Um prego no caminho
ou: "Meu Deus, como o Super-Homem faz falta!"
O Super-Homem é o melhor e maior herói do universo DC e, se não fosse ele, tudo daria errado. Talvez você não seja um fanático pelo Homem-de-Aço e não pense assim, mas isso não importa, afinal os roteiristas da DC pensam. É por isso que, volta e meia, surgem histórias como The Nail (O Prego), minissérie em cinco capítulos lançada pela Mythos Editora.
Não leve a mal, isso não quer dizer que a HQ não é boa, a começar pela bela arte de Alan Davis. E a idéia de Mark Farmer para gerar a história, um incidente causado por um prego, também é muito boa, ainda que não seja original: um belo poema de George Herbert, de 1651, impresso na contra-capa, parte do mesmo princípio ("Por falta de um prego, perdeu-se uma ferradura. Por falta de uma ferradura, perdeu-se um cavalo. Por falta de um cavalo, perdeu-se um cavaleiro. Por falta de um cavaleiro, perdeu-se uma batalha. E assim, um reino foi perdido. Tudo por falta de um prego.")
Em The Nail, a história – que é da série Elseworlds, ou seja, uma aventura fora da linha temporal da DC, em um "universo paralelo" – começa há 24 anos quando o prego em questão fura o pneu da caminhonete de Jonathan Kent, impedindo que ele saia de seu rancho na área rural de Smallville. Como Jonathan e Martha resolvem ficar em casa curtindo seu relacionamento, não vêem a nave que cai do espaço e, conseqüêntemente, não resgatam o Super-Homem e não o criam. Resultado, 24 anos depois não há nem sinal de um super-herói em Metrópolis, Luthor é o prefeito mão-de-ferro da cidade e os heróis são vistos com desconfiança pela população mundial.
Alguns deles, como o Arqueiro Verde, inclusive enlouqueceram e acusam os ex-companheiros de serem invasores alienígenas com um plano de dominação mundial. Neste cenário, a Liga da Justiça não tem um líder forte (ainda que Batman bote ordem na casa, ele está mais preocupado com Gotham City) e chega até a contratar uma jornalista para travalhar a imagem da equipe frente à imprensa (ninguém menos que Lois Lane, de cabelinho curto e passeando com o Lanterna Verde na cena abaixo).
Mas os cidadãos não têm certeza de qual o papl dos heróis (e nem mesmo os próprios parecem ter certeza absoluta a respeito) e as coisas começam a ir mal após um incidente envolvendo Batman. O Coringa mata Robin e Batgirl dentro do Asilo Arkham (Robin e Batgirl são mostrados na série ao estilo irritante dos anos 70) e Batman se vinga do maníaco no telhado, em frente a dezenas de câmeras de TV. Aí a coisa começa a pegar.
The Nail não é a primeira HQ que mostra que os heróis DC teriam um futuro funesto não fosse pela presença e liderança do Super-Homem. Mas, apesar de fazer isso com competência e sem pudores (mata inclusive outros heróis, como Adam Strange, e praticamente todos os vilões gothamitas), mais uma vez levanta a questão: será que o Super-Homem é mesmo tão importante para os outros heróis? Por ter sido o primeiro e pelos milhões que arrecada, com certeza sim. Mas em termos de enredo, é de se pensar que os outros heróis conseguiriam sobreviver sem ele. Se depender dos roteiristas da DC, porém, isso nunca iria acontecer…
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