Criado pelo canadense Harold “Hal” Foster em 1937, Príncipe Valente é um personagem heroico que se envolve nas mais diferentes odisseias na Europa do século V. A arte de Foster capturou o leitor logo de cara e sempre foi um capítulo à parte da saga. No conceito original do autor, não existem balões. Os textos são sempre colocados dentro dos quadrinhos, narrando a história ou os pensamentos dos personagens, como em uma história ilustrada.
Os desenhos seguem um estilo primoroso e Hal Foster, que também desenhou Tarzan, é considerado o primeiro desenhista a trazer para as HQs as técnicas da chamada “ilustração clássica”. Constantemente celebrado como “o maior – e melhor – desenhista de época medieval”, de maneira proposital Foster misturava um pouco os períodos que desenhava com outros, para obter melhor resultado estético. As armaduras dos personagens, por exemplo, são do século XI, apesar de a história ser ambientada no século V. E a maioria dos castelos, onde quer que os personagens estejam, segue a arquitetura da Normandia.
Ainda assim, o autor era perfeccionista ao desenhar casas, plantas dos locais em que se passava a ação e roupas de época. Às vezes levava esse perfeccionismo ao extremo, mostrando nas HQs pessoas sem dentes e mutiladas, consequência da falta de recursos sanitários e de saúde da época.
Foster, que também foi lutador de boxe e garimpeiro, morreu em 1982. A obra dele foi continuada pelo cartunista John Ridgway e as tiras do Príncipe Valente seguiram sendo publicadas em mais de cem jornais – com versões traduzidas para o francês, o italiano, o espanhol e o português.
Em 1994 e 1995, a Marvel lançou uma minissérie protagonizada por Príncipe Valente. Em 2015, foi a vez da Dynamite – a mesma editora que apostou em uma releitura do Fantasma, desenhada pelo brasileiro Eduardo Ferigato– publicar aventuras do herói no selo King.
No Brasil, onde foi publicado pela primeira vez em tiras no Suplemento Juvenil, nas décadas de 1930 e 40, é possível achar coletâneas das histórias. Em 1999, a extinta editora Tudo em Quadrinhos chegou a lançar a série do personagem originalmente publicada pela Marvel, mas parou logo no primeiro número por problemas internos da publicadora.
Nas telas, o Príncipe Valente apareceu primeiro em participações especiais em desenhos na década de 1970, ao lado de personagens que, como ele, tinham as tiras de quadrinhos comercializadas pela King Features, como Popeye, Fantasma e Recruta Zero.
Em 1991, o Príncipe ganhou uma animação própria na televisão estadunidense, The Legend of Prince Valiant. Com mais de 60 episódios, a atração permaneceu no ar até 1994. O personagem também protagonizou alguns filmes (versões live action),um em 1954 -com o então famoso ator Robert Wagner no papel principal – e outro em 1997.
Vale registrar ainda que em 1991 foi lançado um jogo de Role Playing Game (RPG) baseado em Príncipe Valente e, em 1992, a Nintendo colocou no mercado um game do herói para os consoles da marca.
Enredo
Logo que apareceu, Valente (ou Val, para os mais íntimos) era um rapaz de sangue quente, filho de um rei da Noruega, e trabalhava como escudeiro para Sir Gawain – um dos cavaleiros da Távola Redonda.
Nas primeiras batalhas, disputadas em plenas invasões saxônicas à Inglaterra (450 – 510), Val perde seu primeiro amor, a loira Ilene, ao mesmo tempo em que ganha o título de Cavaleiro da Távola, dado pessoalmente pelo Rei Arthur. A seguir se embrenha em uma série de aventuras, entre as quais uma em que ajuda o rei Aguar de Thule a recuperar seu trono usurpado.
Com a vitória, é presenteado com a “espada cantante”, uma arma praticamente invencível se usada em causas justas. Em uma das aventuras, foi o único sobrevivente da queda do castelo de Andelkrag nas mãos de Átila o huno. Não só sobreviveu como organizou um exército e voltou para acabar com Átila.
No dia 2 de outubro de 1946, após uma longa saga em busca do verdadeiro amor, Val casou-se com a princesa Aleta e resolveu formar família. Para muitos profissionais da King Features, que distribuía a tira, aquele era o final de Valente: afinal, que aventuras poderia ter um guerreiro casado e com família?
Foster mostrou que os críticos estavam errados. E como. Da união de Val e Aleta surgiram cinco filhos, uma neta e dezenas de novas aventuras, a maior parte delas envolvendo o Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda.
Personagens:
Além de Val e de vários personagens históricos da história do Rei Arthur – Sir Gawain, Tristão, Morgana, Mordred e até Merlim – completam a saga os integrantes da família Valente:
Aleta – A sexy esposa de Valente é considerada uma feminista medieval. Rainha da Ilha das Brumas, sabe resolver sozinha a maioria de seus problemas, usando para isso tanto a diplomacia quanto uma afiada adaga.
Arn – Filho mais velho do casal Valente, casou-se com Maeve, filha do irmão malvado de Arthur, Mordred (as relações de parentesco dos personagens da Távola não seguem exatamente a maioria das lendas, nas quais Mordred era filho de Arthur com sua própria irmã, Morgana LeFey). Arn e Maeve tiveram uma filha, Ingrid, considerada herdeira do rei.
Karen e Valeta – As filhas gêmeas do casal Valente e Aleta. Karen, a mais moleca, chegou a ser amazona até se casar com um italiano, Vanni. Valeta, a mais quieta, assumiu as responsabilidades da mãe na ilha das Brumas e namora um druida, Cormac, que dá o elemento pagão à história majoritariamente cristã.
Galan e Nathan – Galan é o filho adolescente de Valente, que promete seguir os passos do pai. Já Nathan é um garotinho de 10 anos, que traz um pouco de clima infantil para a HQ.
Curiosidade: inimigo de Hitler
A história em que o Príncipe Valente derrota Átila, o huno, enfureceu o ditador Adolf Hitler, fã declarado do bárbaro. A HQ foi publicada entre 1939 e 1940 e, por causa dela, Hitler passou a ordenar que as histórias de Valente fossem banidas de cada novo território conquistado por ele na Europa. Hal Foster, por sua vez, deu o troco usando a pena em vez da espada. Ou usando a pena para que Valente usasse a espada: em um cartum publicado em 1944, ele desenhou Val derrotando Hitler – retratado com um huno – num embate.
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