Imagine se o governo descobrisse uma fórmula mágica para tornar todas as pessoas iguais fisicamente e, assim, automaticamente acabar com o preconceito, a discriminação e a violência raciais. Em nome da paz, você seria capaz de abrir mão de sua individualidade?
Este argumento instigante é um dos principais trunfos de X-Men 3: O Confronto Final (The Last Stand), terceiro filme da franquia dos mutantes mais queridos de todos os tempos, em cartaz em todos os cinemas do Brasil neste maio de 2006. E, se nos primeiros filmes dos mutantes o preconceito era discutido de maneira alegórica, aqui ele é escancarado: ser diferente, para a sociedade geral, é uma doença. Não fosse isso, pra que uma cura?
Em X-Men 3, porém, não há muito tempo para reflexão, graças ao ritmo de ação (e mais ação) imposto pelo diretor Brett Ratner – sempre é bom lembrar: Brian Singer, diretor dos primeiros filmes e favorito dos fãs trocou a turma X pelo Super-Homem: ele esta dirigindo Superman Returns, ainda sem data de estreia definida.
O fato é que, em X3, a partir do momento em que o vilão Magneto e uma porção de mutantes poderosos (a famosa Irmandade Mutante) resolvem que eles é que “são a cura” e declaram guerra à humanidade, o filme se transforma em pura adrenalina, sempre permeada por efeitos especiais de primeira linha para ilustrar os poderes mutantes e – como nunca faltam em filmes do gênero – frases cortantes e humor sarcástico.
Além do ídolo incontestável Wolverine (e da sempre bela Hale Berry como Tempestade), duas aquisições em especial chamam atenção do público nesta terceira parte da franquia. O adolescente Anjo – com uma carinha bonita pra conquistar o público teen feminino e a inesquecível cena em que abre as asas – e o fleumático Fera, interpretado pelo não menos “lorde inglês” Kelsey Grammer, estrela do premiado sitcom Frasier (aqui no Brasil, transmitido pelo canal Sony) .
Para os fãs mais puristas dos quadrinhos dos X-Men, no entanto, há alguns motivos de reclamação. Primeiro, eles dizem que o roteiro não segue os quadrinhos, pois mistura uma série de argumentos e inventa outros tantos.
Além disso, há queixas de que alguns mutantes aparecem muito pouco no filme. Por mais que os fanáticos tenham uma dose de razão, é preciso lembrar, em primeiro lugar, que nas mais de três décadas de HQs de X-Men o número de roteiros realizados pode ser contado aos milhares e que, de tempos em tempos, a editora Marvel refaz a cronologia, transforma algumas séries em alternativas e descarta uma boa parte do que até então era “real” sobre os personagens e define uma nova “cronologia oficial” para deixar a história mais coesa.
Isso sem mencionar que existem duas linhas de revistas, a normal e a Milleninum, sendo que esta última reconta toda a história a alterando para os tempos atuais. Ou seja, seria impossível escolher um entre os milhares de argumentos criados para seguir ao pé da letra em um filme, logo a melhor solução é mesmo juntar ideias e adaptá-las.
Quanto a dar mais espaço para outros mutantes, bem, o número deles é tão grande nas revistas X que se isso fosse feito seriam necessários vários filmes (e que o fã não se engane, este não é o último filme da franquia, afinal em Hollywood ninguém mata galinhas que botam ovos de ouro).
Ah, sim, mais um detalhe: há mortes que acontecem que não batem com a dos quadrinhos, ou pelo menos não com a maioria deles. A começar por uma logo nos dez primeiros minutos de filme que, bem, não vamos revelar de quem é, mas é bom dizer que vai ter muita gente comemorando, já que a maioria dos leitores acha este personagem do sexo masculino um tremendo xarope.
É claro que, em um próximo filme, é possível começar com aquele lenga-lenga dos quadrinhos que “foi um clone que morreu”, “uma entidade ou inimigo que havia assumido o meu lugar sem ninguém perceber” ou simplesmente ressuscitar alguém.
De volta a X3, se fãs e não-fãs ainda tiverem dúvidas sobre o que vão ver na tela de cinema, a Internet disponibiliza vários trechos do filme como aperitivos (veja alguns links abaixo). Por fim, um alerta para quem vai ao cinema: não saia antes de terminarem os créditos, pois há uma sequência depois deles que esclarece uma passagem importante no começo do filme.
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