Calvin (Calvin and Hobbes)

Por volta de 1984, o cientista social William “Bill” Watterson foi demitido do Cincinatti Post, em Ohio (EUA), onde trabalhava como cartunista, e resolveu se dedicar às histórias em quadrinhos. Em uma de suas primeiras tentativas, Bill Watterson bolou uma tira sobre um rapaz que acabava de sair da universidade e, em uma das cenas, aparecia o irmãozinho do personagem: um garotinho loiro sem nome, que andava pela casa arrastando seu tigre de pelúcia.
Assim surgiu Calvin, um personagem secundário que logo roubou a cena. A tira de Watterson, no entanto, não foi aceita logo de cara pelos syndicates (distribuidores de quadrinhos paa os jornais estadunidenses) e ele teve de insistir até ver a primeira tira de Calvin (no original, Calvin and Hobbes) publicada, em 18 de novembro de 1985.
Inteligente, criativo e carismático, Calvin recebeu seu nome em homenagem a Calvino (filósofo e teólogo francês do século XVI que foi uma das figuras chaves na reforma protestante) e o amigo tigre, Haroldo (Hobbes), foi batizado em referência a Thomas Hobbes, filósofo britânico do século XVII).
Watterson teria escolhido estes nomes por acreditar que os dois foram os grandes responsáveis pelos conceitos religiosos e morais americanos, que muitas vezes são colocados em xeque nas tiras.
Calvin era  a tira favorita de dez entre dez leitores do gênero quando, em 1995,  Watterson declarou estar “cansado de acordar todos os dias pensando no que Calvin iria fazer” e anunciou a aposentadoria da tira – muitos viram na atitude do quadrinista uma resposta às pressões para comercializar os direitos do personagem em produtos de licensing, algo que ele sempre se recusou a fazer, mas o autor, avesso a entrevistas, nada confirmou.
Quando Watterson anunciou o fim da tira, Calvin era publicado em 2,5 mil jornais apenas nos Estados Unidos e em centenas de outras publicações de mais 13 países, entre eles o Brasil. O autor recebia, com o personagem, cerca de US$ 1 milhão anuais.
Ainda hoje as tiras de Calvin são republicadas por diversos jornais (inclusive brasileiros), estão disponíveis em coletâneas publicadas por editoras diversas e podem ser vistas e revistas na Internet, onde há sites e até mesmo perfis de Instagram dedicados às aventuras do garoto. Também já surgiram homenagens e novas versões da história, até mesmo com Calvin adulto e pai de uma menina chamada Bacon.
Enredo
Calvin é um garoto de seis anos hiperativo que vive aventuras domésticas com seu tigre de pelúcia, Haroldo, que ganha vida quando está sozinho com o garoto. Os dois são melhores amigos e adoram pregar peças nos outros. Com uma imaginação sem limites e um vocabulário sofisticado para um garoto, Calvin ironiza – mais que isso, é sarcástico em relação aos – costumes, crenças, morais, instituições e relacionamentos tipicamente americanos.
Se Calvin é sarcástico e muitas vezes cruel, Haroldo, por outro lado, é irônico e altamente filosófico, o que dá um contraponto à história – mas não impede que os dois briguem em suas reuniões de clubinho para decidir quem tem mais poder, o “supremo ditador para toda a vida” Calvin ou o “primeiro tigre” Haroldo.
Calvin adora dar dor de cabeça a seus pais, que têm bastante trabalho para educá-lo. O pai eventualmente “se vinga” dando explicações nada claras sobre fenômenos naturais ou brincando com assuntos “sérios” como o presente de Natal que não virá, ou ainda levando o garoto para viagens de camping e atividades “que constroem o caráter”, o que dá ainda mais dor de cabeça à pobre mãe.
Calvin adora ainda pregar peças e deixar enojada a coleguinha de escola e vizinha Suzie Derkins. E, por falar em escola, o garoto deixa louco a professora, senhorita Wormwood (batizada em homenagem a uma demônio aprendiz de um conto de C.S. Lewis), graças à farta imaginação e criatividade imensurável que ele raramente aplica aos estudos – e também por causa de perguntas capiciosas em relação ao sistema de ensino estadunidense. Ainda na escola, Calvin sofre com o gorilão Moe, o típico valentão do colégio.
Personagens
Além dos personagens já citados acima, Calvin usa sua imaginação superativa para “se transformar” em uma série de personagens imaginários, sempre que está sozinho em casa ou se vê em alguma situação interessante. Confira abaixo os principais:
Homem Estupendo – Quando tudo parece impossível, Calvin veste seu gorro e capa e se transforma no Homem Estupendo, um super-herói com força suficiente para destruir a escola, resolver uma prova difícil em segundos (sem necessariamente acertar alguma coisa) ou ainda enfrentar suas arquiinimigas, Lady-Mãe e Mulher-Babá.
Cosmonauta Spiff – Sempre que é forçado a fazer alguma coisa, o pestinha se imagina como o intrépido viajante espacial. A senhorita Wormwood, os pais e o valentão Moe viram os horrendos Zorg, dos quais Spiff tenta escapar ou desintegra com sua arma de raios.
Detetive Tracer Bullet (Bala Rastejante) – Quando uma questão na prova é muito difícil ou é preciso descobrir quem quebrou o vaso da mamãe, entra em cena o investigador Tracer Bullet, capaz de solucionar até os crimes insolúveis…
Supremo Ditador para Toda Vida Calvin – É o melhor e mais condecorado oficial do clube L.M.G. (Livre-se das Meninas Gosmentas). Ou seria o Relator e Primeiro Tigre Haroldo?
Tiranossauro Calvin ou Calvinossauro – Se os meninos estão ficando muito tempo no escorregador e a fila é grande ou é hora de uma visita ao super-mercado, cuidado: um terrível dinossauro pode comer a tudo e a todos.
Curiosidade  – Ele não é meu filho
A maioria das pessoas pensa que Calvin é baseado em um filho de Bill Watterson ou então na infância do autor. Nenhuma das duas coisas é verdade. “Não tenho filhos e eu era um garoto muito quieto e obediente, quase o oposto de Calvin. Na verdade, uma das razões pelas quais eu achava divertido escrever Calvin é que constantemente eu não concordava com ele”, diz.
E complementa: “Calvin é autobiográfico se considerarmos que ele pensa nas mesmas questões que eu, mas nesse sentido ele reflete mais minha idade adulta que minha infância. As brigas dele são metáforas das minhas. Suspeito que a maioria de nós fica velho sem realmente crescer e dentro de cada adulto (em alguns não muito dentro) há sempre um garoto mimado que quer tudo do seu jeito. Eu não gostaria de ter Calvin em casa, mas no papel ele me ajuda a pensar a minha vida e defendê-la”. Já Haroldo é baseado, ao menos visualmente, em uma gata que Bill Watterson tinha, chamada Sprite.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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