Asterix: 50 anos e um “livro de ouro”

Mundo HQ

O guerreiro gaulês mais famoso do planeta completa 50 anos neste mês de outubro de 2009 e, no dia do aniversário (quinta, 29), será lançado o álbum de número 34 do personagem: O Aniversário de Asterix e Obelix, o Livro de Ouro – esse é o título para Portugal e que pode ser adotado aqui no Brasil.

Ao todo, a nova obra trará 12 histórias curtas, algumas republicadas (e portanto com texto do outro criador da dupla, o já falecido René Goscinny) e outras inéditas. “Ele difere um pouco dos álbuns clássicos, porque são histórias curtas nas quais o tema sempre remete de alguma forma ao aniversário dos personagens”, diz Uderzo, que prefere não revelar detalhes, mas entrega que haverá uma história na qual o jubileu é comemorado em uma festa na aldeia com a presença de todos os personagens marcantes – entre os quais Júlio César e Cleópatra (aquela que tem um belo nariz, caso alguém não tenha notado…).
Também haverá – entre outras homenagens – o lançamento de um selo comemorativo na França, um musical temático no Teatro Champs-Elysees e uma exibição de originais da dupla no Museu Cluny de Paris (que também colocou em exposição imitações de quadros famosos estrelados por Asterix e Obelix). A principal novidade, porém, fica por conta da terceirização do personagem: após um litígio jurídico com a própria filha, Sylvie, que questionou a ação do pai, Uderzo vendeu sua editora e passou os direitos de produzir Asterix para a publicadora Hachette.
O negócio foi iniciado em 2008 e, com o fim do imbróglio jurídico, agora está concretizado. Na prática, isso significa que, a partir deste ano a editora poderá produzir novos livros de Asterix e Obelix, com os desenhistas e roteiristas que escolher. Para fazer o traço, já foram chamados dois discípulos e assistentes do próprio Uderzo, Fréderic e Thierry Mébarki. Os futuros roteiristas permanecem indefinidos – ou tendo seus nomes guardados a sete chaves.
Será que o hoje octagenário Uderzo acertou ao “passar para frente” o personagem? Quando Goscinny morreu (em 1977) e Uderzo passou a voar solo, as histórias de Asterix deixaram de ser geniais e caíram um patamar: passaram a ser “apenas” ótimas. As HQs dos gauleses tinham até então equilíbrio perfeito entre os soberbos argumentos do falecido roteirista e o traço maravilhoso de Uderzo.
Com a morte do parceiro, o desequilíbrio tornou-se evidente, mas foi compensado por Uderzo: se as piadas não eram mais tão elegantemente elaboradas, nem por isso as aventuras do baixinho bigodudo passaram a ser menos atraentes aos leitores.  Pelo contrário, o desenhista – com ajuda da filha de Goscinny, Anne – se esforçou ao máximo para compensar a ausência do amigo. 
Escolheu temas interessantes (como o feminismo e a solteirice convicta de Asterix em “A Rosa e o Gládio”), fez homenagens a famosos (entre eles Kirk Douglas retratado como Spartacis na “Galera de Obelix”) e metáforas da situação mundial e dos quadrinhos – como na aventura 33, O Dia em que o céu caiu, na qual Asterix se vê envolvido na briga entre mangás e quadrinhos ocidentais, com direito a referências claríssimas ao então presidente estadunidense George W. Bush.
Anne Gosciny e Uderzo na coletiva sobre o álbum dos 50 anos: histórias curtas sobre aniversário
Mas se sobreviveu à morte de Goscinny, não se esperava que sobrevivesse à aposentadoria de Uderzo: o velho mestre levou quatro anos para produzir o número 33 (que por aqui saiu com numeração diferente, 32) e já na época deu inúmeras indicações de que aquele era o último número. Agora, porém, fará o derradeiro em homenagem ao cinqüentenário do gaulês e, diferentemente do que se imaginava, passou o bastão para frente, autorizando a nova editora a terceirizar desenhos e argumentos de Asterix.
Quando Charles Shulz faleceu, levou com ele os direitos de desenhar seu personagem, Snoopy, algo que só ele fez a vida inteira – desde então, só desenhos animados inéditos podem ser produzidos, nada de tiras ou quadrinhos. Will Eisner, mesmo antes de falecer, permitiu a retomada de Spirit por outros artistas, uma tacada certeira que revitalizou o personagem, mas com o mesmo estilo de seu criador.
Quando Goscinny morreu, Uderzo tocou o barco sozinho. Agora, vendo-se em idade avançada, Uderzo foi obrigado a decidir se Asterix continuaria ou não sem ele. Se a decisão será ou não acertada, o tempo dirá, mas, diferentemente de seus autores, Asterix não precisa se preocupar com seu destino. Mesmo que os novos desenhistas e roteiristas façam com que as histórias mais uma vez desçam de patamar (de “ótimas” para “boas”?), Asterix há tempos já se tornou imortal. Justamente graças a Uderzo…e Goscinny.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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