Riverdale: baseada nos quadrinhos de Archie, uma série que vale a pena conferir na telinha

Filmes e seriados estão bebendo na fonte dos quadrinhos há décadas e o fenômeno tem se acentuado cada vez mais com o surgimento de canais como a CW Network, nos EUA, e os serviços de streaming como a Netflix. E, se normalmente o foco são quadrinhos de super-heróis (basta lembrar de The Arrow, Flash, Supergirl, Demolidor, Luke Cage, Jessica Jones, Black Lightning, Gotham, Punisher e tantos outros), quando o alvo é diferente os resultados podem ser surpreendentes. É o caso de Riverdale, série baseada na turma de Archie, que foi lançada em quadrinhos nos EUA em 1941 na revista Pep Comics (e que se tornou tão popular por lá que rapidamente fez com a que a editora MLJ Magazines mudasse seu nome para Archie Comic Publications).

Riverdale foi lançada em janeiro de 2017 pela CW nos Estados Unidos – onde vai para a 3ª temporada – e, apesar de já passar por aqui também desde o ano passado na Warner Channel via TV a cabo, está ficando mais popular neste ano de 2018 por ter entrado no “cardápio” da Netflix. Antes de mais nada é preciso dizer que os personagens tem as personalidades inspiradas em seus originais das HQs, mas, apesar de a turma ter vivido inúmeros tipos de aventuras nos mais de 70 anos de histórias publicadas, a história de Riverdale tem uma pegada bem diferente.

Sempre que alguém escreve um texto gosta de buscar uma comparação, o que fez com que Riverdale já fosse pareada a séries como Twin Peaks, Dawson´s Creek, Barrados no Baile (Beverly Hills 91210) e até mesmo uma pitada de Scooby Doo – em um dos episódios, o próprio personagem Jughead chega a chamar a si e aos colegas de turma do Scooby em decorrência de estarem investigando um mistério.

Riverdale é, de fato, um seriado que tem adolescentes como atores principais e dramas diversos (talvez tenha vindo daí a citação a Dawson´s e Barrados), além de um assassinato misterioso no início e mistério de sobra numa cidade “em que nem sempre as coisas são o que parecem” que parece (Twin Peaks eScooby Doo?). Mas, acima de tudo, Riverdale tem um roteiro interessante e personalidade própria.


E tem ainda, algo que não aparecia nos quadrinhos de Archie: diversos dramas paralelos que envolvem os adultos, que por sinal são parte atuante da história. E, apenas a título de curiosidade, entre os adultos está um desgastado Luke Perry, aquele que um dia foi o rebelde adolescente sem causa em… Barrados no Baile
Mas chega de falar dos outros e vamos definir esta série: “A pequena e tranquila cidade de Riverdale fica de cabeça para baixo quando é atingida pela misteriosa morte de Jason Blossom, um garoto popular do ensino médio e membro da família mais poderosa da cidade. Archie Andrews, Betty Cooper, Veronica Lodge, Jughead Jones, Cheryl Blossom, Josie McCoy e seus amigos exploram os problemas da vida cotidiana na pequena cidade, enquanto investigam o caso de Jason Blossom. Mas, para resolver este mistério, o grupo de amigos deve descobrir os segredos que estão enterrados profundamente na superfície da cidade, pois Riverdale pode não ser tão inocente como parece.”

A sinopse descreve bem o seriado, mas o roteiro episódio a episódio é o que conquista – e vicia – quem assiste. Archibald “Archie” Andrews (o ator KJ Apa), em tese o personagem principal, é bem similar ao dos quadrinhos. Um garoto ruivo talentoso e sempre cercado de meninas, dividido entre jogar futebol, apostar na música e ajudar o pai, e também dividido, inicialmente, entre a adorável vizinha Betty Cooper e a recém-chegada Verônica Lodge. Uma divisão que aparentemente tem espaço aberto para mais gente, afinal, sem que nenhuma das duas nem o resto da cidade saiba, o garoto inicia o seriado envolvido com uma professora mais velha (não, gente, não é spoiler porque tem no trailer oficial 
! rs). 
Assim como acontece com Archie, se nos quadrinhos as personalidades são mais lineares, em Riverdale elas são bem mais complexas e isso se evidencia nas principais personagens femininas. Betty Cooper (Lili Reinhart) não é apenas a típica girl-next-door certinha e apaixonada por Archie dos gibis.
Ela se sente sufocada pela “obrigação” de ser perfeita e pelas regras rígidas dos pais, que além de tudo não explicam para menina o que aconteceu com a irmã mais velha, Polly, que repentinamente foi afastada da família pouco antes do assassinato de Jason Blossom cair como uma bomba na cidade.
Sim, ela é apaixonada por Archie, mas ele a quer como uma irmã e, quando ela souber disso, não vai ficar chorando ou disputando-o a tapa com Verônica. Nas HQs, o triângulo amoroso entre o trio se estendeu por décadas, apesar de eventualmente a cantora Valerie ter também despertado as atenções do ruivo, o que não está excluído de ocorrer em Riverdale, e bem mais depressa do que ocorreu nos quadrinhos. Em Riverdale, porém, Betty é das que acredita que a fila anda. Bom pra ela.

