Caverna do Dragão: o início e o fim

7 de setembro de 1983.  Naquele sábado, as crianças dos Estados Unidos assistiram pela primeira vez as aventuras de seis garotos – Hank, Sheila, Bobby, Presto, Diana e Eric – em um mundo de fantasia, no qual foram parar depois de entrarem em um estranho brinquedo (chamado Dungeons & Dragons) em um Parque de Diversões. Começava ali a primeira de uma série de 27 aventuras que, durante três anos, cativaram milhares de fãs em todo o mundo.

O desenho foi  criado em parceria pela TSR (que fazia os games de RPG Dungeons & Dragons, ou, em português, “Masmorras e Dragões” ), a Marvel Productions e a Toei Animations. No Brasil, chegou ainda na década de 1980, no programa infantil Xou da Xuxa. Muitos marmanjos, porém, se apaixonaram de cara pela animação que misturava na medida certa aventura e fantasia.

O primeiro episódio, que mostra como os garotos chegaram naquele mundo, nunca foi feito. Na realidade, isso era mostrado na abertura do desenho, que tinha pouco menos de um minuto. Nela a turminha aparecia entrando em um carrinho do brinquedo ‘Dungeons & Dragons’, uma espécie de Trem Fantasma/Montanha Russa.

Mas assim que o carrinho entra no brinquedo, os seis são jogados para um outro mundo, sem entender nada e já com estranhas roupas. Uni, uma filhote de unicórnio, aparece e vai ao encontro de Bobby, fugindo do gigantesco dragão Tiamat, que aparece logo em seguida.

Os garotos correm do monstro, enquanto o Mestre dos Magos (que estava observando tudo) vai dando à eles armas mágicas. De repente aparece o Vingador, que luta contra Tiamat e, na batalha, ambos acabam se afastando dali. O Mestre dos Magos se apresenta e aí acaba a abertura, que obviamente a Rede Globo (como sempre fazia) cortou logo nos primeiros episódios, afinal tempo de exposição na TV é (muito) dinheiro.

Cada um dos garotos recebe roupas e armas compatíveis com personagens do Role Playing Game que inspirou o desenho (bem, quase todos…). Hank se torna um ranger, armado com um arco de flechas de luz; Presto, um mago (com chapéu mágico); Eric, um cavaleiro com escudo super-resistente; Bobby, um bárbaro com uma clava poderosíssima. Sheyla ganha uma capa de invisibilidade (ela é uma ladra ou ladina, como preferir) e Diana ganha uma vara mágica (se alguém souber qual classe de herói de RPG usa uma, favor avisar… no desenho ela é a “acrobata”)

O misterioso Mestre dos Magos aparece em todos os episódios dando pistas aos garotos que sugerem um caminho para casa. Ao procurarem por eles, no entanto, os meninos acabam encontrando os mais diversos tipos de monstros e vilões e, a cada desenho, vão livrando aquele mundo de um pouco do mal que existe ali – cujo principal representante é o terrível Vingador.

O desenho chegou ao fim abruptamente e, logo depois, começaram a circular boatos absurdos que afirmavam que na realidade Caverna do Dragão era um desenho sobre seis crianças que haviam morrido em um acidente em um Parque de Diversões. Segundo os boatos, o último episódio mostraria que o reino era na verdade o Inferno e o Mestre dos Magos era o demônio, que os confundia para manter suas almas ali.

Por esta mesma teoria, o dragão de cinco cabeças Tiamat (que na verdade era uma Rainha/Deusa Dragão, apesar da dublagem brasileira colocar uma voz masculina e chamarem a criatura no masculino) seria um anjo que tentava libertar os garotos.

A teoria absurda, porém, foi desmentida pelos criadores do desenho, que divulgaram então, amplamente, o script do último capítulo, Réquiem (clique aqui para ler, na íntegra, a história do último episódio, que nunca foi produzido oficialmente*)

Neste último episódio, após muita confusão entre si e aventuras, os garotos libertavam o Vingador de uma maldição e ele se tornava bonzinho. Na verdade, quem acompanhava a série  já tinha recebido pistas de que havia uma maldição sobre o vilão. Em um deles (Cemitério dos Dragões), o Mestre dos Magos já havia chamado o Vingador de “filho” e em outro, dizia aos garotos: “O Vingador foi MEU erro”.

E, realmente, como é revelado no último episódio, o Vingador era o filho do Mestre e, uma vez terminada a maldição, ambos abrem um portal para os garotos voltarem. Só que o anãozinho diz aos garotos que, se eles quiserem, podem continuar por ali vivendo novas aventuras e derrotando outras forças do mal (o demônio das sombras, talvez?).

“Caverna do Dragão acabou porque acabou o dinheiro. Fomos comunicados pelos responsáveis que não havia interesse em continuar a série e então fizemos um roteiro para um episódio final que terminasse de maneira aberta, sem mostrar a decisão dos meninos porque, se uma outra produtora quisesse comprar os direitos e investir em uma continuação do desenho, seria possível começarmos de onde paramos, apenas mostrando eles decidiram ficar e continuar ajudando aquele mundo. Mas infelizmente sequer foi possível produzir aquele episódio, que acabou ficando só no papel”, contou ao Mundo HQ o roteirista Mark Evanier, que fazia parte da equipe de criação e é uma das mentes brilhantes também por trás dos roteiros de Garfield e Groo, o Errante.

Ainda hoje, de quando em quando, os desenhos de A Caverna do Dragão voltam a aparecer perdidos em alguma TV aberta. Para quem ainda tem DVD, em 2012, foi lançado no Brasil o box contendo todos os episódios.**

* Na segunda década do ano 2000, em especial, alguns fãs fizeram versões próprias do roteiro e até disponibilizaram as produções caseiras do último episódio no Youtube.

** Em 2014 foi lançado um canal no Youtube contendo todos os episódios.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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