Simpósio comprova que jogo
melhora desempenho escolar
Mais de 400 professores de todo o país participaram do I Simpósio de RPG Educação, realizado em São Paulo no primeiro semestre deste ano, e chegaram a uma conclusão unânime: o RPG, aplicado corretamente na sala de aula, melhora o desempenho escolar. E mais: pode ser utilizado praticamente em qualquer disciplina. "O Role Playing Game tem grande potencial pedagógico para ser utilizado na sala de aula. Mas é claro que o professor tem de estar mais interado para garantir que o lúdico esteja integrado com a educação", diz Carlos Eduardo Lourenço, um dos organizadores do evento.
Lourenço, que é sócio-fundador da ONG Ludus Culturalis – organização não-governamental que difunde cultura para comunidades carentes e promove cidadania por meio de instrumentos como RPG e quadrinhos – conta que ficou surpreso com o número de professores que compareceram ao simpósio e com a variedade da utilização do RPG.
"Sabemos que só em São Paulo há mais de 500 alunos usando o RPG em sala. Mas o número de professores que compareceu ao evento, vindos de todo o Brasil, foi surpreendente. Veio até gente está elaborando teses de mestrado e doutorado usando RPG em Psicologia, Educação, Psicopedagogia… e até em Matemática, Física e Biologia", conta. Uma das experiências mais marcantes, conta Lourenço, foi relatada por uma professora da Capital. "Ela aplicou RPG em uma sala de aula em que mais de 70% dos alunos não sabiam ler nem escrever. Após um ano, só três dos quarenta estudantes da sla continuaram tendo dificuldades", diz.
O dado é impressionante, mas é perfeitamente explicável. A professora Jeane Maria Braga, da Universidade de Juiz de Fora, explica em sua tese sobre RPG que o jogo realmente influencia nos hábitos de leitura e escrita. "A professora Jeane comprovou isso com dados concretos e detalhados, analisando grupos de alunos que jogam e os que não jogam. Quem pratica RPG lê muito mais. Obviamente, começa procurando por livros com referências aos cenários em que está jogando – em geral livros como Brumas de Avalon, autores como Tolstoy, Tolkien – e depois isso se amplia", conta Lourenço, ressaltando que "só o fato de tirar o aluno do marasmo e levá-lo para a biblioteca" já torna o jogo merecedor de elogios.
COMO JOGAR
A ONG Ludus Culturalis pretende fazer no ano que vem três novos simpósios sobre o tema, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. A organização também dedica seu tempo a ensinar professores a aplicar o jogo em sala, bem como desenvolver partidas relacionadas a fatos e personagens históricos brasileiros. "Jogar RPG na escola é diferente do RPG ‘lúdico pelo lúdico’. Em uma sala são 40 pessoas, em vez das seis ou oito de uma mesa normal de RPG", ressalta Lourenço.
Por isso, diz, o ideal é fazer uma primeira experiência contando uma história com um único personagem e, a cada trecho da história, um aluno decide o que o personagem vai fazer."Se eles gostaram da experiência, da próxima vez conta-se a história com cinco ou seis personagens, um por fileira de alunos. Quando tiverem vivenciado isso, aí pode-se dividir em grupos que jogam entre si e o professor os coordena", diz.
As aventuras podem ser criadas pelos próprios professores, mas há alternativas prontas. O próprio Lourenço desenvolveu um RPG sobre Portinari e atualmente está trabalhando em um cenário com cangaceiros. A Devir Editora, pioneira na publicação dos Role Playing Games no Brasil (trabalha com o gênero desde 1988), também desenvolveu uma linha exclusiva para os professores utilizarem em sala de aula. São pelo menos quatro livros, chamados mini-gurps, que custam apenas R$ 7,00 cada – e basta que o professor tenha um para dar início ao jogo.
Além do livro de regras básicas, os interessados poderão encontrar uma aventura com os Bandeirantes, uma sobre o Descobrimento do Brasil e uma sobre o Quilombo dos Palmares. "Temos planos de fazer mais nesta área. O RPG é uma brincadeira de contar histórias que transmite informações e desperta a curiosidade sobre os assuntos, de uma maneira instigante", diz o editor Douglas Quinta Reis, ele mesmo um fã de jogos de RPG, em especial os mais bem-humorados e que permitem o uso de cenários que marcaram sua infância e adolescência, como os dos livros de Júlio Verne e e sir Arthur Conan Doyle.
Comentar