Uma liga de cavalheiros extraoridinários

Mundo HQ

Cavalheiros Extraordinários agora no Brasil

O século XIX produziu os maiores heróis e anti-heróis da literatura dos quais já se ouviu falar. Entre outros tantos nomes, foram criados por mentes fantásticas personagens como Capitão Nemo (por Júlio Verne, nas 20 mil Mil Léguas Submarinas), Hawley Griffin (O Homem Invisível de H. G. Wells), Dr. Henry Jekyll (O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson) e Allan Quatermain (As Minas do Rei Salomão, de H. Rider Haggard). Em pleno século 21, estes – e outros – cavalheiros extraordinários estão de volta, juntos e a serviço do governo britânico, na HQ As Aventuras da Liga Extraordinária, que chega às bancas e lojas de quadrinhos brasileiras no próximo dia 30 de abril.
Criadas por Alan Moore – o roteirista inglês que se tornou famoso por sua Graphic Novels adultas como V de Vingança e Watchmen – e desenhadas por Kevin O’Neill (Marshal Law), as aventuras da Liga estão entre as novidades mais comemoradas dos quadrinhos no Exterior, onde já fizeram sua estréia e arrebataram em 2000 os mais importantes prêmios internacionais de quadrinhos (Harvey, Eisner e Eagle, por exemplo) na categoria melhor roteiro. Principalmente graças à exaustiva pesquisa realizada por Alan Moore, que usa nas HQs dezenas de referências e personagens das grandes obras da literatura do século 19.
Além dos já citados capitão Nemo, Dr. Jekyll (e Mr. Hyde), Quatermain (mais conhecido por aqui por causa daquele filme horrível com Sharon Stone) e Griffin, aparecem nas histórias figuras como Sherlock Holmes (o notório detetive de Sir Arthur Conan Doyle), o policial Auguste Dupin (de Os Assassinatos da Rua Morgue, de Edgar Alan Poe) e até mesmo (!!!) a eterna otimisma Pollyana, criada por Eleanor H. Porter e imortalizada por Walt Disney.
Com tanta variedade, a HQ poderia facilmente ser uma grande salada cheia de citações beirando o piegas ou uma tentativa de se vender gibis explorando a imagem de personagens famosos já conhecidos em outra mída. Poderia, mas não é, pois Alan Moore se encarrega de fazer um roteiro envolvente, bem pesquisado e sem furos (como sempre, diga-se de passagem).
Já de saída a reunião do estranho grupo formado pelos primeiros quatro cavalheiros (aliás, ninguém sabe direito por quê a editora Pandora Books cortou do título em português da HQ justamente sua parte mais evocativa) e seus motivos despertam a curiosidade e o apetite literário do leitor. A história começa quando o agente secreto Campion Bond convoca a Srta. Mina Murray para reunir quatro cavalheiros, digamos, pitorescos.
Só que o bom conhecedor de literatura (e de cinema, diga-se de passagem) deve se lembrar que a própria Mina Murray não é lá uma mulher convencional. Afinal, quando ainda era casada e usava o sobrenome Harker, a Srta. Murray foi seduzida por um estranho conde vindo da longínqua Transilvânia e escapou por pouco de um destino pior do que a morte em suas mãos… conforme narrou Bram Stoker em seu livro Drácula. A aterrorizante experiência resultou no seu divórcio e a transformou numa pária dentro da conservadora sociedade britânica.
Os quatro que ela procura também são muito queridos pela sociedade. Allan Quatermain é um herói que se rendeu ao ópio, Griffin é um perturbado, Jekyll é instável e nada confiável (ou seria Hyde?) e Nemo, um corajoso revolucionário indiano e comandante do submarino Nautilus, está na lista negra dos governos da Inglaterra e da França pelos problemas que causou àqueles países (mais detalhes nos livros de Júlio Verne).
No entanto, Mina consegue unir os quatro para juntos trabalharem a serviço do governo inglês – a propósito, Moore, que sempre foi conhecido por suas críticas à Coroa, estampa logo na abertura da série a reveladora frase: "O império britânico sempre teve dificuldade para diferenciar entre seus heróis e seus monstros."
Esta primeira aventura dos cavalheiros publicada no Brasil – em três partes custando R$ 5,90 cada – mostra o quarteto (e Mina) enfrentando um misterioso inimigo chinês que rouba uma fórmula capaz de anular a gravidade. A princípio, trata-se de uma minissérie independente, mas a idéia da Pandora Books é transformar a Liga Extraordinária em uma revista mensal, se a equipe fizer por aqui o mesmo sucesso que faz no Exterior. Por sinal,
As Aventuras da Liga Extraordinária já teve seus direitos para o cinema adquiridos pela 20th Century Fox e pelo produtor Don Murphy que, no momento, preparam ainda um filme baseado na obra From Hell, também de Alan Moore (sobre Jack, o estripador). A previsão é de que a Liga Extraordinária chegará à telona até o final de 2003.

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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