Que Nostradamus, que nada! Flash Gordon, Jetsons, Simpsons: como os quadrinhos e desenhos animados previram o futuro

No último dia 14 de agosto de 2020, ao comentar – no programa CBN – Conexão Campinas-São Paulo –  o fato de que Campinas deverá ser a primeira cidade do país a receber a entrega de alimentos por drone (a Agência Nacional de Aviação Civil autorizou o iFood a oferecer o serviço), os âncoras Flávio Paradella e Roberto Nonato relembraram o desenho animado os Jetsons. Lançado pela Hannah Barbera em 1962, este clássico da animação antecipou, como lembraram os jornalistas, diversas tecnologias, entre elas algumas muito em voga nestes tempos de pandemia, como as teleconferências.

Pois é, George já trabalhava em Home Office (muitas vezes inadvertidamente, quando o senhor Spacely interrompia o descanso sagrado do patriarca da família Jetson) bem antes do termo ser popularizado. E nem de longe foi só isso: o desenho criado no ano de 1962 antecipou coisas como o smartwacth, a TV de tela plana, o jornal digital e até a esteira para cachorros !

Na verdade, ser visionário parece fazer parte da vida de histórias em quadrinhos e desenhos animados. Nas últimas décadas, inúmeras tecnologias e acontecimentos diversos foram previstos nos gibis e nas telinhas (muitos deles sem que muitas vezes as pessoas notassem). Mas os fãs perceberam, claro.

Flash Gordon, criador de foguetes e laptops

Publicado pela primeira vez em 7 de janeiro de 1934, Flash Gordon se tornou um dos mais famosos heróis de ficção científica dos quadrinhos. Publicado inicialmente em tiras pelo desenhista Alex Raymond (o criador as desenhou até 1943, sendo substituído depois por diversos outros profissionais), as histórias do herói espacial, da namorada Dale Arden e do vilão Ming, o Impiedoso se espalharam pelo planeta inteiro. Também viraram desenho animado, filmes, jogos, paródias, o pacote completo.

Mas Flash Gordon também previu o futuro.  Diz a lenda – e a Nasa não confirma nem desmente – que a HQ era lida por lá e até ajudou a agência a resolver um problema fundamental: a aerodinâmica e o lançamento vertical de foguetes. De fato, muitos dos foguetes lançados anos depois pela agência espacial eram extremamente parecidos com os das histórias de Alex Raymond. Mas a coisa foi ale: nas histórias do herói havia um  veículo que entrava e saía da atmosfera com a mesma facilidade com que aviões decolam e pousam. Ou seja, Flash Gordon antecipou os ônibus espaciais.

A  previsão mais impressionante das HQs do herói, porém, só foi notada em 2019 por um fanático da Macedônia. Mende Petreski,  um colecionador fissurado por Flash Gordon, estava relendo uma de suas revistas quando notou uma tira datada do final dos anos d 1930  – publicada por lá em 1974 – na qual os soldados de Ming, o impiedoso, usavam um LAPTOP para se comunicar com o tirânico líder.

Na história – chamada  Outlaws of Mongo (de autoria de Alex Raymond e Don Moore, publicada nos jornais americanos entre 15 de agosto de 1937 e 5 de junho de 1938) – os subordinados do vilão utilizam um equipamento  que é visualmente idêntico a um notebook, algo que não se parecia com nada existente na época. O primeiro laptop seria criado em criado em 1981, mais de 40 anos após a tira ter sido elaborada e desenhada pela dupla de “futurólogos” Raymond e Moore.

Tradução dos diálogos da tira encontrada na revista de 1974, com texto em sérvio: “Nossa infantaria ficará na cobertura até que os foguetes silenciem os carros blindados rebeldes, comandante” – “Mantenha-nos informados sobre o andamento da operação, major!”

George Nostradamus Jetson

Em termos de previsão de tecnologia futura, nada é mais impressionante que o desenho dos Jetsons, lançado em 1962 pela dupla William Hanna e Joseph Barbera. A história mostrava as aventuras cômicas de uma típica família americana em um futuro longínquo.

Para ambientar o futuro, os criadores do desenho inventaram um monte de tecnologias “malucas” que imaginaram que o homem criaria. E, nos 75 episódios das três temporadas originais, acertaram na mosca em muitas delas!  Aliás, pode ser que ainda acertem outras, já que ainda faltam algumas décadas até 2062, ano em que a série era ambientada.

Confira algumas das previsões que o desenho acertou:

TV de Tela Plana

A primeira TV de tela plana foi lançada no mercado em 1997, em conjunto pela Sharp e pela Sony, tinha 42 polegadas e custava 15 mil dólares. Mas já no primeiro episódio dos Jetsons, em 23 de setembro de 1962, quando os televisores do mundo real eram grandes caixas com pequenas telas, George, Jane, Judy e Elroy já tinham uma bela flatscreen na sala de estar.

