Talvez você nunca tenha ouvido falar em Raphael Rossato. Mas se você assistiu a qualquer filme da Marvel em que Star Lord aparece em versão dublada, ouviu os diálogos em português de Kristoff com os demais personagens de Frozen ou se emocionou com a canção “Vejo enfim a Luz Brilhar”, então você já escutou a voz dele.
Aliás, a canção do desenho Enrolados marcou justamente o início da carreira de Rossato como dublador. Experiência artística para isso não faltava, afinal, o rapaz cresceu no circo e o quão difícil pode ser dublar uma voz para alguém que já cuspia fogo e atirava facas?
“Gosto muito de fazer dublagem, mas muita sabe quão árduo é, o quão trabalhoso, o tanto de gente envolvida, e quando descobre começa a ver com outros olhos. É uma loucura, a gente entra no estúdio geralmente sem saber o que vai gravar, tem que virar a chavinha rápido. Às vezes é comédia, outras é drama, um tem a voz mais aguda, outro mais grave… a gente troca rapidinho para poder interpretar. É um treino que a gente faz ao longo do tempo e acaba sendo natural”, conta.
Sim, dublagem não é fácil, mas de fato a vida circense ajudou. Raphael Rossato é a sétima geração de família circense – inclusive, nasceu (em 20 de julho de 1987) no Rio de Janeiro por acaso: na época a trupe passava pelo Rio de Janeiro e ele nasceu em um hospital no bairro do Rio Comprido.
“Canto desde os dez anos, a parte teatral e o anto começou no circo. Quando tive a oportunidade de começar na dublagem, o canto me ajudou. Meu primeiro trabalho foi justamente cantando em Enrolados, da Disney. A partir daí as portas se abriram”, conta Raphael, que no filme de 2011 fez apenas as canções do personagem – a voz nos diálogos, como a maioria das pessoas deve se lembrar, ficou a cargo da “estrela convidada” Luciano Huck.
“Queria muito ter feito a voz dele no desenho inteiro, como vim a fazer nas outras animações (Enrolados Outra Vez: O Especial e Enrolados para sempre). Teria sido muito legal”, diz. Contudo, mesmo fazendo “apenas” as canções Rossato chamou a atenção e começou a conquistar novos trabalhos. Vieram pela frente desde novelas mexicanas a novas animações Disney (entre elas Frozen, na qual faz a voz e canções do engraçado Kristoff).
Também vieram papéis em diversos filmes, entre os quais A culpa é das estrelas (no qual Rossato faz a versão brasileira de Augustus) e Como eu era antes de você (no qual ele empresta a voz ao personagem Will Traynor). Mas, ainda que tenha feito muita gente chorar com estes dois – o dublador tem até um vídeo intitulado “4 filmes em que eu fiz você chorar” no canal dele no Youtube, o Eu Dublei – o que realmente tornou a voz dele mais conhecida foram os blockbusters da Marvel.
Afinal, Raphael Rossato é a voz oficial Peter Quill, o Star Lord dos Guardiões da Galáxia. E não só dele: Rossato é a voz “oficial” do ator Chris Pratt no Brasil. “É um ator que gosto muito de dublar, minha voz combina com ele, tenho esse feedback. Dublei inclusive uma série dramática dele, sem um pingo de comédia, que vai estrear em julho agora. Foi um desafio, porque é outa vertente”, conta.
Rossato também marca presença em diversas séries – de The Flash (onde faz a voz brasileira de Cisco Ramón) a The Wicher. Fera no violão, no seriado do bruxo ele é o grande amigo do protagonista, o bardo Jaskier. Por sinal, o dublador passou por um fato curioso envolvendo o personagem. “Eu peguei um Uber e batendo um papo com o motorista eu contei que era dublador. Aí ele me disse que eu tinha uma voz suave, bonita e disparou: ‘Sabe quem ficaria bom na tua voz? Aquele cara do The Witcher que canta”, relembra, rindo.
Rossato então contou que ele já fazia a voz do bardo, cantou algumas canções e ainda gravou alguns áudios para o motorista mandar para amigos. “Por outro lado, houve uma ocasião em que uma pessoa me reconheceu pelo rosto e não pela voz. Isso foi muito legal, porque nós, dubladores, somos artistas anônimos, conhecidos pela viz. Quando alguém te reconhece pelo rosto é muito legal”, diz.
Com certeza, muita gente ainda vai (re)conhecer Raphael Rossato pelo rosto e pela voz, afinal, é certo que inúmeros outros personagens estão no futuro deste ainda jovem e talentoso artista. Se ele pudesse escolher um personagem para dublar, porém, ele não seria do futuro e, sim, do passado.
“Adoraria dublar o Simba. O Rei Leão foi um filme que marcou muito a minha vida. Lembro de que meu pai e eu alugamos para ver no videocassete, era uma fita verde da Disney, e eu assisti deitado no colo dele, fora que é um desenho que fala muito da relação de pai e filho”, conclui.
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