Pelos poderes de Greyskull…He-Man!

Diz a lenda que no início dos anos de 1980, a empresa de brinquedos Mattel estava trabalhando em uma linha de bonecos baseados no filme Conan, o Bárbaro (lançado em 1982), quando um gênio do departamento de marketing sugeriu que um brinquedo baseado em um herói violento como o bárbaro poderia ser considerado inadequado para crianças. Os bonecos, então, ganharam uma roupagem diferente e foram vendidos com o nome de “Masters of the Universe” (ou, em português, Mestres do Universo).

A própria Mattel futuramente passou a classificar a história envolvendo Conan como um “rumor” – ainda que admita ter inspirado a linha de bonecos no traço de Frank Franzetta, desenhista do bárbaro. Na versão oficial, porém, os brinquedos baseados em Conan chegaram a ser planejados e abandonados para “não promover um filme violento e com cenas de nudez”, e os tais Mestres do Universo “tinham sido pensados” antes mesmo do filme estrelado por Arnold Scharzenegger chegar aos cinemas.

Acredite no que quiser, mas o fato  é que os tais bonecos dos Mestres do Universo chegaram às lojas no final de 1982.   A linha (por sinal bem tosca, com heróis de corpo de plástico e cabeça de borracha) vendeu bem e, para aumentar ainda mais o sucesso, a Mattel encomendou para os estúdios Filmation um desenho animado baseado nos bonecos.

Foi assim que, em 1983, surgiu na televisão o desenho He-Man and The Masters of The Universe (na versão inicial em português, He-Man e os Defensores do Universo). O mercado acreditava que – obviamente – os desenhos animados seriam uma propaganda dos brinquedos mal disfarçada. No entanto, ninguém – nem mesmo a Mattel – contava com a capacidade da equipe da Filmation.

A empresa criou uma animação diferente das da época, tanto em relação ao desenho dos cenários e personagens (a Filmation chegou a filmar pessoas nas poses e movimentos de todos eles para embasar o desenho) quanto na trilha sonora. O argumento contava a história de Adam, príncipe do planeta Eternia, que usando uma espada mágica e gritando “Pelos poderes de Greyskull” transformava-se em um poderoso herói: He-Man.

 

Adam usava a espada ainda para transformar seu medroso tigre de estimação, Pacato, no feroz “Gato Guerreiro”. Aliás, “transformar” é força de expressão, já que He-Man era apenas um Adam mais moreno (e com menos roupa), assim como o Gato Guerreiro era só um pouco maior que pacato e com uma espécie de armadura-cela (mas qual o problema? Clark Kent transforma-se em Superman tirando o óculos e ninguém percebe…)

Como He-man, Adam defende o planeta contra uma série de vilões, capitaneados pelo cruel e afetado Esqueleto – veja a lista dos principais heróis e vilões do desenho abaixo. A lado do herói estão o pai (o rei Randor) e a mãe, rainha Marlena ( na verdade uma astronauta terrestre que “caiu” em Eternia); o inventor e chefe da guarda “Mentor” ou Duncan; a filha adotiva deste, Teela (pronuncia-se “Tila”); o estranho mago Gorpo e a feiticeira de Greyskull (verdadeira mãe de Tila), entre outros.

Os argumentos eram interessantes e os desenhos do primeiro ano fizeram muito sucesso, mas não fugiam de um desenho típico de aventura. Mas, no segundo ano… Paul Dini (hoje conhecido por seu trabalho com as séries animadas de Batman e Superman, além de várias HQs) e uma equipe de roteiristas resolveram explorar dramas humanos no desenho e o resultado foi surpreendente.

Entre outros episódios memoráveis, foi produzida neste período “A Busca de Teela”, no qual a moça lida com o drama de ser adotada, renega mentor e tenta descobrir quem é sua verdadeira mãe. Em outra série de episódios, Adam fica decepcionado porque seu pai o acha um covarde e, depois de quase contar “seu segredo” em busca da aprovação do rei, desiste dos poderes de He-Man em um momento crítico do reino e traz consequências trágicas para seus amigos.

Em outro desenho, He-Man faz um pacto com um dragão para trazer um amigo de volta dos mortos, apenas para descobrir que o preço do pacto é a vida de outro amigo. Além dos bons argumentos, os desenhos de He-Man sempre traziam no final uma mensagem de moral.

A maioria era de alto nível e bem elogiada pelos pais – de “não brinque com fogo” e “cuidado com estranhos” a mais profundas como “o verdadeiro pai é aquele que cuida de você e te ama” (no episódio “A Busca de Teela”). É claro que havia algumas ridículas, como a célebre em que He-Man diz que não se deve passar mostarda em um gato, inspirada, ao que parece, em um episódio da vida real de um argumentista…

He-Man (que no Brasil estreou em 1986) teve ao todo 130 episódios e gerou um segundo desenho – She-Ra, sobre a irmã gêmea dele – e dois filmes estrelados por Dolph Lundgren: A Espada Mágica (1986), que mostrava o primeiro encontro de He-Man e She-Ra, e Mestres do Universo (1987), no qual He-Man vinha à Terra em busca de uma chave mágica que possibilitaria poder absoluto à Esqueleto.

 

As músicas e versões nacionais de músicas do desenho também fizeram sucesso – quem não se lembra de Gorpo (no original, Orko) e Dree Elle  cantando “O bem vence o mal, espanta o temporal. O azul, o amarelo, tudo é muito belo”?

Cantores brasileiros também exploraram o sucesso do desenho. Xuxa fez uma canção pedindo que She-Ra, por Greyskull, a apresentasse para He-Man (a moça garantia que era “todinha do bem”) e até o desaparecido Juninho Bill em um de seus muitos conjuntos cantava “lá-lá-lá He-Man”, “unidos venceremos a semente do mal” e outros versinhos.

O último episódio do desenho original de He-Man foi criado em 1987. No ano seguinte a empresa francesa de produtos de beleza L’Oreal comprou a Filmation e demitiu todo mundo do estúdio, encerrando os planos futuros para os personagens. Cest la vie.

Nos anos 2000,o desenho animado ganhou pelo menos duas novas versões, via Netflix. Mestres do Universo: Salvando Etérnia (Masters of the Universe: Revelation) e He-man 3D, ambos lançados em 2021. Apesar de terem alcançado relativo sucesso, em especial o primeiro, nenhum dos dois mostrou – com o perdão do trocadilho –  ter a força do original.

 

Principais Heróis – Adam/He-Man; Pacato (Cringer)/Gato Guerreiro (Battlecat); Mentor (Man-at-Arms); Teela; Feiticeira (Sorceress); Stratos (o amigo alado de He-man); Aríete; Gorpo (Orko)

Principais Vilões – Esqueleto (Skeletor) e seus seguidores Homem-Fera (Beastman); Mandíbula (Trap-Jaw); Tri-Klops; Aquático (Merman) e Maligna (Evil-Lyn)

NOTA DO CRÍTICO: Esse é bom

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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