Smartwatches

Em abril de 2015, a Apple lançou o primeiro Apple Watch, um moderno relógio de pulso contendo diversas funções de um smarphone.  Mas no episódio 24 da primeira temporada dos Jetsons (Elroy´s Mob), levado ao ar em março de 1963, um colega de escola do garoto já usava  um moderno relógio de pulso cheio de funções não só para se comunicar como também para, por exemplo, assistir televisão. Em um engraçado exemplo de metalinguagem, o garoto estava assistindo a um episódio de outro clássico da Hanna Barbera, os Flintstones, enquanto o professor dava aula.

Comida “impressa” apertando botões

Qualquer tipo de comida a um simples toque de botão. Nos Jetsons, a máquina “ Food-a-Rac-a-Cycle” consegue produzir ovos, bacon, leite, pizza e muito mais, a escolha do usuário. E aparentemente está é mais uma previsão de futuro feita pelos Jetsons, afinal meados de 2016 abriu o Food Ink, um restaurante itinerante onde os clientes imprimem a comida! No cardápio estão doces e salgados, contendo opções como homus, massa de pizza e até mousse de chocolate.

Aliás, não só a comida é “feita” na hora: talheres, pratos e outros utensílios para a refeição são feitos também na hora em impressoras 3D. Por enquanto, a “experiência gourmet” parece estar longe de se tornar acessível (o prelo de um jantar para quem foi a Londres experimentar as iguarias na abertura era de 270 euros), mas como ainda tem tempo até o ano de 2062 no qual viviam os Jetsons, quem sabe até lá?

Pílula-Câmera

Em 30 de dezembro de 1962, no episódio Pilot Test, George Jetson precisava fazer um check-up e o médico, Dr. Lunar, deu a ele uma minúscula pílula robótica (no desenho chamada de Peekaboo Prober). A pilula viajaria por dentro do corpo do personagem, fazendo um checkup por meio de filmagens que o médico podia conferir em uma tela no consultório.

Mais uma previsão certa: em 2004 a empresa Given Imaging desenvolveu a PillCam, que faz exatamente a mesma coisa. Por enquanto, ela é restrita a endoscopias/avaliações do intestino delgado, ajudando os profissionais de saúde a detectar a presença de lesões, detecção precoce de doença de Crohn.

Teleconferências

Videofones de todos os tipos começaram a aparecer em obras de ficção científica já no final dos anos de 1920 (no filme mudo Metrópolis, de 1927, o cineasta Fritz Lang já mostrava ao mundo uma máquina enorme pelo qual os personagem se comunicavam com vídeo) . Mas George Jetson foi provavelmente o primeiro a fazer teleconferências.

Muito antes do mundo descobrir o zoom ou outros aplicativos tão necessários em tempo de Home Office e Pandemia,  ele já fazia reuniões de trabalho com o senhor Spacely – e até mesmo com o rival do patrão, o senhor Cogswell.  Aliás, as teleconferências com a família e amigos também eram bastante comuns nos diversos tipos de videofones existentes na série, que incluíam inclusive “orelhões com vídeo-chamada”:  o videofone público era chamado de Visaphone. E, sim, permitia chamadas a cobrar.

Drones

Já na abertura utilizada no primeiro desenho, saem do carro voador de George Jetson pequenas aeronaves comandadas a distância que transportam os filhos e a esposa dele até onde foram programados. Essas cápsulas voadoras  não deixam de ser drones. Opa, mas drones não levam pessoas. Quem disse?

No início de 2018, a China já levou a público o primeiro drone de passageiro, movido a energia elétrica e com autonomia de vôo de 23 minutos a 60 km/hora. Inúmeras empresas também estão trabalhando em protótipos de carros voadores (a chinesa Didi, por exemplo, é uma das que está pesquisando um modelo) e flying pods, as cápsulas voadoras, podem substituir os atuais drones em alguns anos.  Quem imaginaria? Os Jetsons, claro.

 Esteira para cães

Como vivia em um prédio acima das nuvens e sem quintal, a família Jetson dispunha de uma esteira para que George levasse o engraçado cachorro Astro para se exercitar com um passeio. As esteiras para seres humanos , criadas em 1913, haviam começado a se popularizar nos anos 60 – e, sim, um sujeito meio maluco chamado John Richards já havia patenteado uma esteira canina que usava rodas de bicicleta em 1939. Mas as esteiras eletrônicas para cachorros sem espaço (e para donos sem tempo e local adequado ara passeio) só surgiram – se se popularizaram – nos anos 2000.

