Luluzinha (Little Lulu)

Em 1935, a estadunidense Marge Henderson Buell, considerada uma pioneira do sexo feminino na profissão de cartunista, criou Little Lulu, uma garotinha inteligente e teimosa que fez sua estréia logo de cara conquistando os leitores jornal Saturday Evening Post.

Apesar de praticamente ter criado logo de cara todo o elenco que acompanharia a garotinha nas HQs, no início os quadrinhos de Buell publicados no jornal se resumiam a uma gag (piada curta e rápida) de apenas um painel, sem continuidade ou grande desenvolvimento de personagem, na qual quase sempre aparecia apenas Luluzinha.

O sucesso foi aumentando e a personagem chegou a ser a garota-propaganda dos lenços de papéis Kleenex por mais de uma década (a relação foi cortada quando a popularidade de Lulu estava no auge nos EUA, entre as décadas de 1940 e 50). A cartunista desenhou pessoalmente as tiras de jornal até 1947 e, a partir daquele ano, foi sucedida por outros artistas, que sempre seguiram o estilo da autora.

Já nos quadrinhos, Marge apenas aprovava as HQs. Todas as histórias publicadas em gibi – que nos EUA foi lançado em 1945 e durou até o início dos anos 60 – eram feitas por John Stanley. Este cartunista era, a princípio, o único criador dos desenhos e das histórias para revista em quadrinhos.

No início, o trabalho de Stanley era praticamente copiar a arte de Marge, mas conforme o sucesso das HQs foram crescendo e havia necessidade de mais e mais HQs, Stanley acabou dando o trabalho de desenhista para Irv Tripp, que desenvolveu um traço mais “fofinho” para os personagens – que permanece até hoje.

A partir de então, Stanley e Tripp trabalharam sempre como equipe, Stanley escrevendo e fazendo os rascunhos das HQs e Tripp fazendo a arte final.

No Brasil, os quadrinhos de Luluzinha chegaram na década de 60 – alguns estudiosos apontam para a existência de tiras de Lulu já nos anos 50, mas a informação é controversa – e desapareceram (inicialmente) sem muito alarde nos anos 80.
Não se sabe ao certo se acabaram porque já haviam sido publicados todos os originais da dupla Stanley e Tripp ou se isso ocorreu porque os leitores, nesta época, já haviam trocado Lulu pela Mônica.
Marge Buell também vendeu direitos da personagem para a produção de desenhos animados, em 1943. Assim como fazia com os bonecos e brinquedos (que fizeram muito sucesso no Brasil na década de 70) ela manteve em todos os contratos seu “direito de controle da autora”, garantindo assim um padrão de qualidade. Assim, todos os brinquedos, HQs e desenhos tinham de ser aprovados por ela antes de irem para o público.
O Famous Studios foi o produtor dos desenhos até 1948. Estas animações eram consideradas as melhores já produzidas por muitos dos fãs. Outros estúdios menores produziram desenhos da personagem nas décadas de 50 e 60, sem tanto sucesso. E apareceu até um anime no Japão: Ritoru Ruru to Chitchai Nakama (Little Lulu and her little friends), veiculado em 1976 e 1977.
No final dos anos 90 os estúdios da HBO criaram um novo desenho, que atualmente é exibido tanto na TV a Cabo quanto no SBT (aqui no Brasil) e que se tornou sucesso imediato. Realmente vale a pena ver o desenho, que inclui sempre uma abertura (e finalização) na qual Lulu dá uma de comediante standup, no melhor estilo Jerry Seinfield.
Luluzinha continua a ter fãs no mundo inteiro e as bonecas originais da personagem, lançadas na década de 60, são vendidas atualmente por até US$ 2000,00 a colecionadores. A primeira edição do gibi, em inglês, vale US$ 700,00.
No Brasil, apesar do sumiço nos anos de 1980, Lulu já teve revistas mensais de quadrinhos lançadas em diversas épocas, além de coletâneas de HQs e tiras no formato livro.
Também por aqui, em 2009, na esteira do sucesso de Turma da Mônica Jovem, foi lançado uma publicação nacional com versão teen dos personagens.
A quadrinista Bilquis Evely – hoje renomada pelo trabalho que desenvolveu em títulos como Supergirl, Mulher Maravilha e O Sonhar – iniciou profissionalmente como desenhista na publicação, onde permaneceu até 2012 (a série foi encerrada em 2015).
Enredo
Lulu Moppet é uma garota inteligente e teimosa de um típico bairro de subúrbio americano. Ali, vive as mais diversas aventuras infantis ao lado de sua turminha (veja personagens). Além das brincadeiras de criança, disputas entre meninos e meninas e investigações malucas ao lado (ou não) do colega Bolinha, as HQs também entram no reino da fantasia quando Lulu conta histórias de fada (e de bruxa, ou melhor, bruxas: Alcéia e Meméia) para o pentelho, quer dizer, pequeno Alvinho.
Personagens
Luluzinha é a personagem principal. Inteligente e teimosa, ela adora mostrar que é mais esperta que o amigo Bolinha e sua turma – Lulú, por sinal, tem uma queda por Bolinha. Quando não está brincando ou em disputas com os meninos, Lulu gosta de fazer chás de bonecas com a amiga Aninha ou de contar historinhas a Alvinho – nestas histórias cheias de moral ela é sempre a heroína, geralmente na pele de “uma pobre menininha”.

