Turma da Tina de roupa
e cara nova
Quando surgiu, em 1964, Tina era uma garota magrela, com óculos gigantescos, tênis enormes, um colarzão com o símbolo da paz no pescoço e sempre acompanhada do amigo riponga Rolo. Era, basicamente, uma sátira de Maurício de Sousa à geração hippie.
Nos anos 1980, o rosto de Tina ficou o mesmo, mas o corpo virou de mulher adulta. Nos 1990, nova reformulação: a personagem ganhou rosto e corpo de modelo, e o restante de sua turma acompanhou com mudanças no visual, em especial nas roupas.
Nada, porém, que se aproxime do que os estúdios Maurício de Sousa fizeram com a turma neste final de 2007/início de 2008: Tina e os caçadores de enigmas, minissérie publicada em tr~es capítulos, mudou mais uma vez os personagens jovens da Turma da Mônica, alguns radicalmente, com o objetivo de conquistar de uma vez o público teen (e, por que não, o adulto também).
Já há algum tempo, os roteiros de Tina e companhia vinham sendo modernizados: histórias na faculdade, com mais aventura, humor e muita azaração – em especial por parte de Rolo, que há muito evoluiu de hippie para eterno mulherengo. Até a filha de Maurício, Marina, hoje na casa dos vinte anos e recém-saída da universidade, virou uma das colaboradoras fixas das histórias, o que garantia frescor para as HQs.
A minissérie, porém, foi mais fundo e ganhou um ritmo de seriado, bem ao gosto da geração sitcom. Em uma história recheada de diálogos engraçados, referências a filmes (que incluem Star Wars e a A Bruxa de Blair), seriados e fatos reais dignos de arquivo X, a estudante de jornalismo Tina e sua turma partem em busca de um suposto alienígena cuja nave teria caído no Brasil.
As citações e curiosidades, por sinal, são uma atração à parte. No final de cada episódio há pelo menos duas páginas descrevendo os fatos que serviram de referência para trechos da HQ. Uma pesquisa bem-feita, que acrescenta bastante a cada um dos três gibis que compõem a série. Há apenas uma falha de roteiro (fique de olho na idade do personagem Zeta e compare com o fato que supostamente ele estava com os dinossauros na Terra), mas nada comprometedor.
Mas se os argumentos já vinham se modernizando e culminaram no da minissérie, o mesmo não aconteceu com a arte: a mudança pegou de surpresa os leitores. A heroína Tina, que desde que foi criada já havia sofrido inúmeras mudanças, foi a que menos mudou. O rosto e o corpo continuam iguais, mas os cabelos agora são totalmente pretos (ainda que na capa um colorista desavisado os tenha mantido em um marrom de tom bem mais escuro).
Rolo, por outro lado, passou por uma plástica radical. Apesar de ainda ter barba e cabelos azuis, eles não mais contornam todo rosto no melhor estilo girassol. Ele agora tem orelhas, cara mais alongada e nariz e queixo de galã. Para alívio dos fãs, continua sendo o personagem mais cômico e namorador de carteirinha, no entanto… quanta diferença!
O mesmo ocorre com a gordinha Pipa. Aliás, nem tão gordinha: a garota continua com uns quilinhos a mais, mas com muito mais curvas, batonzinho, roupas caprichadas (esqueçam a blusa branca com mini saia preta) e um cabelo bem mais na moda. E mais: estuda nutrição e vive dando dicas de alimentação saudável para os amigos.
Por fim, o namorado da Pipa, Zecão, também foi mais humanizado e perdeu o narigão de batata. Ainda que continue a ser desenhado com “uma bela de uma napa”, o nariz do personagem agora é menos caricaturado e a personalidade do rapaz também mudou. Ele agora é mais zen, cheio dos conhecimentos astronômicos e filosóficos.
Completam a turma Jaime, o ex-namorado de Tina, e Rúbia, a rival ciumenta. Em termos de desenho, nenhum dos dois mudou do que já era visto antes nas aventuras de Tina. Agora, porém, cabe a eles o papel de vilões da história. E Jaiminho, como é mais conhecido, está bem mais bobo, servindo de escada e alívio cômigo para a Rúbia.
Cada um dos três números da mini custa R$ 3,90 (formatão, colorido, 52 páginas) e pelo menos uma nova aventura de Tina e os caçadores de enigmas já está anunciada para este ano. Quem gostar das mudanças pode ficar feliz, pois segundo o assessor de Maurício de Sousa, o também cartunista Jal, elas vieram para ficar. “Elas foram criadas coletivamente pelos profissionais do estúdio e a idéia é que sejam incorporadas nos gibis mensais da Turma da Mônica”, afirma. Já quem não gostar, bem… o jeito é se acostumar, pois o novo visual veio para ficar… pelo menos até a próxima mudança que, se seguir o ritmo das anteriores, deve levar mais uma ou duas décadas para chegar.
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