Asterix

Em outubro de 1959, os franceses Albert Uderzo e René Goscinny, que então possuíam uma editora junto a outros três amigos, foram procurados por François Clotaud com a proposta de criarem uma história em quadrinhos francesa para crianças. A maior parte da garotada francesa, na época, lia apenas quadrinhos estadunidenses

A ideia original da dupla era usar uma história francesa tradicional, de Roman de Renart, como tema. Renart usava animais como personagens, “mostrando que Walt Disney não criou este estilo.” Uderzo e Goscinny já tinham feito a primeira página quando um amigo, Raymond Polivet, avisou os dois que outro cartunista, Jean Trubert, já tinha feito isso. A primeira edição da revista para qual a história estava sendo feita (a Pilote) tinha de sair em alguns meses e rapidamente a dupla precisava achar um outro tema. E assim surgiram os gauleses mais famosos das HQs.

Em seus mais de 60 anos de existência, Asterix já protagonizou um número superior a três dezenas de livros de Histórias em Quadrinhos, que já venderam pelo menos 300 milhões de exemplares em 77 países. Além de fazer os magníficos desenhos, Uderzo passou a escrever sozinho os argumentos quando o parceiro morreu, em 1977, o que representou uma leve queda na diversão e inteligência dos roteiros (bem leve, é bom frisar, mas dá pra notar a diferença).

Nos últimos anos de vida, Uderzo contou com a colaboração da filha de Goscinny, Anna. Uma das últimas aventuras desenhadas por Uderzo foi O Dia em que o céu caiu, lançada no Brasil em 2005. Muita gente na época achou que seria a aventura derradeira do personagem, até porque o então quase octagenário Uderzo levou quatro anos para finalizar a obra. Contudo, em 2009 Uderzo anunciou o livro 34 – uma homenagem aos 50 anos de Asterix – e ainda a terceirização do personagem.

A dupla Jean-Yves Ferri (argumentos) e Didier Conrad (desenhos) assumiu o título com as bençãos do criador – que acabou falecendo em 2020, aos 92 anos –  e desde então vem fazendo um excelente trabalho. Até 2025  foram lançados cinco livros pela nova dupla e um último (L´Íris Blanc, de 2023), no qual Fabcaro substituiu Ferri nos argumentos.

Asterix também é estrela de vários desenhos animados e adaptações em de desenhos animados quadrinizadas. Asterix e Obelix ganharam – até 2024 – cinco versões live action.  A primeira, Asterix e Obelix contra César, teve investimentos de US$ 40 milhões (estreou no Brasil em 12 de maio de 2000), e Christian Clavier e Gerard Depardieu nos papéis principais. Só no primeiro dia de exibição na França, o filme arrecadou US$ 2,8 milhões.

Clavier participou apenas dos dois filmes iniciais, mas Depardieu, perfeito como Obelix, manteve o papel em quatro deles, tendo sido substituído por Gilles Lellouche no quinto filme, Asterix e o Reino do Meio (2023). Um sexto filme está previsto para 2025 (Asterix e Obelix: o combate dos chefes).

Asterix e companhia também viraram produtos de merchandising, videogames, memorabília, etc. A página do personagem na Internet recebe mais de 40 mil visitas por dia.

 Enredo

O ano é 50 antes de Cristo e os exércitos do imperador Júlio César invadiram e conquistaram toda a Gália. Toda mesmo? Não, uma pequena aldeia na península resiste ao invasor. Nela, um grupo de guerreiros bigodudos e brigões gostam de curtir a vida cantando e comendo javalis assados.

E, sempre que os romanos tentam dominar a aldeia, os bravos gauleses dão uma surra nos invasores, graças à inteligência do guerreiro Asterix e a uma poção mágica preparada pelo druida Panoramix, que dá superforça para quem a bebe durante algum tempo. Ah, sim, não nos esqueçamos ainda da força bruta de Obelix, que caiu no caldeirão da poção quando ainda era pequeno e, por isso, nele os efeitos são permanentes.

Partindo deste enredo razoavelmente simples, Uderzo e Goscinny criaram uma das histórias em quadrinhos mais fantásticas de todos os tempos. Com muito bom humor, as histórias de Asterix retratam as mais diversas culturas do mundo e os hábitos de cada cultura. Os ingleses, por exemplo, nunca perdem a calma e falam “tudo ao contrário”, como na língua inglesa (eles têm, por exemplo, “semanas-fim” e não finais de semana) e todos os dias param de lutar contra César pontualmente às cinco da tarde para tomar quente água com um pingo de leite (se lhe apraz) e, às vezes, uma morna cerveja.

Nas histórias também aparecem vários personagens históricos – além de César, Cleópatra e Brutus, por exemplo – e há inúmeras piadas e observações cáusticas com acontecimentos históricos importantes até hoje, como, por exemplo, as Olimpíadas. Além dessa aula de história diferente, as HQs de Asterix e Obelix têm ainda brincadeiras com nomes e trocadilhos.

Os nomes dos gauleses, por exemplo, terminam todos em “ix” (Abracurcix, Veteranix, Chatotorix, Pneumatix, etc). Já os normandos (vikings) têm todos os nomes com “af” no final, os romanos terminam em “us” e assim por diante.

Também aparecem nas HQs personagens do mundo real transformados em desenho, como, por exemplo, o autor Kirk Douglas, que virou o ex-escravo Spartakis, e Arnold Schwarzenneger dá rosto e corpo aos robôs de batalha de um dos alienígena que visita a aldeia no último trabalho desenhado por Uderzo.

Personagens 

Asterix – Baixinho, loiro e bigodudo, o guerreiro gaulês é bem-humorado, sagas e muito astuto. Anda sempre em companhia de Obelix, seu melhor amigo.

Obelix – Quando era pequeno, o inseparável amigo de Asterix caiu no caldeirão de poção mágica do druida e, por isso, os efeitos da poção nele são permanentes. Além de guerreiro e bom companheiro, é carregador de menires, adora comer javalis assados e não raramente se separa de seu cãozinho, Idéiafix. E acha que os romanos são loucos.


Têm destaque ainda: Panoramix, o druida; o cachorro Ideiafix; o bardo Chatotorix; Abracurcix, o chefe da vila, e sua mulher Naftalina; Veteranix, o guerreiro decano; Ornalfabetix, o peixeiro, e sua mulher, Yellowsubmarina; Automatix, o ferreiro; César, Brutus, Cleópatra e os azarados piratas, entre outros.

Curiosidade: História quase não saiu 

Uderzo e Goscinny não sabiam, mas a ideia de usar gauleses como personagens já tinha sido usada duas vezes antes que eles criassem Asterix: em um personagem televisivo criado pelo apresentador Jean Nohain e em outro personagem de quadrinhos.

“Quando descobrimos, a primeira edição com Asterix já estava publicada. Se tivéssemos descoberto isso antes, Asterix e os gauleses nunca teriam existido”, contava Uderzo.

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

Comentar

Follow us

Don't be shy, get in touch. We love meeting interesting people and making new friends.

Most popular

Most discussed

Nós usamos cookies para melhorar sua experiência. Ao continuar, você concorda com nossa Política de Privacidade.