Bolinha é uma espécie de namorado de Lulu, apesar de ser apaixonado por Glória, a menina mimada da vizinhança. Ele é o dono e presidente do clubinho local, no qual “menina não entra”. Sempre em busca de uma refeição a mais (de preferência de graça), Bolinha chegou a ter seu próprio gibi, de 1953 a 1958. O gorducho, cujo nome original é Tubby, também pode ser visto dando uma de detetive, tentando resolver mistérios da turminha. Nestes casos ele adota a “identidade secreta” de “O Aranha”. Nestes casos invariavelmente o culpado é sempre o pais de Lulu, que na versão brasileira ganhou (entre outros) o nome de “seu Palhares”. O mais engraçado é que, de uma forma ou de outra, Bolinha sempre estava certo quanto à culpa de Palhares… Bolinha também viveu algumas aventuras com simpáticos homenzinhos de Marte, que tinham poderes de transformação e o ajudavam em histórias bem malucas.

Alvinho (Alvin) é um garotinho pentelho que adora pegar no pé de Luluzinha e do resto da turma, que não suporta o menino porque ele quer tudo e vive chorando. Lulú é a única que agüenta o menino e o distrai com historinhas de bruxa na qual ela é a heroína e ele um garotinho mimado. Na maioria das vezes, porém, Alvinho não entende a moral e acaba se metendo em mais encrenca.

Aninha (Annie) é a melhor amiga e companheira de Luluzinha. Ingênua ao extremo, ela é facilmente tapeada pelos meninos e Luluzinha vive ajudando a amiga a virar o jogo. Aninha também adora suas bonecas, que são constantemente raptadas por Bolinha e pelo próprio irmão dela, Carequinha.
Plínio Raposo (Wilber von Snobble) é o garoto rico e metido que se considera bom demais para andar com a turma de Lulú, apesar de estar sempre no meio dela. Plínio é (ou tenta ser) namorado de Glória, o que o torna “inimigo natural” de Bolinha. Às vezes Plínio também dá em cima de Luluzinha (o que também o torna “inimigo natural” de Bolinha).
Glória é a rival de Lulu quando o assunto é Bolinha, se bem que a própria Luluzinha adora usar Bolinha para despertar ciúmes em Plínio, por quem tem uma queda. Luluzinha acha Glória um tanto fresca e excessivamente “mulherzinha”, mas as duas às vezes conseguem ser boas amigas.

Carequinha é melhor amigo de Bolinha e um dos integrantes da turma. Geralmente Careca é durão, mas quase sempre dá para trás quando os garotos encrenqueiros da turma Leste começam a pegar no pé de Bolinha e sua turma.

Curiosidade: Musa da Jovem Guarda

Apesar de os quadrinhos de Luluzinha terem acabado nos anos de 1960 nos EUA, foi justamente nesta década e na de 70 que Luluzinha ficou mais famosa no Brasil. O auge do sucesso foi atingido com uma música da Jovem Guarda dedicada à personagem, chamada de “Festa do Bolinha”. A canção tem letra de Erasmo e Roberto Carlos, mas ficou famosa com o Trio Esperança (veja a letra a seguir). Também nesta época eram comercializados no Brasil bonecos de Bolinha e Luluzinha em “tamanho natural”, que faziam sucesso entre as crianças por aqui. Confira a letra da música:

Eu ontem fui a festa,
Na casa do Bolinha.
Confesso: não gostei
Dos modos da Glorinha
Muito assanhada,
Nunca vi igual,
Trocava mil beijocas com Raposo no quintal
Porém pouco durou
Aquela paixão,
Pois Bolinha com ciúmes
Armou a confusão
Aninha tropeçou
Os copos derrubou
E a casa do Bolinha num inferno se tornou
Bolinha provou,
Que é ciumento pra chuchu
E… que não gosta da Lulu
Bobinha,
Que por ele ainda chora…
Com tanto pão
Dando bola no salão
Luluzinha foi gostar
Logo de um bolão!!!

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

Comentar

Follow us

Don't be shy, get in touch. We love meeting interesting people and making new friends.

Most popular

Most discussed

Nós usamos cookies para melhorar sua experiência. Ao continuar, você concorda com nossa Política de Privacidade.