Os Sobrinhos do Capitão (The Katzenjammer Kids)

Em meados de 1896, o proprietário do New York Journal, William Hearst, viajava pela Europa quando se deparou com histórias ilustradas de Max e Moritz, dois garotos arteiros criados por Wilhelm Bush. Ambicioso e com um faro infalível para o mercado, Hearst pediu a um cartunista do seu jornal, o alemão Rudolph Dirks, que criasse uma tirinha parecida. Assim surgiram The Katzenjammer Kids, dois garotos endiabrados cujo prazer maior era aprontar com os vizinhos, o gato da família, o pai, a mãe e o avô.


Literalmente o nome Katzenjammer significa ‘gemido de gatos’, mas é também uma gíria alemã para “porre”, efeito similar ao normalmente causado pelas traquinagens do loiro Fritz e do moreno Hanz.

Com o passar do tempo, o pai e o avô simplesmente sumiram da tira e, em 1902, apareceu aquele que se tornaria o alvo favorito dos garotos: o Capitão.

Hóspede da pensão da Mama (que em português ganhou o nome de Mama Chucrutz), o velho lobo-do-mar logo ganharia a companhia de um caça-gazeteiros conhecido apenas como Coronel.

Com os dois adultos pegando em seus pés, Fritz e Hans se tornariam ainda mais diabólicos e viviam em guerra com a “Morsa” e o “Bode”, apelidos que deram aos antagonistas.

Em 1912 os personagens chegaram ao auge e Dirks, cansado de desenhar a tira sozinho, quis tirar férias, mas Hearst não permitiu. O cartunista saiu do jornal e Hearst colocou outros desenhistas para fazer a tira. Dirks não gostou e foi à Justiça contra Hearst, o que fez com que a tira saísse do jornal por mais de um ano.

A sentença da Justiça foi inédita e salomônica: Hearst ficaria com o nome The Katzenjammer Kids e poderia contratar outros artistas para desenhar a tira; Dirks, por sua vez, poderia continuar desenhando seus personagens desde que não usasse o nome.

Assim, Hearst contratou o desenhista Harold Knerr e continuou publicando as tiras. Dirks, por sua vez, intitulou a tira como Hans and Fritz, e logo depois como The Captain and the Kids, e foi trabalhar para o maior concorrente de Hearst, Joseph Pullitzer.


Com desenhos quase idênticos e argumentos similares, os dois títulos foram publicados por quase 50 anos nos jornais concorrentes, e havia quem acompanhasse a história em um jornal sem saber que havia uma segunda série em outro.

No Brasil, onde os personagens foram publicados inicialmente na década de 1930 em edições do Suplemento Juvenil e outras publicações, foram publicadas tanto as aventuras de Dirks e Knerr como a dos desenhistas que sucederam a ambos.

A partir de 1986, as tiras passaram a ser escritas e desenhadas por Hy Eismann, para a King Features, que detém os direitos dos personagens. No Brasil, nos primeiros anos de 2000 a Opera Graphica lançou algumas coletâneas com histórias dos gêmeos.

Os Katzies, como são conhecidos Fritz e Hans carinhosamente, também viraram filmes animados em branco e preto (em 1918), desenho animado (produzidos pela MGM e lançados no Brasil na década de 80), chaveiros, relógios, brinde de caixa de sucrilhos e até selo postal, lançado pelo governo americano em 1995.

Enredo

Os gêmeos Fritz e Hans são o orgulho da mãe, Mama Chucrutz, uma senhora que dirige uma pensão e quase sempre ignora as travessuras dos pestinhas, a quem se refere como “meus anjinhos”.

Os irmãos são muito unidos e diabolicamente inteligentes, e adoram pregar peças nos adultos, em especial nos moradores da pensão da mãe, o Capitão e o Coronel.

Sempre que um plano da certo, os dois trocam um beijinho, marca registrada da tira.

 

Personagens

Além dos gêmeos, fazem parte da tira:

Mama Chucrutz: Uma viúva gordinha e sempre bemhumorada, que na maioria das vezes finge não ver as travessuras dos filhos e, em outras tantas, é enganada por eles. Quando descobre alguma coisa, porém, dá boas surras na dupla de arteiros.

Capitão (Der Captain): Pensionista eterno da Mama, o velho lobo-do-mar é a vítima favorita dos garotos. Como sofre de gota, é constantemente visto nas tiras com as pernas para cima e dores horríveis, situação da qual os Katzies se aproveitam bem.

Coronel (Der Inspector): A versão em português do nome do personagem mostra bem a rigidez com a qual este caça gazeteiros baixinho e barbudo trata os garotos. Ele não só quer os dois na escola como faz questão de conferir se eles lavaram as orelhas, escovaram os dentes, fizeram suas tarefas e por aí em diante.

 

Curiosidade: sotaque engraçado e mudança de nacionalidade

Em inglês, idioma original de Os Sobrinhos do Capitão, os personagens do núcleo familiar de Hans e Fritz têm um engraçado sotaque alemão. Assim, palavras como “just” e “this” viram “chust”e “diss”. “What” e “when” passam a ser “vot” e “ven”. E Mama Chucrutz adora se referir aos gêmeos como “My liddle anchels” (My little angels ou “meus anjinhos”).

Mas se por um lado a origem alemã faz parte do charme da tira, por outro trouxe problemas  durante a histeria antigermânica causada pela Primeira Guerra Mundial. Assim, em 1918  The Katzenjammer Kids virou “The Shenanigan Kids”, uma dupla de garotos holandeses. O nome e a nacionalidade original dos personagens só foi retomada a partir de 1920.

 

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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