Verônica Lodge (Camila Mendes, atriz filha de um casal brasileiro), que nas aventuras em papel é basicamente uma riquinha mimada com personalidade forte, continua sendo abastada em Riverdale, mas não tão metida, afinal ela foi obrigada a voltar de Nova York para a cidadezinha onde a mãe estudou após o pai ter sido preso por desvio de verbas. 
 
“Ronnie”, porém, continua com personalidade forte, tanto que ao se ver “trollada” em uma foto com um menino passada para toda a escola, reage. E depois deixa a história pra lá e segue em frente, afinal o nome dela não é Hannah Baker – com todo respeito ao excelente 13 Reasons Why (à primeira temporada, é melhor deixar claro, pois a segunda é tão ruim que nunca deveria ter sido feita). 

Por fim, Jughead Jones (com interpretação surpreendente de Cole Sprouse, o Cody dOs Gêmeos a Bordo), é talvez o personagem que mais cresce na transposição entre quadrinhos e TV. Se nos gibis ele é mais um alívio cômico, escada para Archie e tem como principal característica o apetite enorme por junk food, em Riverdale Jug é uma alma atormentada pela família desfeita, um amigo pra todas as horas e o dono de um humor negro e um intelectualidade que dão a cola ao quarteto.
O Jug de Riverdale também tem interesses amorosos e não demora a se envolver com as mocinhas, algo que foi criticado pelos fãs puristas dos quadrinhos, pois neles Jughead é “arromântico e asexuado”, ou seja, não está nem aí pra namorar. Contido, assim como nos comics, Jughead continua sendo o melhor amigo de Archie. E é ele quem faz a amarração de cada capítulo com narrativas que estaria escrevendo para um livro (ou reportagem) sobre a cidade e os fatos que ali estão acontecendo.
 
Outros personagens dos quadrinhos também estão no seriado. Todos com as principais características do gibi mantidas e algumas acrescentadas: Cheryl Blossom (a riquinha ainda mais rica e convencida que Verônica)  na versão para tela tem um irmão gêmeo com quem tinha uma relação bem estranha, o assassinado da trama, e com a ajuda da interpretação caricaturesca de Madeline Petsch é uma das personagens mais excêntricas do seriado).Já ainda o impagável Kevin Keller (primeiro personagem gay dos quadrinhos de Archie, interpretado por Casey Cott); o super atleta Moose (Cody Kearsley, que no seriado talvez venha a sair do armário); o egoísta e falastrão Reggie (Ross Butler, que aqui em nada lembra o bonzinho Zack de 13 reasons); e até mesmo “Big” Ethel (que aparentemente não é caidinha por Jughead como nos quadrinhos).

Também é fundamental citar Josie e as Gatinhas, que no Brasil provavelmente foram muito mais conhecidas do que Archie, graças aos desenhos animados dos anos de 1970 e 1980. O trio de cantoras está presente no seriado, mas diferentemente dos quadrinhos e desenhos animados – onde Josie era ruiva, Melody uma loira platinada e Valerie uma negra – é formado exclusivamente por garotas afrodescendentes. 
Além dos dramas pessoais de cada uma delas (Josie, por exemplo, é filha da prefeita e de um cantor de jazz, e sofre pressão da mãe para ser um símbolo perfeito da comunidade negra, ao mesmo tempo que tenta conquistar a aprovação impossível do pai esnobe) , cabe ao trio fornecer a boa música que embala diversos episódios. Impossível não destacar aqui a versão atualizada do hit “Sugar, Sugar”, que originalmente era cantado pela banda Archies, e que ficou muito boa na voz das atuais Pussy Cats.
Pra concluir, é difícil imaginar que Riverdale tenha o mesmo sucesso que os quadrinhos de Archie tiveram nos EUA, onde são uma espécie de Turma da Mônica, no sentido de que fazem ou fizeram parte da infância e adolescência de milhões de pessoas. Até porque nos quadrinhos ninguém envelhece – ainda que a turma de Archie tenha passado por renovações de traço e visual no decorrer dos tempos – e na TV, bem, os atores em breve serão adultos. Porém, é certo afirmar que Riverdale é uma belíssima homenagem a HQ que originou e, melhor ainda, uma série que vale a pena ser vista. Tanto que já está na terceira temporada. Tomara que venham outras.
 
NOTA DO CRÍTICO: Esse é bom

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