Quem é o Hulk Vermelho? Depende do ano…

Se você já assistiu a Capitão América: Admirável Mundo Novo, talvez tenha a resposta na ponta da língua. Ou pelo menos uma das três respostas, como sabem os leitores que acompanham os quadrinhos do Gigante Esmeralda, apelido pelo qual é conhecido o Incrível Hulk original. O primeiro Rulk – como chegou a ser chamado por algum tempo a variação vermelha, combinando as palavras em inglês “Red” e “Hulk” – surgiu nas páginas do gibi de Bruce Banner em 2008.

E, ainda que o filme de 2025 entregue de bandeja a primeira identidade do personagem, mais especificamente o general Ross (interpretado no longa por Harrison Ford), nos quadrinhos o mistério demorou cerca de dois longos anos para ser desvendado. Ênfase em longos.

Nas HQs, o Hulk Vermelho surgiu meio do nada, já de cara como um vilão e grande antagonista do Hulk original. Publicamente a Marvel nunca admitiu uma razão efetiva para a criação do personagem, ainda que tenha se espalhado na época justificativas como a de o herói precisar de um novo vilão muito mais forte e original, ou ainda (essa veio posteriormente, por óbvio) que desta forma o general Ross, que  sempre perseguira o Hulk, passaria a “entender melhor” o sofrimento do gigante esmeralda.

Nos bastidores, porém, o motivo era apontado era outro: vender gibis. Versões alternativas de grandes heróis, além de servirem como teste para futuras substituições, sempre fazem as vendas dispararem. Afinal, elas tanto mantêm a fidelidade do público leitor original, que querem ver para onde a história conduzirá o herói favorito, quanto atraem tanto novos leitores, curiosos pela novidade.

E ainda trazem de volta muitos que deixaram de ler o título e resolvem “ver o que está acontecendo”, para não mencionar colecionadores de “números 1.” Se a fórmula ainda adicionar um mistério sobre a identidade real do novo, então, o sucesso é garantido.

Assim, o Hulk Vermelho já surge do nada com uma criatura inteligente e cruel, extremamente forte e similar ao Hulk, mas com algumas diferenças: além da cor da pele e dos olhos (e sangue), que são amarelos, ele irradia e absorve energia. A absorção o torna cada vez mais forte, enquanto a irradiação ocorre na forma de calor conforme o monstro fica mais raivoso.

Há momentos em que a areia em torno dele se transforma em vidro devido a subida de temperatura, que é sentida também por quem se aproxima. Quando superaquece, porém, o Hulk Vermelho acaba ficando mais vulnerável na sequência.

Nos primeiros dois anos de vida, além do mistério da identidade (reforçada por meio de cenas em que ele aparecia junto com Ross para despistar o leitor, que não sabia que tais imagens eram ilusões), os roteiristas faziam questão de mostrar o quanto o personagem era extremamente forte. De maneira extremamente exagerada, forçando demais a barra com o público leitor.

Quem quiser ter um gostinho desse exagero todo pode dar uma olhada na coletânea A Saga do Hulk, que está sendo lançada pela Panini Comics no Brasil neste ano e reúne justamente os quadrinhos do gigante esmeralda a partir de 2008. Para se ter uma ideia do protagonismo do vermelhão na época, ele está na capa de todos os três volumes já lançados e do volume 4,que está em pré-venda.

E para confirmar como os roteiristas queriam mostrar a supermegaultraforça do Hulk Vermelho, basta uma folheada – por exemplo – no número 3. Das quatro HQs ali, apenas uma (a menor) é estrelada por Bruce Banner/Hulk, ao lado de Rick Jones como o gigante azulado Bomba A e de uma versão do Deus Marte que lembra o Justiceiro em traje de praia.

