Zumbis em Riverdale: o tenebroso mundo paralelo da turma de Archie

Nos EUA, a popularidade da Turma de Archie – lançada em 1941 na Pep Magazine – é incontestável e se assemelha ao fenômeno da Turma da Mônica no Brasil: as aventuras cotidianas de Archie, Betty, Verônica e Jughead fazem ou fizeram parte da infância e adolescência de milhões de pessoas.

Em 2015, tentando ganhar novos/mais leitores, após milhares de histórias que seguem a linha mais cômica a editora lançou uma versão com traços menos cartunizados e histórias um pouco mais realistas, batizada de New Archie, que acabou inspirando a série de televisão Riverdale, nome da cidade fictícia habitada pelos personagens.

 

OK, mudar traços e fazer personagens com temática mais realista não é novidade no mundo dos quadrinhos – os exemplos são inúmeros dentro e fora do Brasil, de Turma da Mônica Jovem ao universo Ultimate Marvel, pra citar uns poucos.  Difícil mesmo seria, por exemplo, transformar os personagens queridinhos da América em uma história de terror, por exemplo, e ainda ter sucesso com ela. Isso sim seria algo quase impossível…ou não? 

Felizmente para a editora, a palavra “impossível” não consta no vocabulário de um sujeito chamado Roberto Aguirre-Sacasa. Fã de quadrinhos desde a infância, este estaduindense filho de um diplomata da Nicaraguá já havia demonstrado seu talento nas HQs quando escreveu histórias dOs Quatro Fantásticos e outros personagens para a Marvel Comics.

Na Archie Comics, porém, Aguirre-Sacasa teve uma ideia que poderia ser classificada como, no mínimo, ousada.  O ano era 2013 –  ou seja, nem a versão mais moderninha de Archie existia –  e, talvez inspirado pelo sucesso da série televisiva The Walking Dead (também oriunda dos quadrinhos), o escritor desenvolveu uma história de Archie em meio a um apocalipse zumbi. O nome escolhido para a nova revista foi  Afterlife with Archie, algo como “a vida após a morte com Archie”.

A HQ começa com o cachorro de Jughead, Hotdog, sendo atropelado e morto. Desesperado, ele pede ajuda a Sabrina, a bruxa adolescente também dos quadrinhos originais de Archie, e ela o traz de volta a vida. Meia-vida, melhor dizendo. O animalzinho é agora um zumbi e ele morde o dono.

Infelizmente, Jughead não fala nada a ninguém até que seja tarde demais. Contaminado, ele vira zumbi e sai mordendo todo mundo. Archie, tendo como improvável aliado o pai de Verônica, Hiram, chefia a resistência na cidade,  diante de uma hora de mortos-vivos.

A primeira edição da série simplesmente se esgotou e fez com que a Archie Comics nomeasse Aguirre-Sacasa como Chefe-Executivo de Criação. Nos números seguintes, a luta entre zumbis e vivos foi se encrudecendo,  com vários personagens sendo “enzubizados” e o espírito de Jughead se unindo a Archie como uma espécie de conselheiro super-sincero que só o herói consegue enxergar. O corpo de Jughead zumbi, porém, continua fazendo estrago.

O sucesso foi tanto que em 2014  Aguirre-Sacasa resolveu ampliar o escopo. Como os fãs adoraram uma nova aparição da bruxa Sabrina no meio da guerra zumbi, ele aproveitou a deixa para lançar Chilling Adventures of Sabrina.

Desta vez, o autor teve trouxe para o universo alternativo a bruxa adolescente Sabrina que, se nas HQs tradicionais é uma garota que ajuda os amigos com os poderes mágicos que tenta esconder, nas mãos dele se transformou em foco central de uma irmandade de bruxas que serve a Satã, com direito a sangue, vísceras, necromancia e canibalismo. O traço deixou o lado cartoon e passou a ser mais realista.

Resultado? Novo sucesso retumbante, que levou a editora a criar um selo só pras revistas alternativas, apropriadamente batizado de  Archie Horror.  As tais aventuras arrepiantes inclusive levaram Sabrina em 2018 para a Netflix, onde aliás Aguirre-Sacasa não é o responsável só pelo seriado dela como também pelo outro inspirado na Turma do Archie, Riverdale.

Tanto Afterlife quanto Chilling transformaram-se em revistas fixas, mas Aguirre-Sacasa queria mais, afinal não foi à toa que ele foi nomeado chefe de criação. Veio então, inicialmente como one-shot (edição única) assinado pela dupla Frank Tieri e Michael Welsh, a HQ  Jughead: the Hunger. Nela, a enorme fome o personagem título ganha uma explicação sobrenatural.  Jughead Jones é, ao menos nesta HQ lançada em maio de 2017, um Lobisomem.

Nem precisa dizer que mais uma vez o público adorou e o que era pra ser uma história única se transformou em título regular.  E em março de 2018, a Archie Horror  lançou mais um arrasa-quarteirão, feito a quatro mãos por Megan Smallwood e Greg Smallwood: Vampironica. Sim, o título é auto-explicativo: Veronica Lodge é nesta linha uma vampira sedenta de sangue.

Não bastasse tudo isso, mais duas minisséries estão previstas para o ano que vem. A primeira, Blossons666, traz os gêmeos Jason e Cheryl Blossom disputando o título de Anticristo e a segunda é um duelo crossover entre o lobisomem Jughead e Vampironica.

Pelo visto, a Archie Comics (re)descobriu um nicho de mercado e, se para vender milhares de exemplares de gibis de terror  Aguirre-Sacasa tiver que transformar todos os mais queridinhos da América em monstros e bestas assassinas sanguinolentas, isso não será um problema. Pelo contrário: em tempos em que as publicações em papel são cada vez mais desprestigiadas, será uma bela – ou melhor, horrenda – solução.

 

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