Chiara Rosemberg: fetiches em HQ
Chiara Rosemberg é uma judia casada com um católico. Romances entre pessoas de religiões diferentes costumam gerar histórias muito interessantes, tanto na ficção quanto na vida real – que o diga, por exemplo, o pensador alemão Max Horkheimer, da Escola de Frankfurt, um judeu de família rica deserdado pelo pai depois de assumir a relação amorosa com uma mulher católica, pobre e, pior, secretária do próprio pai. Na graphic novel Chiara Rosemberg, porém, tal fato é meramente um detalhe, que os leitores provavelmente nem terão tempo de notar. Afinal, em Chiara, segundo álbum de História em Quadrinhos publicada pela Zarabatana Books, de Campinas, o foco é outro:o erotismo. E, mais especificamente, o fetiche. Ou melhor, os fetiches.
Desenhada com capricho pelo italiano Roberto Baldazzini, que desde o início dos anos 90 é apontado como um dos novos mestres das HQs eróticas, Chiara é uma verdadeira sucessão de fantasias sexuais, a maior parte delas na linha do sadomasoquismo. Isso porque o tal marido católico adora subjugar a esposa que, por sua vez, arruma um amante que faz de escravo – ao menos no início, já que depois o estranho rapaz a torna objeto de um estranho culto.
Baldazzini não faz desenhos extremamente explícitos, o que faz com que a obra seja classificada como "erótico light", mas não se engane: se não há pornografia, isso não significa que a vida íntima da protagonista não seja total e frontalmente (com o perdão do trocadilho) exposta. Até o porque o trabalho do roteirista da história parece ter sido simplesmente o de costurar em uma única narrativa os mais diferentes fetiches, da dominação à depilação.
Por sinal, ironicamente, o parceiro de Baldazzini na história é Celestino Pes. Irônico, no caso, porque o sobrenome do roteirista, em português, indica outro fetiche bastante presente na HQ, a ponto de Chiara merecer ser citada em sites e publicações dedicadas à podolatria, como o "Podolatria Brasil". É isso mesmo: sempre que pode, o desenhista italiano coloca os pés da heroína em destaque, de maneira sensual. O fato valeu até uma nota da colunista Mônica Bérgamo, ao que parece uma fã assumida de pés, no jornal Folha de S. Paulo.
Com o mesmo capricho editorial que marcou o primeiro lançamento da Zarabatana (O prolongado sonho do senhor T), Chiara Rosemberg prima pelos desenhos de Baldazzini, ainda mais destacados pelo branco e preto impresso com qualidade no papel couchet. Mas é uma obra com público específico: aquele que se interessa pelos quadrinhos eroticos e, mais especificadamente, por práticas S&M e fetichismo.
O livro tem 88 páginas, formato 21 x 28 cm, capa envernizada, e pode ser encontrado nas melhores livrarias e bancas especializadas, por R$ 39,00. E já que o tema é erotismo, o leitor pode dar uma de voyeur antes de comprar: no site da Zarabatana (www.zarabatanabooks.com.br) é possível dar uma olhadinha em algumas páginas da HQ.
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