Batman e Robin são uma dupla ou um casal? Não há quem não tenha ouvido piadas e insinuações sobre a um caso de amor entre os integrantes da dupla dinâmica – fãs mais exaltados já chegaram a se agredir atacando ou defendendo a tese -, mas, afinal de onde vem essa história? E por que justamente Batman e Robin e não outros heróis? Afinal, Super-Homem andava com Jimmy Olsen, Aquaman com Aqualad, Arqueiro Verde com Ricardito, Flash com Kid Flash…
Bem, a origem da suposta homossexualidade da dupla dinâmica é mais séria do que parece e acabou levando milhares de revistas de quadrinhos para a fogueira, além de ter ajudado a gerar um rigoroso código de censura nos quadrinhos americanos. Tudo começou em 1954, quando o psicólogo Frederic Wertham lançou o livro A Sedução dos Inocentes.
Na “obra”, Wertham plantou sementes de discórdia que dão frutos ainda hoje em vários países do mundo. O psicólogo afirmou que os quadrinhos eram pura perversão e usou “exemplos claríssimos” de que eles pregavam o crime e, principalmente, condutas sexuais mais que condenadas pela então extremamente rígida sociedade norte-americana (se hoje o preconceito com gays ainda é enorme, imagine antigamente).
Wertham afirmou que a Mulher- Maravilha era lésbica, afinal vinha de uma ilha só de mulheres e usava os punhos para enfrentar os homens. Da mesma forma, garantiu que Batman e Robin tinham um relacionamento homossexual.
“Constantemente eles se salvam um ao outro… Às vezes, Batman acaba em uma cama, ferido, e mostra-se o jovem Robin sentado ao seu lado. Em casa, vivem uma vida idílica. São Bruce Wayne e Dick Grayson, vivem em aposentos suntuosos com lindas flores e grandes vasos. Batman é, às vezes, mostrado em um robe de chambre… é como um sonho de dois homossexuais vivendo juntos”, afirmava Wertham no livro.
O psicólogo ia ainda mais longe para achar chifre em cabeça de boi. Ou até pênis em cabeça de coelho: para ele, Pernalonga tinha orelhas fálicas e cabeça em forma de testículos (Wertham teve a paciência de reparar quantas vezes as orelhas do coelho se levantavam em um desenho, “simbolizando a ereção do pênis”…).
As afirmações do psicólogo fizeram com que milhares de pais queimassem gibis em fogueiras em quase todas as cidades dos Estados Unidos e acabaram gerando o Comics Code, um “código de ética’ que censurou os quadrinhos. Aqui no Brasil, o livro só ficou conhecido – e ajudou a difamar os quadrinhos – bem mais tarde, quando o jornalista Samuel Weiner divulgou as teorias do psicólogo para difamar seu concorrente Roberto Marinho, que então era um grande publicador de HQs.
Antes de morrer, Wertham veio a público e pediu desculpas aos quadrinistas e fãs de quadrinhos, garantindo que “havia exagerado’ no que escreveu. O estrago, no entanto, já estava feito.
Mas afinal, Batman é ou não é?
Desde que ele seja feliz, o problema é dele…
Contudo, nas histórias canônicas o Homem-Morcego sempre foi mostrado como hetero, tendo relacionamentos e situações sexuais com diversas mulheres, entre as quais Mulher Gato (com quem já teve uma filha nos anos pré-Crise nas Infinitas Terras); a Batwoman original Kathy Kane; Nocturna; as “civis” Linda Page, Julie Madison, Vicky Vale, Silver Saint Cloud e Julia Marque, entre outras.
E, claro, Talia, a voluptuosa filha de um de seus maiores inimigos, Ras Al Ghul,com quem ele teve um filho, Damian – que viria a se tornar o quarto Robin. E aqui vale destacar: quatro garotos diferentes já usaram o uniforme de menino prodígio. A afirmação de Frederick Wertham se referia a Dick Grayson, atual Asa Noturna, que é heterossexual nas HQs – assim como o já citado Damian e como o segundo Robin (e atual Capuz Vermelho), Jason Todd.
Já Tim Drake, terceiro personagem a ser Robin, no início era mostrado como heterossexual (namorou com personagens como Ariana e Stephanie Brown, a Salteadora), mas nos anos de 2000 a DC Comics publicou histórias nas quais foi revelado que ele era bissexual e estava namorando um garoto chamado Bernard Dowd.
Cabe registrar ainda que a própria DC também já veio a público dizer oficialmente que Batman é heterossexual, deixando claro que não tem nada contra homossexuais, “mas este não é o caso de Bruce Wayne”. No entanto, alguns quadrinistas já brincaram com a possibilidade negada. Tanto que, no excelente Asilo Arkham, de Grant Morrison e Dave McKean, o Coringa… bem, apalpa uma região adiposa do Homem-Morcego e logo depois pergunta se Robin “já está depilando as pernas”. Santo-constrangimento, Batman!
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