mônica de Ivan Reis. O brasileiro que desenha o Super-Homem e providencia um reforço de peso a um plano infalível do “galotinho” que, em determinada cena, mostra o mesmo semblante de gênio do mal de Lex Luthor.
Chico Bento no traço de Érica Awano: HQ tocante
Também há as apaixonantes e bucólicas histórias de Chico Bento nas mãos de Érica Awano (Holy Avenger ) e Vitor Cafaggi. E é impossível não se impressionar (e adorar) a versão mais underground do Penadinho feito por Samuel Casal (que ilustrou a última Graphic Novel de Zé do Caixão), se divertir com o humor inteligente de Gonsales sobre os falsos personagens e o non-sense do louco no traço de Jean Galvão.  E o telefonema de Bugu ilustrado pelo genial Gustavo Duarte, mais conhecido por suas charges e caricaturas no jornal O Lance, é de rolar de rir.
Tem ainda uma homenagem singela no traço e roteiro impecáveis de Laerte, uma história futurista de Fábio Yabu (de Princesas do Mar e Combo Rangers), Tina e Rolo em um universo com pitadas psicodélicas feito por Fábio Lyra , diversas aventuras do Astronauta (algumas em maravilhosos traços que lembram o quadrinho europeu de Moebius). Enfim, há Maurício para todos os gostos: MSP50 artistas é, sem dúvida, a melhor coletânea de Maurício de Sousa já lançada mesmo que, ironicamente, não tenha sido desenhada ou roteirizada por ele.
Laerte homenageia Bidu: história "muda" e divertida
São quase 200 páginas em papel couché, capa dura envernizada e traços diversos. O preço é salgado: R$ 98,00 (Panini Editora). Mas há que se considerar que, fazendo-se as contas, o leitor paga menos de dois reais por obra prima ali contida e aí fica barato. Até porque, terminada apreciação de MSP50 Artistas, o leitor concluirá que Maurício de Sousa é um gênio…e há cerca de 50 outros junto com ele.
MSP50 Artistas traz trabalhos de: Laerte, Rodrigo Rosa, Flávio Luiz, Gilmar, Daniel Brandão, Lelis, Antonio Eder, Cau Gomez, Lailson, Fido Nesti, Julia Bax, Orlandeli, Ivan Reis, Baptistão, Mascaro, Fábio Yabu, Jean Galvão, Raphael Salimena, Bennet, Fábio Moon, Gabriel Ba, João Marcos, Jean Okada, Otoniel Oliveira, José Aguiar, Angeli, Samuel Casal, Osmarco Valladão, Manoel Magalhães, Antonio Cedraz, Érica Awano, Luciano Félix, Gustavo Duarte. Fabio Lira, Fernando Gonsales, Vinicisus Mitchell, Fernandes, Rafael Sica, Spacca, Wander Nunes, Fabio Cobiaco, Ziraldo, Christie Queiropz, Dalcio Machado, Jo Olivbeira, Guazelli, Laudo, Marcelo Campos, Renato Guedes e Vitor Cafaggi. Todos foram organizados por Sidney Gusman.
Em tempo: nas últimas páginas há um pequeno descritivo de cada autor e um agradecimento de Maurício a todos: “Vocês deixaram a festa do meu cinquentenário de carreira mais colorida e brilhante”, diz o pai da Mônica. Que ninguém tenha dúvida disso.

A charge bem-humorada de Dálcio

Personagens quarentões de Daniel

Cebolinha a Lex Luthor de Ivan Reis

Cebolinha e Chico de Júlia

O Capitão feio do Orlandelli

O vovô Horácio de Spacca

Rolo e Tina de Lyra

Astronauta a la Moebius de Campos e Guedes

Chico Bento bucólico de Vitor Cafaggi

O divertido louco do Jean

Magali, Franja, Cebola e Cascão futuristas do Yabu

Gonsales e a Mônica falsa

Turminhha de Luciano Felix

Penadinho e Cranicola do Casal

Marina e Franja do Otoniel

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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