Rio de Sangue (como ser fuleiro no Rio de Janeiro)

Mundo HQ

Wolverine: como ser fuleiro
no Rio de Janeiro

Imagine Wolverine, o mutante mais selvagem e violento já criado nos estúdios da Marvel, passando o Carnaval no Rio de Janeiro, babando por mulatas e torcendo pelo Vasco da Gama. Pode parar de imaginar: a aventura brasileira do X-Man mais querido pelos fãs de todo o mundo acaba de chegar às bancas… e é uma das HQs mais ridículas de todos os tempos, forte candidata ao prêmio Sagú (o "anti-Oscar" dos quadrinhos) de pior roteiro em sua edição do ano que vem.
Com o nome de "Rio de Sangue" e direito a uma bela capa ilustrada pelo brasileiro Roger Cruz (os desenhos internos são do espanhol Oscar Jimenez), a HQ é tão absurda que chega a ser engraçada. E, como a editora Pandora Books está lançando a revista por R$ 3,90 – contra preços bem mais salgados de outros quadrinhos encontrados nas bancas nacionais – o leitor pode até se animar a comprar a história. Afinal, encarando-se o argumento de Joe Casey com bom humor, Rio de Sangue é garantia de boas risadas.
Segundo o argumento do "criativo" Casey, Wolvie trabalhou em uma boate do Rio (que tinha o brasileiríssimo nome de Devil’s Grill) antes de ser um X-Man e resolveu voltar para passar férias na Cidade Maravilhosa em pleno Carnaval. Só que acaba envolvido em uma aventura com vampiros, ajudando um amigo policial, também com nome brasileiríssimo, Antônio Vargas, e com bigodes estilo Salvador Dalí, que como todos sabem são a última moda aqui no Brasil…
Logo de cara Wolverine e "Tony" Vargas vão investigar um assassinato múltiplo efetivado pelos supostos vampiros em uma favela. Só que os corpos estão boiando em uma enseada cuja entrada se dá por uma caverna (de novo: todo mundo sabe que o Rio é cheio de favelas localizadas junto a imensas cavernas que dão acesso a enseadas). E quando Wolverine e Vargas estão em uma passarela sobre o mar são atacados por um imenso tubarão branco. Tudo bem que alguns surfistas levaram belas mordidas em praias do Nordeste, mas um imenso tubarão branco saltando do mar, em fúria, no Rio de Janeiro?
Só que a coisa não para por aí: Wolverine cai na esbórnia nos bailes cariocas, fato registrado em fotos polaróide engraçadíssimas na qual o mutante fica de boca aberta por mulheres que definitivamente mostram que o desenhista não conhece as sambistas brasileiras (muita roupa e pouca, digamos, região glútea). Depois, briga com gangues de rua de classe média criadas especialmente para a história e, pasmem, embebeda-se e sai cantando música em homenagem ao Vasco
(será que o Eurico Miranda pagou algum por fora ou foi a goleada contra o São Paulo que entusiasmou o X-Man em relação ao time?).
Só para completar, os cenários desenhados por Jimenez em nada lembram o Rio. As favelas parecem vilas espanholas, o "centro" do Rio é uma rua de área comercial de qualquer lugar do mundo, o Cristo Redentor só aparece na capa feita especialmente para a edição brasileira e só dá mesmo para ver um pedaço do Pão de Açucar em um cenário reproduzido de foto encaixado em um único quadrinho.
E quanto aos vampiros, estes seres mitológicos tipícos do Estado brasileiro da Transilvânia, que fica ali ao lado do Rio, adivinhe? Claro que nosso herói – trajando restos de fantasias – vence no final, com algumas baixas e deixando escapar a vilã brasileira que, desculpe o leitor pela insistência, também tem nome típico de brasileira: Ezra.
Enfim, com Rio de Sangue Wolverine entra para o seleto time de heróis que vieram ao Brasil, mas que poderiam ficar em casa, um grupo formado por vários outros superencapuzados das editoras Marvel e DC que tiveram aventuras em um Brasil que só existe na cabeça dos americanos (exceção honrosa até o momento para Super-Homem na excelente Graphic Novel Paz na Terra, de Alex Ross). Em defesa do mutante, pode-se dizer apenas que em época de Carnaval acontecem coisas que até mesmo Deus e os leitores de quadrinhos duvidam…

 

 

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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