Nas outras três histórias, o Hulk Vermelho não só é o personagem principal como:

a) Enfrenta e mata entre outros (ainda que temporariamente) o próprio Hulk Verde, o Surfista Prateado (de quem se apossa da prancha), Terrax e até uma entidade cósmica. Ele só é superado por ninguém menos que Galactus!!!

b) Luta contra o Homem Aranha e a Mulher-Hulk;

c) “contrata” Elektra, Deadpool e Justiceiro para encontrar Dominó, que descobriu a identidade secreta dele sem querer, e se prepara para lutar contra Wolverine (em uma HQ que deve ter continuidade no volume 4).

Tanto o mistério quanto o exagero para reforçar que o personagem era forte foram cansando o público e eventualmente foi descoberto que o Rulk tinha fraquezas e que era o general Thaddeus “Thunderbolt” Ross.

Os poderes  eram fruto do trabalho de duas organizações criminosas, a I.M.A. e a Intelligencia – mais especificamente, o vilão cabeçudo M.O.D.O.K. irradiou Ross com uma mistura de raios gama com raios cósmicos…

Em tempo: também neste período foi criada uma Mulher-Hulk Vermelha, que deve aparecer justamente no volume 4 da coleção A Saga do Hulk durante a briga entre Wolvie e o “gigante rubi”. E, quer adivinhar a identidade secreta dela?

Acertou quem disse Betty Ross, filha do general Ross e eterno amor de Bruce Banner, que até então estava morta nas HQs. E apesar da cor, não confunda a Mulher-Hulk Vermelha com a Hárpia Vermelha, outra mutação da própria Betty Ross que começou como uma harpia verde também criada por M.O.D.O.K. e… esta é outra longa (e confusa) história…

 

O segundo Hulk Vermelho

Em 2017 a Marvel criou uma segunda versão do Rulk.  Integrante dos “Vingadores dos Estados Unidos (US Avengers)”, esse sujeito era originalmente um general chamado Robert Maverick que se voluntariou para testar uma tecnologia chamada “Hulk Plug In”.

O aparelho, localizado no pulso do militar, permite que ele se transforme no Hulk Vermelho por apenas uma hora, mas apenas em intervalos de um dia e meio. O que chamou a atenção em relação a este Hulk Vermelho, porém, foi o fato (ridículo) que, diferentemente do General Ross, ele mantinha o bigodão quando se transformava. E usava ainda um par de óculos escuros espelhados…

Sr. Tirateima vermelho

O Hulk Vermelho mais recente ainda não completou uma década de vida. Para (tentar) entender quem é ele, porém, é preciso retroceder um pouco mais. Tudo começou quando no final dos anos de 1980/início dos 90, os roteiristas da Marvel resolveram ir além do conceito “Dr. Jeckill/Mr. Hide” que inspirou Stan Lee e Jack Kirby a criarem o Incrível Hulk em 1962.

O argumentista Peter David, que assumiu o título em 1987, decidiu que em vez de ter apenas um lado oculto da personalidade que aflorava quando se transformava no Hulk, Bruce Banner tinha um completo desvio de personalidade dissociativa causado por abusos cometidos contra ele pelo próprio pai, na mais tenra infância. Na prática, o bom doutor tinha múltiplas personalidades e não apenas duas.  E dentre estas surgiu “Joe Fix-It”, que no Brasil ganhou a alcunha de “sr. Tirateima”.

Esse Hulk era cinza, inteligente e envolvido com a máfia, além de se vestir com ternos elegantes e gigantescos. Corte dos anos de 1990 para os anos 2000 e Banner/Hulk foi ganhando outras personalidades com diferentes monstros associados a cada uma delas (entre eles o “Hulk Demoníaco/Devil Hulk”).

Além disso, Banner e toda criatura gerada pelos raios gama ganharam, literalmente, um inferno próprio, chamado de Below Place. É nele que, na série Immortal Hulk (2018-2021), a tal personalidade Sr.Tirateima (que diga-se de passagem passou a ser esverdeada e não mais cinza) passa a se transformar também em um novo Hulk Vermelho. O terceiro e (até agora) último deles.

 

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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