Pererê vai voltar – Entrevista com o cartunista Ziraldo

O cartunista Ziraldo é o grande homenageado do VIII Salão Universitário Latino-Americano de Humor de Piracicaba, que começa em 16 de junho. Uma homenagem justa, como terá certeza qualquer um que for ao salão conferir a exposição de trabalhos do autor. Mas as boas notícias para os fãs de Ziraldo não param na exposição: um de seus trabalhos mais reconhecidos na área dos quadrinhos estará em breve de volta a ativa, nas bancas e livrarias de todo o País.

Em entrevista exclusiva ao MundoHQ, o mestre Ziraldo – que no auge de seus 67 anos continua ativíssimo, à frente da revista Bundas e vários outros projetos – revelou que pretende relançar as histórias em quadrinhos do personagem Pererê, uma das mais celebradas HQs infantis nacionais, ainda neste ano.

Ao lado do índio Tininim e de outras figuras típicas do folclore e da fauna brasileira, o saci Pererê explodiu nos anos 60 e, para muitos, foi a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor (afirmação que seria justificada porque Maurício de Souza usava já na época uma equipe de desenhistas e argumentistas para auxiliá-lo em suas histórias).

O gibi A Turma do Pererê era publicado pela mesma editora da revista O Cruzeiro. Após trabalhar com Pererê por um período, Ziraldo deixou a série, mas voltou a trabalhar com ela, desta vez em equipe, na Editora Abril, no começo dos anos 70. Mais uma vez, no entanto, Pererê acabou cancelado e Ziraldo, a partir da década de 80, voltou seus olhos para outro personagem infantil criado por ele que rendeu bem mais frutos: O Menino Maluquinho.

 

Nesta entrevista, no entanto, o mineiro de Caratinga revela que pretende relançar a obra completa de Pererê, segundo ele seguindo o exemplo do quadrinista argentino Quino, que de 1964 a 1975 publicou sua excelente Mafalda e, muito tempo após ter parado, republicou tudo o que foi escrito nos livros Toda Mafalda e Mafalda Inédita (no Brasil, lançados pela Martins Fontes).

 

 


 Você é o grande homenageado de uma feira que reúne cartuns, charges, caricaturas e HQs nacionais. De maneira geral, como você vê esse mercado e, mais especificadamente, o mercado de quadrinhos no Brasil hoje?

O mercado de quadrinhos para o profissional brasileiro praticamente não existe. Os quadrinhos adultos são um fenômeno estranho. Eles só dão certo praticamente em dois países. Os Estados Unidos não valem, porque lá tudo é feito para vender, é a terra da Graphic Novel. Então você tem a França e a Espanha, e um pouco na Alemanha, que importa muito quadrinho. Mas quadrinho adulto mesmo acho que só a França.

 

E no Brasil?
No Brasil temos desenhistas fantásticos, mas daí a ter uma história em quadrinhos brasileira tem uma grande diferença. Tem gente ótima e até quem desenha pra fora, como aquele menino, o Deodato, que tem um desenho muito bom. Aqui, em território nacional, temos o Lélis, por exemplo. E muita gente boa que só aparece nos salões, classificada como humor, mas não tem onde colocar suas obras.

 

Nesse sentido, você tem dado um belo espaço em sua revista, a Bundas.
Para o cartum. Na Bundas, na medida do espaço que dispomos, estamos abrindo espaço para cartunista. Acho que, com a Bundas, renasceu o cartum nacional. Em história em quadrinhos, acho que vamos publicar uma série de um personagem do Flávio Collin nas próximas edições.

 

Você falou de quadrinhos adultos, mas e o infantil? O Menino Maluquinho, por exemplo, não é sucesso? Não há mercado para ele?
Tem mercado para o Menino Maluqinho, mas é cult. O Maluquinho é cult. Em histórias em quadrinhos infantis, no Brasil, só o Maurício de Sousa conseguiu se firmar. Ele já faz parte do inconsciente coletivo. As crianças já conhecem Maurício, porque os pais já conheciam o Maurício…

Então vamos falar de outro o mercado. Recentemente a Editora Abril lançou, com sucesso, Sérgio Aragonés destrói a DC e Sérgio Aragonés Massacra a Marvel, duas revistas de quadrinhos de humor nas quais o quadrinista espanhol faz ótimas piadas com os super-heróis, um conceito que você já explorava – e com muito mais competência – com os seus Zeróis.

Obrigado. O Aragonés é muito bom, ele faz quadrinhos direto, vai desenhando e falando ao mesmo tempo, é muito engraçado. Já estive no estúdio dele e ele é um cara que trabalha feito um maluco. Só tem um garoto que trabalha com ele para colorir os quadrinhos por computador, mas ele faz tudo sozinho, é uma máquina. Já os Zeróis eram só cartuns. Mas pode ser que dê para relançar. E estou pensando em reeditar o Pererê. Vou editar tudo de volta. Vou fazer igualzinho a aquele cara que desenhava aquela menininha, a, como era mesmo o nome… a Mafalda.

 

O Quino.
Isso, vou fazer como como o Quino fez com a Mafalda. Vou reunir tudo o que eu fiz do Pererê e reeditar tudo.

Quando?
Por enquanto, estou trabalhando nisso.

Você se considera um patrimônio nacional?
(Risos) Eu, hein! Nem pensar.

É que não se pode falar em quadrinho nacional, em salão de humor, sem pensar em Ziraldo e no seu irmão, Zélio Alves Pinto.
É porque foi o Zélio que criou o Salão de Humor em Piracicaba (Nota da Redação: Ziraldo está se referindo ao salão internacional e não ao universitário, que começou em 16 de junho deste ano), mas eu não sou patrimônio não.

Com que idade você está agora?
Sessenta e sete. Ou melhor, seis ponto sete. Mas em plena forma.

Mais alguma mensagem para os fãs?
Não, meu filho. Só quero avisar que o Pererê vai voltar.

Mas quando? Não dá mesmo para falar em uma data?
Data certa, não, mas vai ser neste ano ainda. Esperem, o Pererê vai voltar.

 

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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