Apareceu a margarida, ou melhor, Mefisto! Mas nem ele salva Ironheart

Uma pessoa mais religiosa pode dizer, ao ler o título deste texto, que realmente Mefisto (o capeta-mor da Marvel) não salva ninguém, pelo contrário, só Jesus salva. Mas, acredite, para Ironheart não há salvação. Os três primeiros episódios já haviam mostrado que a série era decepcionante, mas ainda havia alguma esperança de que melhorasse nos últimos três. Infelizmente, não foi o que aconteceu.

Nem mesmo o surgimento do vilão iconográfico da Marvel, aguardado há anos (a cada filme lançado no UCM aparecia alguém dizendo que Mefisto ia aparecer e teve até quem garantiu que isso ocorreria no último do Homem-Aranha), fez diferença na qualidade (ou falta de) e no roteiro ruim em Ironheart. Que, aliás,  que, nos EUA já foi apelidada insultuosamente de “Ironfart” (“peido de aço”)

Novamente há problemas de roteiro, falta de aprofundamento de personagens (o surgimento da “feiticeira” Zelma Stanton na série “do nada” é mais um exemplo claro disso) e mais uma vez Riri, supostamente uma pessoa genial, toma decisões estúpidas e não enxerga o óbvio. Talvez a única coisa boa destes três últimos episódios seja que ela não ficou fazendo pouco de Tony Stark, como ocorreu na “trilogia” inicial.

Verdade de seja dita, o ator Sacha Baron Cohen se salva, ficou muito bem como Mefisto em forma de gente (o verdadeiro visual demoníaco só aparece no reflexo da colher de chá manipulada por ele). Porém ele aparece pouco e o diálogo entre ele e Riri no finzinho do último episódio evidencia mais uma vez furos no roteiro.

Isso porque o espectador é induzido a pensar que o ser diabólico fez o acordo com Capuz com o verdadeiro objetivo de chegar até Riri, para então fazer um novo acordo com ela. Na prática, ela era o alvo o tempo todo.

Porém, por que então Mefisto não foi direto comprar a alma da Coração de Ferro? Afinal, os argumentos que ele apresenta à garota são exatamente os que Capuz já havia apresentar para convencer a garota a entrar para a quadrilha dele. A cena com Mefisto inclusive une imagens e som dos dois momentos, deixando a entender que Mefisto já estava por trás da sedução de Riri o tempo todo, logo por que usar intermediários?

Diga-se de passagem, os tais argumentos apelam ao vitimismo que Riri se aplica na série inteira, de não ser vista, não ter o talento reconhecido, não ter dinheiro para fazer uma armadura melhor etc etc etc. Mas na hora de selar o acordo com o capeta, o que a garota pede é a volta da Inteligência Artificial baseada em Natalie!

Detalhe: IA sumiu quando ela usou magia na nova versão da armadura de Ironheart e Riri tentou sem sucesso trazê-la de volta uma única vez. Não deu? Bora vender a alma por diabo.

Que menina-gênio é essa que não insiste um pouco mais para tentar replicar um experimento no qual já tece sucesso, que desiste de fazer de novo algo que já sabe ser possível depois de uma única tentativa? E vale dizer que Riri sequer conseguiu o que barganhou, já que para a surpresa dela o que aparece não é a IA, mas sim a verdadeira Natalie ressuscitada, algo que faria muito mais sentido ela ter pedido, mas não pediu. Ok, neste caso, melhor para ela, mas como se sabe Mefisto não faz bondades, então pode ter certeza que tem pegadinha por aí.

Ué, não era uma série de super-heroína?

Resumindo tudo o que foi mostrado na série Ironheart, Riri Williams – a personagem que em tese é a substituta do (ou a “nova”) Homem-de-Ferro – levou seis episódios para:

  • se queixar da vida e falar mal do predecessor (o herói que no Universo Cinematográfico Marvel se sacrificou para salvar todo o universo de morrer nas mãos de Thanos);
  • em busca de dinheiro fácil, entrar para uma vida de crime na qual roubou, causou danos a patrimônio, ajudou a extorquir empresários e a deixar muita gente machucada;
  • causar a morte de diversas pessoas indiretamente – no assalto malsucedido de Capuz – e diretamente de John, primo de Capuz (sim, ele tentou matá-la primeiro, mas não apresentava perigo imediato a ela quando a protagonista o abandonou para morrer sufocado… pra não dizer que a heroína supostamente é ela e não John);
  • envolver inocentes em problemas gerados pelo próprio egoísmo, falta de ética e valores decentes – entre eles um rapaz até então abobado, Zeke Stane, agora transformado em supervilão graças à própria Riri;
  • não fazer nem um único ato heroico nas praticamente seis horas da série. Tudo o que Riri faz é para salvar a própria pele ou tentar atingir os próprios objetivos.

Com tudo isso, só não dá para entender o porquê de Mefisto precisar negociar com ela: pelas atitudes de Riri, a alma da menina já pertence ao capiroto há algum tempo…

Também não dá para entender qual é a definição atual da Marvel para a palavra “heroína” nem tampouco o fato de o seriado deixar diversas pontas soltas para uma provável continuação. Será que realmente é necessário continuar uma série tão desastrosa como essa?

Mas esse tal de Mefisto, quem é?

Para quem não é fã de quadrinhos, Mefisto talvez seja um desconhecido, mas nas HQs da Marvel ele é um dos maiores vilões que existem, além de ser praticamente o diabo em forma de…diabo mesmo. O personagem – cujo nome no original é grafado om PH, ou seja, “Mephisto” –  foi uma criação de Stan Lee e John Buscema e surgiu pela primeira vez em 1968, na revista do Surfista Prateado (Silver Surfer número 3).