Jornais digitais

O primeiros jornais on line surgiram em 1980(notoriamente, o Columbus Dispacth, em julho daquele ano, pelo sistema de conexão discada CompuServe). Já as versões em PDF, na qual você abre o jornal igual ao impresso em PDF ou outro arquivo similar, são um onvento dos anos 2000. Os Jetsons, claro, previram isso. Em diversos desenhos dos anos de 1960 George lia o seu jornal “impresso” numa tela de TV na sala de estar.

Jet Pack

Vale lembrar ainda que o garoto Elroy usava constantemente seu Jet-Pack para ir a escola ou a casa dos amigos, porém esse equipamento já existia na época do desenho. Ainda que não tenha se popularizado e que no mundo atual existam poucas e caras opções – a empresa Jetpack Aviation recentemente anunciou, por exemplo, que seu mais novo modelo, o JB10, está sendo lançado com autonomia de vôo para pouco mais de dez minutos (com velocidade máxima de 160km/h e capacidade de vôo numa  altura superior a 3 mil metros do solo). O primeiro Jetpack voou nos EUA, com grande estardalhaço e interesse do público, em 1961.

Em tempo: os Jetsons também previram – em diversos episódios –  um sistema similar à Internet (no qual dados sobre qualquer tema eram acessados pela TV), aulas em vídeo, hologramas hiper-realistas, turismo espacial (te cuida, Elon Musk!) e, bem, roupas estranhas de neopreme…

 

Até Donald Trump: as assustadoras previsões dOs Simpsons

Se em termos de prever tecnologia os Jetsons são imbatíveis, quando se trata de antecipar acontecimentos anos antes que eles aconteçam os Simpsons são impressionantes. O desenho criado em 1989 por Matt Groening coleciona uma lista crescente de acertos desconcertantes nas últimas décadas.

Quem poderia, por exemplo, imaginar com dezesseis anos de antecedência que Donald Trump se tornaria presidente dos Estados Unidos? Em 2000, em um episódio que ironicamente  mostra o futuro dos personagens (Bart to the Future),  Lisa se tornou presidente da República. Eis que, em uma reunião de staff, ela se queixa de um de seus antecessores: “Como você sabe, herdamos uma crise orçamentária de Presidente Trump.” E eis que, em 2016, Donald Trump venceu as eleições! E ninguém se surpreenda se ele deixar uma crise orçamentária de herança…*

Siegfried & Roy 

Uma das primeiras “previsões” dOs Simpsons a chamar a atenção “foi feita” em 1993, no episódio $pringfiel (Or, How I Learned to Stop Worrying and Love Legalized Gambling). Nele o patrão de Hommer, o sr. Burns, abre um cassino na cidade e contrata uma dupla de mágicos inspiradas abertamente na dupla da vida real Sigfried & Roy – que costumava se apresentar nos cassinos de Las Vegas na época.

Assim como na vida real, os dois mágicos do desenho – Gunter e Ernst – fazem uma apresentação com um tigre branco. O episódio foi ao ar em 16 de dezembro de 1993 e, em determinado momento dele, Gunter é atacado por sua tigresa, Anastasia. Uma década depois, durante uma apresentação em 2003, um dos artistas veradeiros, Roy,  foi atacado pelo tigre Montecore. A mordida no pescoço atingiu vários nervos do mágico e o impossibilitou de andar por quase três anos – Roy faleceu em maio deste ano de 2020, aos 75 anos, em decorrência de infecção por coronavírus (Covid19).

Ainda na década de 1990, Os Simpsons previu o mercado negro de graxa (que surgiria com a vindoura crise do petróleo em 2008) e, em outro episódio (When you wish upon a star, de 1998) fez uma brincadeira (?) que se tornaria real quase duas décadas depois, em 2017: a aquisição da Fox pela Walt Disney Company.

Já em 2005, no episódio Midnight Rx, Homer e Ned Flanders vão ao Canadá onde são informados pelo sósia do vizinho dos Simpsons que a maconha estava legalizada naquele país – o que viria a se tornar real em 2018.

Prêmios Nobel e Lady Gaga

Em 2010, os Simpsons previram o futuro em pelo menos duas vezes distintas. Logo no primeiro episódio da temporada, Ementary School Musical, Lisa e os amigos fazem um bolão para ver quem ganhará o prêmio Nobel e dois nomes são cravados nas apostas: os do professor de economia finlandês do MIT Bengt Holmstrom e do químico Ben Faringa. Seis anos depois, em 2016, ambos venceram.

