Um seriado… Demolidor !

Demolidor, seriado que a Netflix lançou neste ano de 2015 (e já completo com todos os episódios para quem quiser assistir no seu próprio ritmo), é tudo que o filme sobre o mesmo super-herói estrelado por Ben Aflleck não foi. OK, então agora você já sabe que a série não é uma porcaria, mas será que é boa?

Olhando só pela sinopse não dá para saber, apesar da presença do camaleão Vincent D´Onofrio (Full Metal Jacket, JFK, Men in Black, Law and Order: Criminal Intent) ser um belo cartão de visitas. Pois pode abrir a porta e mandar entrar, porque este Daredevil é mais do que bom, é ótimo, é…demolidor!
Ironicamente, a ideia das produtoras Marvel Television e ABC Studios era que a série fosse apenas a porta de entrada para uma outra: o projeto era lançar, anualmente, uma minissérie diferente de 13 episódios, cada uma delas estrelada por um dos heróis que compõe o grupo Defenders – Demolidor, Jessica Jones (Alias), Luke Cage e Punho-de-Ferro. Depois, tudo dando certo e com o espectador acostumado a todos os mocinhos (e mocinha), viria justamente a série Marvel´s Defenders.
Só teve um probleminha: o Demolidor deu certo demais. Saudado desde o início pela crítica como uma evolução “mais madura, ousada e obscura” das séries baseadas nos quadrinhos Marvel para TV, o seriado caiu tanto no gosto do público que uma nova temporada já foi anunciada. O que não deixa de ser estranho, já que esta primeira foi produzida como uma (longa) história fechada.
O roteiro do seriado foi muito bem construído e mostra tanto o surgimento do herói como a ascensão e queda (ao menos inicial) do Rei do Crime. Uma das vantagens de levar para a telona um personagem tão longevo quanto o Demolidor – criado por Stan Lee, Bill Everett e Jack Kirby em 1964 – é que é possível se pegar tudo o que comprovadamente deu certo nas muitas HQs e costurar apenas as partes boas, acrescentando-se uma novidade aqui e outra ali.
Assim, o seriado é largamente inspirado nas histórias de Frank Miller, sem dúvida o autor mais profícuo que colocou as mãos no alter ego do advogado cego Matthew Murdock. O pai lutador fracassado que vende os resultados das lutas para sustentar o garoto, por exemplo, saiu direto de Demolidor, o Homem sem Medo onde, aliás, Murdock é retratado lutando ainda sem o uniforme, vestido apenas de preto e com capuz – exatamente como no seriado, onde a roupa de demônio só aparece quando é absolutamente necessário.

Muito da relação entre Matthew e o sócio Foggy, vinda desde a faculdade, assim como o perfil do jornalista Ben Ulrich e vários detalhes da personalidade do Rei também saíram de Miller. Já o início do escritório de advocacia e Karen Page como secretária da dupla tem um pezinho em Demolidor Amarelo (o primeiro uniforme do vigilante era desta cor), mas também encontra referência em outras aventuras.

Isso posto, tudo no seriado funciona melhor do que o esperado. Em um sistema policial corrupto e nas mãos das gangues que o Rei começa a controlar, Matt Murdock faz suas primeiras tentativas como herói, ou melhor, um vigilante. E o que chama a atenção nas lutas e pancadarias bem coreografadas é que o personagem principal também apanha, e muito.
Afinal, assim como Batman, Demolidor não tem exatamente superpoderes, excetuando-se o fato que o mesmo composto radioativo que penetrou em seus olhos ao cair de um caminhão, que ia atropelar um velhinho salvo pelo então menino Mathew Murdock, acabou fazendo seus outros sentidos serem excepcionalmente mais acurados e potencializados que o da humanidade. Isso, somado a um treinamento ninja dado pelo mestre Stick, faz com ele seja um exímio lutador e tenha algumas vantagens, mas não garante nenhum tipo de invulnerabilidade.
Charlie Cox foi uma escolha perfeita para interpretar o herói. O ator consegue dar credibilidade ao misto de culpa católica/ceticismo/sarcasmo e generosidade que caracterizam o personagem das HQs. Mas o grande achado foi mesmo Elden Henson para interpretar Foggy. O carisma do rapaz tirou Foggy da condição de secundário simpático – nos quadrinhos ele nada mais é que isso, além de uma “mente brilhante para os detalhes jurídicos” – para um verdadeiro parceiro de Matt, um brother que faz o espectador rir e até se emocionar em diversos momentos.
E, claro, há Vincent D´Onofrio, gordo como nunca e espetacular como sempre. Como um psicopático Rei do Crime, D´Onofrio dá medo com os surtos que surgem em meio a uma frieza impressionante, e ao mesmo tempo chega a despertar simpatia (!) quando revela todos os traumas que traz do passado. Em determinado ponto, ele quase convence ao dizer para o Demolidor que ambos querem salvar a cidade, mas cada um com seus métodos.
Quem nunca leu os quadrinhos, mas curte o gênero policial, luta contra o crime, ação e intrigas generalizadas, não terá dificuldades em gostar de Demolidor. Toda a trama é conduzida de modo inteligente e, a exceção do fato de o personagem principal ter capacidades pouco críveis, o seriado poderia ter como estrela um policial inconformado ou um advogado em busca de justiça de modo pouco ortodoxo.
Já quem é fã de Demolidor verá finalmente uma adaptação à altura. É claro que nem tudo é exatamente como nos quadrinhos. Ben Ulrich é negro e não branco (mas com a mesma cara de repórter que já viu coisas demais e não se empolga mais com nada), a bela Vanessa conhece o Rei em meio a toda guerra de gangues e nem por isso deixa de amá-lo profundamente, Karen Page aparece desde o início envolvida involuntariamente em toda a trama e inclusive acusada de assassinato e se tornando a primeira cliente da dupla de rábulas.
Murdock também recebe auxílio e se envolve romanticamente com uma enfermeira, Claire, que foi criada especificamente para a TV, mas nada disso influi no resultado final.
E, vale ressaltar (spoiler alert !!!!) que nem todo mundo que, digamos, sobrevive nas HQs continuará vivo e saudável no seriado. Contudo, estas mudanças só tornam Demolidor mais interessante para quem acha que já sabe tudo.
E, mesmo tendo sido planejado para uma temporada só e com final que poderia mesmo ser definitivo, a agora “primeira temporada” deixou algumas pontas soltas que, com certeza, darão pano pra manga na próxima. Em tempo: a Netflix já confirmou que Elektra, a ninja-assassina e paixão descontrolada do Demolidor, está escalada para a próxima temporada.

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