Lee se baseou no demônio do folclore alemão Mephistopheles, que na lenda de Fausto firma um pacto com o protagonista, realizando desejos dele em troca da alma. Buscema, por sua vez, o desenhou com as características mais iconográficas do que o senso comum definiria como “o diabo.”

Com poderes inimagináveis de alterar a realidade, Mefisto surgiu como vilão do Surfista Prateado, mas rapidamente passou a se defrontar com o Dr. Estranho e a fazer parte de histórias de diversos outros personagens da editora Marvel. Ele se tornou, por exemplo, o responsável pelo surgimento do Motoqueiro Fantasma.

Também fez um pacto com o Homem-Aranha quando a amada tia dele, May, morreu, mas não pediu a alma de ninguém em troca. Para reviver a bondosa velhinha, Peter Parker e Mary Jane aceitaram que o casamento de ambos e boa parte da história do herói fosse apagada da mente das pessoas (felizmente, quando algo semelhante ocorreu no universo cinematográfico Marvel, no último filme do Aranha, não houve necessidade de nenhum pacto com o capeta).

Verdade seja dita, se os pactos realizados pelo personagem eram inicialmente uma referência a Fausto, tentações, demônios, compra de almas e afins, comumente eles eram utilizados como recursos pelos roteiristas para alterar histórias, eliminar problemas e incongruências de roteiro.

No citado caso do Homem-Aranha, em específico, o fato de o herói ser casado e de praticamente não ter mais identidade secreta  (o mundo ficou sabendo quem ele era quando na série Guerra Civil ele tirou a máscara em coletiva de imprensa), estava limitando demais as histórias. Então, nada melhor que um pactozinho com Mefisto para resolver o problema e começar do zero.

E não era só isso não. Algum herói morreu e precisa retornar à vida? Faça um pacto com Mefisto et voilà! Precisa justificar que algum personagem se tornou muito mal? Influência de Mefisto! Alguém se tornou ou precisa se tornar megapoderoso? Mefisto nele! Não está gostando desse texto? Culpa de Mefisto!

E nos próximos filmes e séries, Mefisto volta?  

Até aqui, tirando uma citação do nome dele em Agatha desde sempre, Mefisto era apenas uma expectativa, em especial nos longas que envolviam magia, como Dr. Estranho no Multiverso da Loucura. Mas uma vez que se tornou realidade, não só deve retornar como já há uma série de teorias de que o capeta teria feito pactos com outros personagens que já apareceram sem que o público soubesse.

Condessa Valentina e Sharon Carter estão entre os suspeitos, mas o nome mais citado por enquanto é o de  Howard Stark, pai do Homem-de-Ferro (pobre Tony, além de ser espezinhado por Coração de Ferro ainda pode ter o pai fazendo pacto satânico).

As razões apontadas pelos adeptos dessa teoria residem no fato que na primeira aparição cronológica nos filmes da Marvel Howard não era tão inteligente e depois se transformou em um grande gênio tecnológico,  “de repente.”  Portanto, ele não teria estudado, se aperfeiçoado, se dedicado, evoluído, e sim feito um pacto com Mefisto.

Por essa teoria, o pedido dele seria dominar a tecnologia para proteger o próprio país. Por isso mesmo ele conseguiu fundar a Shield, mas como toda dádiva de Mefisto tem uma pegadinha, Howard não sabia que a organização nazista  Hidra estava infiltrada na Shield e, vale lembrar, foi a Hidra transformou Buck Barnes no Soldado Invernal, que (sob o comando mental dos nazistas) matou Howard e a esposa. E mais: as armas que Howard criou para proteger os EUA, ao mesmo tempo que lhe deram fortuna, mataram milhões de pessoas do jeito que o diabo gosta.

Outra especulação que ganha força é que Mefisto deve voltar a aparecer em Avengers: Doomsday, filme previsto para ser lançado em dezembro. Isso porque, nos quadrinhos, em uma das HQs do Dr. Destino já publicadas, a mãe do vilão, a cigana Cynthia von Doom, fez um pacto com Mefisto.

A mulher vivia em uma vila na Latvéria, país então dominado por um Barão que perseguia o povo, prometendo a própria alma em troco de poder para derrotar o tal nobre.  O que ela não sabia é que a magia dada pelo demônio matava junto com cada homem do barão uma criança da própria vila (pegadinha do Mallandro, ooops, do Mefisto!). Quando descobre, ela abre mão da magia e é morta na sequência, e a alma dela é levada para ser torturada pela eternidade pelo capeta.

Tempos depois, Dr. Destino vai até os domínios de Mefisto e, com a ajuda do Dr. Estranho, em uma aventura cheia de tramoias, reviravoltas e até um novo pacto com Mefisto, o espírito de Cynthia acaba sendo libertado.

Isso posto, como no filme de 2026 o personagem Dr. Destino será interpretado por Robert Downey Jr., mesmo ator que deu vida a Tony Stark/Homem de Ferro, o roteiro revelaria que ele é o Tony Stark “de uma outra terra do multiverso” e que faz todas as maldades que eventualmente irá fazer para amealhar poder suficiente para confrontar Mefisto e salvar…o pai, Howard Stark, que teria feito o já citado pacto com o demônio.

Sim, seria um argumento bastante confuso e com grandes chances de gerar um resultado ruim, mas a julgar pelo fato de Mefisto ter surgido em uma série confusa e ruim como Coração de Ferro, é melhor não duvidar que isso possa acontecer. A conferir.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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