Adeus, Val Kilmer: as muitas faces de um herói

Val Kilmer, que nos deixou no dia 1º de abril, foi um grande ator. Da veia cômica exibida como protagonista de Top Secret, em 1984 (talvez a primeira comédia a esculachar os clichês de outros filmes de Hollywood), à interpretação/encarnação perfeita de Jim Morrison   em The Doors, eram muitas as facetas do californiano nascido em Los Angeles, em 1959. Mas para os fãs do universo de quadrinhos e fantasia, Val Kilmer sempre será lembrado como um um herói. Ou melhor, vários.

O mais marcante deles, claro, foi Batman. O filme de 1995 dirigido por Joel Schumacher (Batman Eternamente) chamou mais atenção na época por uma “polêmica” envolvendo o uniforme com mamilos salientes do Homem-Morcego e de  Robin – no filme seguinte, Batman & Robin (1997), as roupas de Batgirl também ganhariam bizarrice semelhante. Além disso, chamavam a atenção as atuações histriônicas de Jim Carrey e Tommy Lee Jones como Charada e Duas Caras, e a chamada estética camp – aquele estilo que valoriza o exagero e a artificialidade, de certa forma homenageando o seriado de Batman nos anos de 1960.

Mas, alheio ao barulho muitas vezes desnecessário, Val Kilmer foi para muitos o melhor dos Batmen nas telas, ao menos até aquele momento. Primeiro por ser mais convincente do ponto de vista físico. Substituindo Michael Keaton, considerado baixinho (1m75) e não tão em forma quanto poderia, Kilmer convencia mais com 1m82 e músculos bem distribuídos, além de um queixo quadrado que se encaixava perfeitamente nos desenhos e quadrinhos.

Além disso, Kilmer era um ótimo Bruce Wayne, ainda que loiro, em vez de moreno como o original. Convencia não só como a persona de Wayne para o público, do playboy milionário, como transparecia o dilema do milionário que tinha de atuar para a mídia de maneira a criar álibis para que o super-herói não fosse descoberto. Bruce Wayne é na verdade a máscara, Batman é o homem de verdade. Val Kilmer conseguiu passar isso para o público.

Vale lembrar que Schumacher, que se desentendia constantemente com Kilmer no set e não se dava com ele depois do filme, afirmou até o fim da própria vida (em junho de 2020) que Kilmer foi um Batman “fabuloso”.

Mas Batman não foi o único herói excepcional ao qual Kilmer deu vida. Em 1986, ele foi o piloto Iceman em Top Gun, um antagonista, é verdade, mas nem por isso menos heroico.

O ator repetiria o papel em 2022, em Top Gun: Maverick, já sem voz em virtude de traqueostomia causada pelo câncer de garganta cuja batalha, em última análise, o enfraqueceu e levou à morte por pneumonia.

E se Kilmer foi um Batman fabuloso, o que dizer dele em uma fábula? No maravilhoso Willow (1988), ele encarnou o divertido Madmartigan, que acaba se convertendo em um herói durante a aventura. Também  deu vida ao mito do velho oeste Doc Hollyday, enfrentando bandidos ao lado de Wyatt Earp em Tombstone (1993).

Mesmo quando não dava a cara aos heróis, Val Kilmer emprestava a voz a eles. Assim ele foi Moisés – e Deus (!) – no desenho O Príncipe do Egito (1998). E o carro K.I.T.T. no remake do clássico A Supermáquina (Knight Rider) em 2008.

Além de ator de muitas vozes e rostos (vários deles, inclusive em um único filme, The Saint, no qual era o anti-herói ladrão e mestre em disfarces Simon Templar), Val Kilmer também atuava em outras artes, como poesia e pintura. O mundo sentirá falta dele.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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