Predador(a)!

Quando chegou aos cinemas em 1987, O Predador apresentou ao público um tipo de alienígena diferente do que se via nas obras de ficção. Até então, o foco dos ETs em geral variava entre conquistar o planeta (desde o clássico livro A Guerra dos Mundos, lançado por H.G. Wells em de 1898), se reproduzir usando humanos como comida/incubadora (caso do clássico Allien, o 8º Passageiro, de 1979) ou ter boas intenções e acabar nas mãos de humanos cruéis (como bem ilustrou E.T., O Extraterrestre, de 1982).

No filme estrelado por Arnold Schwarzenegger, porém, o antagonista alienígena é uma criatura de outro planeta que vem até a Terra simplesmente para…caçar. E as presas são as criaturas mais fortes que ele puder encontrar no planeta, para a infelicidade da tropa de Dutch, personagem vivido pelo ator austríaco, e dos guerrilheiros da América Central que haviam sequestrado as autoridades que os soldados tentavam resgatar.

Com muita ação e tripas para todos os lados, O Predador foi um sucesso arrebatador na época e inspirou (até agora) três outros longas – em 1997, 2010 e 2018. Ainda que em ambientes – e com roteiros – diferentes, a ideia das sequências era sempre a mesma: um Predador (ou mais) caçava humanos por esporte, levando como troféu a cabeça das presas, que tentavam a todo custo sobreviver e, se dessem sorte, eliminar o caçador.  Mas a HQ Predador, série lançada em 2022 nos EUA e neste ano no Brasil, pela Panini Comics, inverte a narrativa. Desta vez, o Predador irá se tornar a caça.

Com roteiros de Ed Brisson (que já fez Motoqueiro Fantasma e Novos Mutantes, entre outros) e desenhos de Kev Walker (John Constantine: Hellblazer e Zumbis Marvel ), o primeiro volume lançado no Brasil – batizado por aqui de O Dia da Caçadora – tem 160 páginas e reúne todas as seis edições originais que compõem o primeiro arco da HQ.

A história se passa em um futuro no qual os seres humanos têm pleno domínio da alta tecnologia e viajam pelo espaço explorando outros planetas.  O ano é 2041 e a família da menina Theta Berwick está em um desses planetas, fazendo reconhecimento da fauna e da flora do local. Tudo parece ir bem até que o pai da garota pressente o perigo e manda que ela e a esposa sigam de volta para o assentamento praticamente ao mesmo tempo em que aqueles famosos três pontinhos vermelhos da mira da arma de um Predador apareçam em seu peito.

A partir desse ponto (e não se trata de spoiler, já que a informação faz parte da sinopse impressa na contracapa do gibi), a criatura fará um verdadeiro massacre do qual apenas a menina, por muito pouco, irá escapar. E só graças ao sacrifício da mãe – que antes de morrer consegue cortar um dos apêndices mandibulares do assassino, deixando-o marcado para sempre – e da Inteligência Artificial da nave, conhecida como “Sandy.”

E é aí que começarão os problemas da raça dos Predadores (que, vale lembrar, foi batizada de yautja), já que a menina irá crescer com um só pensamento na cabeça: vingança. E, para azar dos caçadores intergalácticos, Theta não vai só pensar e, sim, agir.

O leitor descobrirá isso logo nas primeiras páginas, já que a HQ se inicia em 2056 (os acontecimentos trágicos envolvendo a família da menina são mostrados em um flashback posterior) e ela já se tornou uma aniquiladora implacável, que dedicou os últimos 15 anos caçando o responsável pela morte dos pais. E eliminado todos os demais integrantes da espécie dos yautja que encontrou no caminho.

Ou seja, Theta se transformou no pesadelo dos próprios algozes. A predadora, agora, é ela.

Um mérito do argumento é mostrar que a caminhada da moça para chegar até esse ponto teve um preço alto (inclusive em partes do corpo) e continuará a ter. Em determinados momentos da caçada, ela acabará sendo vista com outros olhos por raças que já se defrontaram com os Predadores originais e irá colocar em risco outros humanos.

Mas nada será suficiente para aplacar a sede de vingança de Theta, talvez nem mesmo a cabeça do assassino dos pais dela.

O bom argumento da HQ está longe de ser o único mérito de O Dia da Caçadora, já que arte de Kev Walker é um capítulo à parte.  O desenhista se destaca na criação das diferentes criaturas e, em especial, nas cenas de ação e batalhas (algumas delas grotescas e no melhor estilo gore).

Também usa habilmente tanto contrastes de claro e escuro como cores frias e quentes para destacar o que está acontecendo na história. Não bastasse tudo isso, se utiliza com maestria das onomatopeias de maneira gráfica, reforçando movimentos ou fluxos da ação.

Por falar em arte, a edição da Panini traz, ao final, várias páginas extras contendo capas alternativas às edições. Produzidas por diferentes desenhistas e em estilos distintos, elas trazem outras visões do Predador que valem a pena de ser conferidas.

Algumas delas são até mesmo engraçadinhas, como a do ilustrador Skottie Young , famoso por Little Marvels, as versões fofinhas e infantis de heróis e vilões da editora do Homem-Aranha e companhia. E a ainda autores que se aproveitaram do fato de O Predador – segundo a mítica dos filmes – visitar a Terra desse tempos imemoriais para colocar o personagem em cenários das próprias HQs que desenham.  É o que faz Stan Sakkai, autor de Usagi Yojimbo, que desenha o caçador alienígena em meio a um combate no Japão feudal.

Em tempo: a Panini já anunciou o segundo volume da série, Reserva de Caça. Reunindo os volumes 1 a 5 do segundo arco publicado originalmente em 2023, a edição já está em pré-venda e promete “um banho de sangue.” Alguém duvida?

NOTA DO CRÍTICO: Esse é bom

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

Comentar

Follow us

Don't be shy, get in touch. We love meeting interesting people and making new friends.

Most popular

Most discussed

Nós usamos cookies para melhorar sua experiência. Ao continuar, você concorda com nossa Política de Privacidade.