Já em “Boy Meets Curl”, Hommer e Marge integram o time nacional de Curling (aquele esporte olímpico que parece uma espécie de jogo de bocha com vassouras no gelo) e ganham a medalha de Ouro, deixando a Suécia em segundo. Bingo: o  fato se tornaria real nas Olimpíadas de Inverno em 2018 (sem o casal no time, claro).

Por fim, outra previsão que se confirmou ocorreu em 2012, no desenho Lisa goes Gaga, em que a cantora Lady Gaga aparece sobrevoando os espectadores em um show. A mesma cena viria a ocorrer na vida real em 2017, numa apresentação do Super Bowl.

Menções honrosas

Em 2014 foi lançado o Google Glass, um acessório em forma de óculos que possibilita a interação dos usuários com diversas informações e conteúdos em realidade aumentada. Ao menos no visual, teve quem achasse que o equipamento foi “previsto” pelo mangá Dragon Ball, no qual os sayajin usam scouters para ver o informações sobre seus adversários, em especial para medir o poder deles.

A série de Akira Toryiama foi lançada em 1984 e o personagem Vegeta surgiu  usando o acessório já na primeira aparição no gibi, em 1988. Se foi uma previsão estética ou não, que o leitor decida. Mas os fãs garantem que no papel o scouter é muito melhor que o Google Glass.

Outra previsão de acontecimento futuro ocorreu na quarta edição de X-Force, em 1991, quando um ataque terrorista atinge as Torres Gêmeas, dando fim a inúmeras vidas inocentes dez anos antes do 11 de setembro, Nos quadrinho, porém, o ataque não foi desferido por aviões sequestrados em sim, pelo vilão Fanático, que colocou abaixo os dois edifícios.

Por fim, vale mencionar ainda que há uma HQ na Action Comics de 1944 na qual o Super-Homem lida com uma bomba atômica – e o governo dos Estados Unidos inclusive pediu à editora que não publicasse a história naquela época, antes dos ataques a Hiroshima e Nagasakiem agosto de 1945 (ela acabou sendo publicada na Action Comics 101, em 1946). Contudo, apesar de ainda não terem sido usadas em 1944, há quem diga já havia informação o suficiente para se fazer uma história antecipando uma. Será?

Mas afinal, como os gibis e desenhos prevêem o futuro?

Algumas previsões de quadrinhos e desenhos animados se mostram tão assustadoramente certas que a pergunta é inevitável: como, ou por que, isso ocorre? Há quem acredita que algumas informações estão no inconsciente coletivo da humanidade e essas mídias acabam de alguma forma as captando e trazendo ao público.

Mas há explicações menos esotéricas. No caso dos foguetes de Flash Gordon, por exemplo, ainda que o primeiro lançamento de foguete especial tenha ocorrido em 1957, o uso de foguetes como propulsão para flechas já ocorria na China desde pelo menos 1380 e a ideia de foguetes esspaciais já estava presente na obra de Júlio Verne e outros grandes.

O visual desenvolvido por Alex Raymond pode ter se baseado em tudo o que tinha a mão somado à própria criatividade. E diversos cientistas da Nasa À época da Corrida Espacial “confessaram”, anos mais tarde, que eram fãs de Flash Gordon, ou seja, quando começavam a fazer seus projetos muitos se inspirava no que viram na infância para fazer a realidade.

Isso, por sinal, explica a maioria absoluta dos equipamentos dos Jetsons. Os autores inventavam coisas que gostariam de ver usando como base invenções que já existiam e as gerações de futuros gênios que cresceram assistindo os Jetsons os levaram como base para as próprias criações na vida real depois.

A teoria parece plausível, mas como explicar o laptop nas tiras dos anos de 1930? Na verdade, não há nada nas tiras de Flash Gordon que prove que o equipamento dos soldados de Ming era algo além do que um rádio no formato de um notebook.  O layout antecipado em décadas talvez tenha sido um simples erro de desenho ou uma concepção de design aparecendo tempos depois como mera…coincidência.

Isso, aliás, é o que alegam os roteiristas dos Simpsons quando questionados sobre seus acertos nas previsões. Foi o que disse um deles, Al Jean, em entrevista a BBC: “As pessoas podem não acreditar, mas é pura coincidência. No caso de Trump em 2000, procuramos uma celebridade que pudéssemos usar como presidente. Mas naquela época, ele já havia dito que concorreria a cargos públicos no futuro.”, completou.

Visão, inspiração, coincidência, inconsciente coletivo, futurologia. Qualquer que seja a resposta, se é que há uma, não deixa de ser impressionante o número de acertos registrados. Como diria o Bardo, “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”. Mas não mais do que sonham os autores de bons quadrinhos e desenhos animados.

 

*Nota da redação: Donald Trump foi reeleito em 2024 e ninguém mais se surpreende com nada 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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