Spirit está de volta

O Spirit está de volta
Will Eisner fecha o relançamento da obra completa do personagem com a DC Comics

Em 1940, o jovem Will Eisner surpreendeu o mundo das HQs ao lançar as histórias de um detetive chamado The Spirit. Com argumentos inteligente e conceitos gráficos até então inéditos em HQs – fusões, cortes, ângulos insólitos, brincadeiras com títulos e uma utilização perfeita de luz e sombras – o personagem revolucionou os quadrinhos, ganhou o apelido de "cidadão Kane das HQs" (em referência ao famoso filme de Orson Wells) e uma legião crescente de fãs… até que desapareceu, em 1952. Mas, para a alegria de fãs e daqueles que não tiveram o privilégio de conhecer o Spirit, o personagem está de volta após quase quatro décadas de ausência.
O octogenário Will Eisner fez um acordo com a DC Comics – a mesma publicadora de Batman e Superman, entre outros – para republicar todas as graphic novels do personagem e reeditar todas as histórias do Spirit, em uma coleção de luxo (capa dura, papel couchet, tudo colorido). A série, prevista para ser publicada trimestralmente, já está no segundo volume nos Estados Unidos – um total de quinze deverá ser lançado até 2004. No Brasil, a série não tem previsão de lançamento. Há rumores, no entanto, de um possível interesse da editora Abril, que em 1996 lançou o último trabalho de Eisner por aqui (No Coração da Tempestade).
É possível, porém, encomendar o número um da série "The Spirit Archives" pela Devir Livraria, mas o preço da publicação, que tem 228 páginas das primeiras HQs do personagem, é bem salgado: US$ 49,90. Por causa disso, para o leitor brasileiro talvez seja o caso de esperar alguma editora nacional comprar os direitos da obra e lançar tudo por aqui, em doses homeopáticas e com preços reduzidos. Independentemente da questão financeira, é bom não perder a chance de ter em casa a obra – que pela primeira vez é relançada em ordem cronológica – de um dos personagens mais consagrados das HQs.

POR QUE PAROU?

Spirit foi o segundo personagem de sucesso feito por Will Eisner (o sorridente senhor à direita). O primeiro, ou melhor, a primeira foi Sheena, a rainha das selvas, em 1937. Mas, por ser judeu e temer a moral americana da época, Eisner usava o pseudônimo de William Thomas. O sucesso do Spirit, três anos mais tarde (o autor tinha 23 anos quando o criou) superou – e muito – a sensual Sheena. "É importante dizer que não fiz o Spirit para se tornar um super-herói. No Spirit, o que realmente contava era o espírito das pessoas e da época", conta, acrescentando que as HQs do personagem ficaram mais maduras após a primeira guerra mundial, na qual Eisner trabalhou – a mando do pentágono – produzindo HQs educativas para os soldados. "Antes da guerra as histórias eram mais fantasiosas. Depois ficaram mais reais. Eu amadureci muito neste período."
Eisner teria se inspirado na própria aparência juvenil para criar a cara de Spirit. "Mas hoje pareço mais o comissário Dolan. Fui amaldiçoado", brinca. A última HQ do personagem foi desenhada pelo autor em 1960, para um especial, mas ele considera o ano de 1952 como a "data de morte" do herói, já que foi nele que as histórias mensais pararam de ser produzidas.
O motivo principal, conta, foi que não havia tempo para dedicar ao personagem e à sua empresa de quadrinhos educativos. "E era muito difícil achar alguém que me imitasse bem. Há personagens de quadrinhos que não podem ser desenhados por outros cartunistas, não é a mesma coisa. Acho que o meu é um deles". Os fãs de Spirit, ainda que tenham saudade do herói, com certeza concordam com Eisner neste ponto.