Djota Carvalho
O primeiro trailer completo de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, divulgado pela Marvel nesta quinta-feira (17/4), trouxe muita empolgação, novidades, easter eggs e possíveis pistas para o futuro do Universo Cinematográfico Marvel. E trouxe também as primeiras imagens, até então inéditas, da Surfista Prateada.
Apesar de o elenco do filme ter sido divulgado em fevereiro do ano passado, muita gente sequer havia atentado para o fato de que o personagem, originalmente um homem do planeta Zenn-La, seria interpretado pela (excelente) atriz Julia Garner. Até porque no trailer que a Marvel soltou em fevereiro deste ano (praticamente um teaser de 1m30 perto deste, que tem quase 3 minutos), não havia nem sombra de arauto de Galactus.
Na peça que tomou as redes de assalto nesta semana, porém, tem Surfista de sobra. A personagem aparece não só na clássica função de anunciar ao planeta que ele está prestes a ser consumido pelo gigantesco devorador de mundos, como em uma belíssima sequência surfando em meio às chamas do Tocha Humana, sobrevoando Nova York, em frente a um telão como próprio rosto e por aí vai.
E pelas cenas já dá pra notar que os efeitos especiais estão bem caprichados, que a atriz ficou bem caracterizada com a cobertura prateada (ou dourada, dependendo do reflexo) e os movimentos na prancha parecem bem fluídos, um alívio para quem se lembra da falta de capricho dos efeitos em tempos de pandemia.
Também ressurgiram nas redes alguns comentários indignados em relação à troca de gênero do Surfista Prateado – a mudança de sexo ou mesmo de etnia, diga-se, é algo bem comum na transposição de quadrinhos para o cinema. Vale lembrar, inclusive, que em uma das outras quatro (!) malfadadas adaptações do Quarteto para as telas, Johnny Storm – o Tocha Humana- passou a ser um homem negro, interpretado pelo ótimo Michael B. Jordan.
Dentre estas críticas, porém, há fãs do personagem original, criado por Jack Kirby em 1966. Norrin Radd, este é o nome dele, era um astrônomo do planeta Zenn-La que ofereceu a própria vida a Galactus em troca do ser cósmico não destruir o planeta e, principalmente, da amada Shalla-Bal. O devorador de universos, então, transforma Norrin no Surfista e o manda na frente para identificar planetas que serão consumidos e avisar sobre a iminente chegada dele.
O Surfista sempre foi mais cult do que pop, graças a reflexões e pensamentos filosóficos que tinha em especial quando cruzava sozinho a imensidão do espaço sobre a prancha, mas construiu uma legião fiel de fãs entre os leitores de quadrinhos, em especial nos anos de 1970 e 1980.
E estes fãs ficaram bastante chateados por não verem Norrin naquele que acham (provavelmente com razão) que será o primeiro bom filme da família 4F. Os roteiristas Josh Friedman e Jeff Kaplan, porém, optaram justamente pela namorada de Norrin, Shalla-Bal, para ser a Surfista.
Na maioria absoluta dos quadrinhos, ela permaneceu no planeta, onde se tornou imperatriz e ganhou um poder especial dado pelo próprio arauto, de despertar vida por onde passa. Porém na série Terra X, publicada em 1999 tendo como foco um universo Marvel distópico em relação ao tradicional, Shalla-Bal era efetivamente a Surfista.
A escolha pela personagem, portanto, pode não ter sido aleatória: a ideia aqui talvez seja reforçar que o universo do filme é diferente daquele que o público vinha acompanhando nos outros filmes do chamado MCU. Fato, aliás, já confirmado pelo diretor Matt Shakman e que fica patente no trailer.
No mundo de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não há outros heróis além de Reed Richards, Sue Storm-Richards, Johnny Storm e Ben Grimm (ou Sr. Fantástico, Mulher-Invisível, Tocha Humana e Coisa). É exatamente isso que você leu. Aqui não há Homem-Aranha, Viúva Negra, Thor, Capitão América, Miss Marvel, Pantera Negra, etc.
O panteão de supers deste universo se resume aos quatro, que são verdadeiras celebridades e não apenas por serem heróis, bem, fantásticos, mas também porque a genialidade de Reed Richards transformou esse mundo em uma espécie de utopia jetsoniana (sim, estamos nos referindo às tecnologias do desenho Os Jetsons, que parecem ter inspirado boa parte dos visuais do filme).
O cenário e a riqueza de detalhes, aliás, saltam aos olhos já no trailer. Estruturas, decoração, veículos, roupas, tudo tem um ar “retrôfuturista”. O objetivo do filme é fazer uma referência clara aos anos de 1960, quando surgiu o Quarteto nos gibis (mais precisamente em novembro de 1961), e ao mesmo tempo deixar claro que o bucolismo se mistura com a tecnologia mais moderna possível.
Neste cenário, os integrantes do Quarteto, que têm a história conhecida por todo o planeta, são verdadeiros popstars. Aliás, há cenas icônicas neste sentido, que vão muito além do poster do action figure do Coisa nos braços da menininha já amplamente divulgado no ano passado.
Adorados pelo público e pela mídia, o Quarteto participa de um programa de TV estilo Ed Sullivan, um dos mais famosos da TV estadunidense nos anos de 1960. Ocorre que, na vida real, outro quarteto fantástico participou do verdadeiro Ed Sullivan: os Beatles. E uma das cenas dos 4F remete visualmente à participação de John Lenon e companhia naquele programa.
