Clic 3

As mulheres desenhadas por Milo Manara são tentadoras, sensuais, belíssimas e bastante reais. Essa é a constante da obra desse gênio italiano do quadrinho erótico, por isso não há porque esperar menos da arte de Clic3 (Conrad/Coleção Eros, 72 páginas, R$ 24,90, mas sempre com algum desconto no site da editora). Em termos de argumento, porém, esta obra de Manara fica bem aquém dos dois volumes anteriores, por sinal também disponibilizados pela Conrad.

Mais uma vez a obra é estrelada por Claudia Christiani, apresentada no primeiro volume como uma fina e recatada dama da alta sociedade, sexualmente reprimida e com verdadeira repulsa por homens. No primeiro número, uma máquina estranha (que faz "clic" ao ser acionada, daí o nome) é utilizada para ativar nos níveis mais intensos toda a sexualidade de Cláudia que, em meio às mais diversas situações (entre as quais recepções de gala) se vê “obrigada” a transar com tudo e todos que vê na frente.

No segundo número, no qual fica claro que nem sempre é a máquina que comanda os desejos da mocinha, Manara acrescentou à trama um mistério detetivesco e uma tara particular do novo dono do perigoso brinquedo. Neste terceiro número, porém, a personagem –e a maquininha – ficam um pouco descaracterizadas.

Desta feita, Cláudia Cristiani é uma repórter ecologicamente engajada que vai até à Amazônia realizar uma reportagem investigativa. Lá encontra Curvalo, um garimpeiro que ficou rico graças aos seus métodos de prospecção: combinando plantas alucinógenas com práticas sexuais pouco ortodoxas, consegue que uma andarilha chamada Anna Rita tenha visões e indique a localização das jazidas de ouro.

Na seqüência um tanto quanto amalucada Cláudia tenta salvar a garota e descobre uma estranha seita que, com o pretexto de comunicar-se com extraterrestres (ou coisa que o valha), mantêm homens e mulheres à beira do orgasmo para “canalizar energias”. Eventualmente entra na história – bem no final dela – o estranho aparelhinho, utilizado para levar Cláudia, em pleno êxtase, até Serra Pelada (a cena em que os garimpeiros se ajoelham e idolatram a vagina da moça e seu clitóris avantajado, por sinal, é digna de uma viagem lisérgica).


Em que pese a alta dose de erotismo presente neste terceiro Clic, curiosamente não há uma única cena de sexo entre homem e mulher. Há muito nudismo e poses sexies, masturbação, um pouco de sexo oral e até utilização de objetos, além de um sujeito com uma ereção permanente que rende algumas piadas feitas por Cláudia, mas em momento algum chega-se às vias de fato.


Não que isso importe no resultado final: ainda que este não seja o melhor dos Clics, Milo Manara e -principalmente – suas mulheres estão em plena forma. E que forma!

O Autor: O italiano Milo Manara estreou nos quadrinhos com Genius (1969), uma HQ erótico-policial. Seus trabalhos mais famosos são Clic (1983) e O Perfume Invisível (1986). Em parceria com Hugo Pratt, artista e quadrinista italiano, produziu O Gaúcho (1991). Junto com Alejandro Jodorowsky, um dos principais roteiristas de quadrinhos do mundo, lançou a série Bórgia, baseada na dinastia de Lucrécia Borgia. Manara é considerado um dos principais quadrinistas europeus da atualidade e está entre os mais famosos criadores de quadrinhos eróticos do mundo.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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