Clark Kent casou com Lois Lane, Homem-Aranha casou com Mary Jane, Popeye subiu ao altar com Olívia e até o Pato Donald já desposou Margarida, então qual a surpresa de ver Cebolinha e Mônica juntando os trapinhos na edição 50 de Turma da Mônica Jovem?
Todo mundo já sabia que as pancadas que ela dava nele na infância bem como os planos infalíveis do galoto eram um amor mal resolvido e, convenhamos, depois do conclamado –e esperado – beijo no mangá, era de se esperar que ocorresse “o casamento do século”.
Será mesmo? A partir deste ponto, leitor, serão revelados partes da história em quadrinhos do casório de Mô e Cê, os famosos spoilers. Portanto, se você ainda não leu a HQ – que chegou às bancas neste mês de setembro de 2012 – e não quer que ninguém estrague o suspense, melhor parar por aqui, ir à banca, comprar e ler o número 50 de TMJ e depois retomar a leitura.
Não parou? Então vamos lá.
Clark Kent se casou com Lois, mas não por muito tempo: na reformulação da DC Comics, os dois voltaram a ser solteiros e, por enquanto, não namoram. Homem-Aranha apagou todo o seu passado após um (!!!) pacto com Mefisto e voltou a ser livre, leve e solto. O casamento de Popeye e Olívia foi um fiasco tão grande que quase ninguém se lembra, e passou a ser simplesmente ignorado na cronologia do personagem.
E o matrimônio de Donald e Margarida? Esse foi uma grande sacada da Editora Abril, uma história divertidíssima -produzida no Brasil – que termina com Donald acordando e descobrindo que tudo foi um sonho. E devidamente perseguido por Margarida, após comentar com ela que só poderia ser mesmo um sonho, pois aquilo nunca aconteceria…
E por que não, pergunta o leitor? Porque o casamento marca o tempo. Uma vez casado, espera-se que o casal tenha filhos, e os filhos irão crescer e, consequentemente, o casal terá de envelhecer. Personagens de quadrinhos, porém, são eternos.
Por isso que um dos poucos casados de sucesso nas HQs é o Fantasma, afinal, a máscara do herói é usada pelas gerações de filhos que se sucedem (e enquanto o senhor Walker era casado com Diana, bastava encher as páginas de relatos dos antecessores para que o “tempo” não passasse tão rápido para o casal… e ainda assim o tempo passou).
Feita toda essa introdução, fica claro ao leitor porque Mônica e Cebolinha não casaram de verdade. Ah, mas eles vão casar e esta é uma grande sacada da HQ.
Nela, Anjinho (ou Ceuboy ou Ângelo, como queiram) e um cupido decidem ver o futuro dos personagens para saber se o amor dará ou não frutos. Assim, eles – e os leitores – acompanham o casamento e até mesmo os primeiros dias do casal, mas ao fim da história Mônica e Cebola continuam solteiros e (apenas) namorados.
Decepção? De maneira alguma. A HQ é muito bem bolada, com tiradas de excelente humor e um argumento muito bem construído. O leitor que curte Mônica Jovem fica feliz ao terminar a história, por saber o que o futuro reserva aos pombinhos, mas o futuro não é agora. Ainda bem, pois desta forma Mônica e Cebola continuarão a viver aventuras por mais muitos anos, muitas décadas, sem precisar fazer pacto com ninguém…
Assim, o competente roteirista Flávio Teixeira de Jesus, um dos camisa 10 do time de Maurício de Sousa, foi muito feliz ao elaborar O casamento do século, pois sem forçar a barra mostrou um acontecimento que muitos fãs esperavam em uma ótima história, mas não amarrou os personagens para o que vai acontecer nas próximas (muitas) edições.
Taí uma ótima lição para os que trabalham com quadrinhos longevos e não HQs fechadas: se for para se basear no matrimônio de alguém quando for “casar” seus personagens, Pato Donald e Margarida são um casal muito mais inspirador do que Lois e Clark. Quem diria….
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