Por sinal, o capricho nos detalhes é gigantesco. Nas cenas do centro da cidade é possível identificar filmes e referências da década de 1960 nas propagandas, lojas e cartazes do comércio. Há homenagens “escondidas” em vários lugares, como, por exemplo, em uma caixa de cereais que Johnny Storm pega para comer. A imagem do Tocha Humana no verso da caixa reforça que os 4F são celebridades, mas um olhar atento revela que aquela imagem é uma ilustração original do criador Jack Kirby.
E há mais, muito mais. Houve quem estranhasse, por exemplo, que o Coisa aparece de uniforme longo, quando nas HQs quase sempre está apenas de shorts. Mas nas primeiras histórias em quadrinhos o personagem utilizava roupas cumpridas e até mesmo um capacete – “para não assustar as pessoas com seu visual grotesco” – até que se cansou daquilo e rasgou tudo.
A cena com o simpático robô H.e.r.b.i.e (que surgiu primeiro nos desenhos animados em 1978) cozinhando com o Coisa também tem uma homenagem, mas ao ator. Apesar de as receitas escritas à mão provavelmente serem da Tia Petúnia, constantemente citada pelo personagem nas histórias, aqui a brincadeira parece ter sido com o fato de Ebon Moss-Bachrach, que interpreta Ben Grimm no filme , também fazer arte do seriado The Bear, que foca o mundo da gastronomia.
Impossível não citar ainda uma outra homenagem clara envolvendo o Coisa. Em uma cena que (mais uma vez) reforça o status de celebridade do Quarteto, um grupo de crianças vibra e pede para que ele levante um carro, mas especificamente um Fusca Verde. A cena é icônica e foi protagonizada pelo Superman na capa da revista Action Comics número1, de 1938, que marcou a estreia do primeiro super-herói dos quadrinhos.
Por falar em carros, eles são outro detalhe retrôfuturista do filme, todos misturando modernidade com visual antigo. Inclusive o Fantasticarro, com design muito melhor que a caixinha flutuante das HQs.
Pistas e sombras
O trailer desta semana também traz muitas imagens aguardadas pelos fãs, entre elas as do Quarteto usando os poderes. Assim é possível ver Sue ativando um escudo/barreira invisível e o Tocha Humana voando em chamas (e se apagando e caindo na clássica cena em que persegue a Surfista até o espaço).
Também há o momento tanque-de-guerra desembestado do Coisa derrubando pilares de um prédio em corrida para salvar alguém e o Sr. Fantástico se esticando inteiro (mais uma vez, uma indicação de que os efeitos ficaram bons).
Ainda não dá pra saber como Galactus ficou, mas a julgar pela sombra cobrindo Manhattan e os pés gigantescos caminhando pela- e destruindo a- cidade, no melhor estilo Godzilla, a coisa promete.
Também há no trailer uma revelação que está gerando especulações entre os fãs. Em determina cena, a Mulher-Invisível revela que está grávida. Em primeiro lugar, isso reforça o diferencial destes quatro personagens, o fato de serem e agirem como uma família, a primeira família de supers surgida nos quadrinhos.
O que está deixando os fãs com a pulga atrás da orelha, porém, é que nos quadrinhos Sue e Reed têm um casal de crianças e o mais velho, Franklin Richards, é basicamente um dos seres mais poderosos do universo, com a capacidade de – até – criar novos universos.
No final da série Guerras Secretas (Secret Wars , lançadas nos quadrinhos em 1984, por exemplo, é Franklin quem (re)cria o Multiverso. E os próximos dois filmes dos Vingadores serão justamente Doomsday (2026) e…Secret Wars (2027).
E tem ainda mais algumas especulações, que envolvem justamente como o Quarteto Fantástico (e de tabela o vilão Dr. Destino, interpretado por Robert Downey Jr) chegará até o universo regular. Em uma das cenas, Reed Richards diz “É minha culpa, eu estiquei os limites do espaço.”
Há quem ache que de alguma forma ele teria aberto pontos de comunicação entre os diversos universos, o que geraria as famosas incursões, onde dois universos começam a se sobrepor e apenas um sobrevive. Porém há outras indicações interessantes no trailer: muita gente notou que na cena em que Reed aparece rabiscando fórmulas na lousa há um desenho de um “buraco de minhoca”, uma ponte entre universos.
E como há uma cena com uma nave e um planeta sendo destruído, especula-se que o Sr. Fantástico efetivamente tenha criado um portal e:
a) Atraído Galactus para o universo dele;
b) Saído da Terra que habita para “dar uma volta” para ver o que Galactus fez a outros planetas e posteriormente o Quarteto saia do universo que vive para alertar outros universos das versões de Galactus de cada um deles;
c) Ou não conseguirá derrotar Galactus e a cena mostrada seja da própria Terra deles destruída, com os quatro indo para outros universos em busca de salvação (e alertando contra os Galactus de outros universos – “o que abriria também as portas para outros Surfistas e quem sabe um Norrin Radd”, clama o fã-clube).
Especulações e possibilidades à parte, um fato é inegável: o trailer de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos empolgou quem gosta de filmes de super-heróis – e até alguns que não gostam – e aumentou exponencialmente a expectativa para a estreia, em julho deste ano. Aparentemente, vai ser fantástico!
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