Não dá pra resistir ao trocadilho: Aladdin, lançado pela Disney em 2019, é um filme genial. E é também um remake live-action da animação de 1992, ou seja, uma releitura do roteiro do desenho animado – igualmente genial – de quase três décadas atrás, feito com atores “de verdade” e muitos efeitos e animações de computador.
Por essa razão também é impossível resistir a comparar um com o outro, o que, convenhamos, é um pouco injusto. Afinal, não só o desenho usou técnicas então inovadoras para uma animação como há coisas que o gênio dublado por Robin Willians faz na animação que são praticamente impossíveis que Will Smith faça, por melhores que sejam os efeitos especiais existentes. Mas, acredite, são poucas coisas.
Se a ideia for comparar, há sites que se deram ao trabalho de elencar mais de 30 diferenças entre o desenho e o filme, basta dar um google por aí. Contudo, é algo, sinceramente, desnecessário. Se o filme fosse absolutamente igual ao desenho, não haveria necessidade de fazê-lo, certo?
Então a sugestão a quem já viu o desenho animado é ir com a mente e o coração abertos, certos de que haverá, sim, uma agradável sensação de “eu já vi isso” ou “que legal ficou essa cena”, mas sabendo que o filme é igual ao desenho, mas é diferente… Igual na ideia geral, no fato de ser uma ótima história, com boas músicas e sacadas inteligentes, diferente em uma série de detalhes que enriquecem a narrativa.
Para começar, Will Smith está ótimo como o gênio. Em vez de tentar imitar o hilário histrionismo de Robin Willians, Smith se encaixou no personagem do jeito dele e o resultado é cativante.
Não é melhor nem pior que Willians, é simplesmente um outro gênio. Rouba a cena em momentos já conhecidos como as coreografias de “Príncipe Ali” e “Você nunca teve amigo assim”; é mais contido (e seriamente engraçado) em outros momentos, como quando Aladdin põe os pés pelas mãos a falar de suas intenções com a princesa; zomba de si próprio ao dar em cima da aia de Jasmine, a personagem Dalia (interpretada por Nasim Pedrad). Esta, por sinal, não existia no original, mas foi uma boa adição à história.
E, caso alguém ainda esteja se perguntando, Smith é azul como o original, mas alterna momentos atuando com a cor da própria pele, o que é perfeitamente explicado no roteiro: ele terá de ajudar Aladdin no castelo e, convenhamos, um Smurf gigante chamaria mais atenção do que necessário.
Já a princesa Jasmine é definitivamente a personagem mais diferente em relação ao desenho, e de uma maneira positiva. Se no original dos anos de 1990 a meta dela era simplesmente poder casar com quem escolhesse, no filme ela é uma menina independente, que o pai controla por medo de perder como ocorreu com a esposa dele, e que quer ser sultana. Sagaz, dona do próprio nariz e disposta a defender as próprias opiniões, essa Jasmine é muito mais pró-ativa que a anterior em 2D. Viva o empoderamento feminino!
Ah, sim, Jasmine tem também direito a música solo criada para o filme e que já virou hit: Speechless. Neste sentido, a escolha de Naomi Scott para o papel foi perfeita: a moça já mostrou o talento para cantar há muito tempo na “escolinha” dos filmes da Disney Channel como, entre outros, o bom Lemonade Mouth.
O ator Mena Massoud também faz um Aladdin bastante convincente, mandando bem nas cenas de ação, músicas e convencendo tanto como ladrão hábil quanto na pele de um conquistador bem desastrado. O Sultão (Navid Negahban) e o chefe da guarda, Hakim (Nimam Akar), são bem mais tridimensionais do que no desenho, e agradam bastante.
Outra adição ao original é o engraçado príncipe Anders (Billy Magnussen), pretendente meio tapado de Jasmine que merecia até um pouco mais de espaço. E os personagens criados por computador – o charmoso macaquinho Abu, o tapete voador, o imenso tigre Rajah e o irritante Yago – também estão ótimos.
O ponto fraco do filme é a interpretação de Marwan Kenzari como Jafar, que deixa a desejar em relação aos demais e ao vilão original. Ainda que o personagem cresça um pouco mais para o final do filme, Kenzari parece pouco à vontade no papel, mas nada que comprometa Aladdin, pelo contrário.
Os cenários do filme também merecem destaque. São impactantes, por vezes grandiosos como o deserto escaldante ou o castelo do sultão, por outras bastante realistas, caso do mercado e da pobreza do restante da cidade de Agrabah. Aliás, para quem nunca viu Aladdin, vale relembrar a premissa do musical (sim, o filme é permeado de boas músicas e com direito a algumas danças coreografadas estilo Bollywood, que se encaixaram perfeitamente no conjunto).
Aladdin é um jovem ladrão que vive de pequenos roubos na cidade de Agrabah, na qual a população vive desassistida após a morte da esposa do sultão (que o afastou da realidade local). A maior parte do fruto dos roubos cometidos por Aladdin e o macaco Abuh, porém, ele dá aos pobres do local, que não são poucos.
Um dia, ele encontra uma jovem no mercado e ela se mete em encrencas com um comerciante, perdendo um valioso bracelete. Sem saber que ela na verdade é a princesa Jasmine – a moça diz ser uma criada do castelo – ele se interessa por ela e, quando vai ao castelo atrás dela, é capturado pelo grão-vizir Jafar (Marwan Kenzari), que deseja que ele recupere uma lâmpada mágica, onde habita um gênio capaz de conceder três desejos ao seu dono.
O rapaz consegue cumprir a missão, mas é traído por Jafar e acaba ficando preso com a lâmpada, que pretende usar para conquistar Jasmine, por quem se apaixonou.
Quem nunca viu o desenho de 1992 com certeza vai gostar bastante do filme dirigido por Guy Ritchie e quem já viu, desde que não seja um daqueles “puristas” que exige que tudo seja absolutamente idêntico ao original, também tem um bom programa garantido.
A pergunta que fica martelando ao final do filme na mente dos fãs da Disney, porém, é outra: se Aladdin ficou tão bom assim, como será então o filme dO Rei Leão? As expectativas são altas, mas a resposta só chegará em 18 de julho aos cinemas.
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