Tom Strong e o ABC dos Quadrinhos

Mundo HQ

Tom Strong e o ABC de Alan Moore

Por Delfin, especial para o MundoHQ

Nos anos 80 o escritor inglês Alan Moore fez vir à luz uma onda revolucionária nos chamados quadrinhos de heróis, que em seguida foi chamada pela grande imprensa de "invasão britânica". Sua influência praticamente ditou novas regras para os roteiristas de todo o mundo, notadamente os norte-americanos. E algumas de suas obras à época foram emblemas: Watchmen, Miracleman, Monstro do Pântano.

Quem mais senão ele mesmo para virar de ponta-cabeça o próprio monstro que ajudou a criar, reintroduzindo a inventividade em um mercado lotado de mutantes, universos paralelos e ressurreições estúpidas?
Moore, 48 anos, inaugurou em 1999 a sua linha de quadrinhos, a America’s Best Co-mics. Ou ABC, como prefere.

Revirando ícones consagrados e distorcendo habilmente os clichês de histórias de ficção e aventura construídos desde os anos 30, ele retrata em cada uma de suas publicações diferentes abordagens e universos heróicos, sempre priorizando a qualidade dos roteiros, bem como o inusitado e o impred-zível.

E é esta nova revolução que o público brasileiro, após mais de dois anos de espera, finalmente vai poder acompanhar. Quem vem com a boa nova é a Pandora Books, que prevê para março a publicação da primeira revista regular da ABC, Tom Strong, que reunirá, além do personagem-título, a série policial Top 10.


Cada edição apresentará uma história completa de cada série, como é a postura editorial da ABC. Em tempo: com esta linha de quadrinhos, Alan Moore arrebanhou diversos prêmios importantes, entre eles o Eisner e o Harvey, considerados respectivamente o Oscar e o Globo de Ouro dos quadrinhos.


Em Tom Strong, com arte de Chris Sprouse, nos deparamos com um herói centenário que vive com sua família, um gorila falante e seu mordomo-robô em Millenium City, uma cidade futurista ao extremo, vivendo aventuras dignas dos melhores pulps (os livrinhos de aventuras que até hoje podemos encontrar nas bancas), lutando contra astutos inimigos utilizando principalmente suas maiores armas.

Que, ao contrário do que o título sugere, são a ciência e a inteligência. Mas sempre com muita ação. Já a segunda série, Top 10, pode ser mal-definida como uma mistura de séries policiais baratas de tevê com, digamos, os Superamigos.


Neste universo, absolutamente todas as pessoas possuem algum tipo de super-poder ou excepcionalidade. E é necessária uma força policial especializada para cuidar dos problemas que esta situação traz, como colisões dimensionais, disputas entre deuses rivais, ameaças alienígenas ou uma captura a um assassino serial. E tudo dentro da mais perfeita normalidade, pois, para os policiais do 10º Distrito de Neópolis, esta é a condição real.
A Pandora já havia publicado há alguns meses a premiada minissérie-prelúdio da ABC,

As Aventuras da Liga Extraordinária, também de Moore, que relata as histórias dos maiores heróis ingleses do fim do século XIX. Uma inusitada reunião vislumbrada pelo autor a partir de suas pesquisas sobre a época, realizadas para a manufatura de outra grande obra recentemente adaptada para o cinema, Do Inferno.

Segundo Maurício Muniz, editor da Pandora, a postura da editora é continuar publicando quadrinhos de qualidade para os leitores que ficaram órfãos das boas histórias de heróis. E parece mesmo ser verdade: a editora promete o lançamento de mais dois títulos de peso, ainda no primeiro semestre: Planetary, de Warren Ellis, e Crimson, de Humberto Ramos.

Embora o formato das revistas possa ser reduzido em relação ao original (o que prejudica um pouco a arte das revistas, mas reduz seu custo ao leitor), isto não minimiza o lançamento, no qual o Alan Moore nos pega pelas mãos e nos ensina, página a página, esta nova cartilha de super-heróis e aventura, demolindo e ao mesmo tempo reconstruindo as estruturas narrativas, o que ele faz como poucos.
Aos leitores resta ler com atenção as palavras do mestre… e curtir. Pois o que vemos ainda são heróis, sem dramalhão, com reflexão, e acima de tudo a serviço de nosso entretenimento. Palmas a isto!

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Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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