Capitão América: Morre o sentinela da liberdade

Mundo HQ

Steve Rogers (1940-2007)

Morre o América

O famoso escudo redondo com uma estrela no meio sempre voltou para as mãos de Steve Rogers, o Capitão América, depois de ser lançado contra um inimigo. Não mais. Após mais de seis décadas de vida, o “Sentinela da Liberdade” encontrou seu fim nas mãos de um sniper, um franco-atirador desconhecido, que o assassina na história que chegou às bancas brasileiras neste dia 29 de fevereiro, nas páginas da revista Os Novos Vingadores 49.


A morte do herói é publicada por aqui com quase um ano de atraso. Nos Estados Unidos, onde saiu em março do ano passado, já há até mesmo um outro personagem, Bucky Barnes, vestindo a roupa azul com o “A” na testa e as asinhas sobre as orelhas.

Mas a demora para chegar não deve afetar o impacto da história, que nos Estados Unidos alavancou as vendas da revista do personagem e chamou a atenção da mídia em geral (até a conservadora CNN chegou até a noticiar o acontecimento).

Também aqui a editora Panini, publicadora dos quadrinhos Marvel, espera um aumento nas vendas causado pelo apelo da morte do herói. “O desfecho da saga choca por que aproxima o personagem de seus leitores, tornando-o mais humano”, comenta Marcelo Silva, responsável pelo Marketing de heróis da Panini.

Que as vendas aumentam não há dúvida: há inúmeras outras “mortes” de personagem de quadrinhos que comprovam o fato, como as de Super-Homem, Flash (Barry Alen), Lanterna Verde e Sandman. Boa parte deles, diga-se de passagem, foi “ressuscitada”. Mas promover um golpe de marketing seria a única razão para o assassinato de personagens tão iconográficos quanto o América?

Joe Quesada, chefão da Marvel Comics, diz que não. Segundo ele, a razão estaria no roteiro da saga Guerra Civil, mais recente série de histórias que envolveu todos os heróis da editora. Na série, os “supers” se dividem e lutam entre si por causa de uma proposta governamental que exige que os heróis sejam registrados como espécie de super-policiais. Desta forma, receberiam salário e até aposentadoria, mas seriam responsabilizados por eventuais deslizes que cometessem.

O Capitão, porém, ficou contra a medida. “Ele cometeu o maior erro que um soldado pode cometer: insubordinação”, sentencia Quesada. Isso dito,é preciso deixar claro ao leitor que o assassino não é revelado. Após o tal conflito e a rendição do Capitão América, ele foi preso e era levado para julgamento quando o misterioso atirador o alveja, no melhor estilo John Kennedy/teoria da conspiração.

Há quem diga, porém, que os heróis morrem justamente para nascerem de novo, reforçando suas origens mitológicas. Exemplifica bem essa teoria j a morte do maior deles, o Super-Homem, cuja derrocada final é cheia de referências ao maior dos heróis, Jesus Cristo: o Homem-de-Aço morre para salvar a humanidade; o vilão chama-se Doomsday (“Dia do Juízo Final”), a cena com Louis Lane segurando-o no colo remete iconograficamente à La Pietá; a cripta é encontrada vazia só com a capa a La Santo Sudário e, claro, o Super ressuscita (clique aqui para saber mais)

Por fim, há ainda a teoria de que ao não representar mais os valores vigentes do público leitor o herói tem que mudar – sem se descaracterizar – ou morrer. Talvez a resposta seja uma dessas alternativas ou uma mistura delas, mas o fato é que, explicações à parte, o mundo dos quadrinhos perdeu um de seus grandes ícones.

Como bons estrategistas, os editores da Marvel dizem que o herói está morto em definitivo. Os editores da DC também diziam o mesmo de Superman e do Lanterna Verde Hal Jordan, apenas para citar dois exemplos. Os casos de super-heróis desse porte que ficam mortos permanentemente são raríssimos, a ponto de todo leitor conhecer decor uma frase-chavão dita por eles: “Os boatos sobre a minha morte foram exagerados.” Mais ainda, fica difícil acreditar que o Capitão América original não voltará quando o próprio personagem que o substituiu, Bucky, também já morreu em histórias publicadas anteriormente. E, claro, ressuscitou.

Um detalhe final: se a morte do Capitão ajudará a vender revistas, não será apenas de um título: além de Os Novos Vingadores, a Panini já anunciou que as repercussões do assassinato serão exploradas em outras revistas, entre as quais “Capitão América: Morre uma Lenda”, minissérie em duas partes mostrando como ficam Wolverine, Homem-Aranha e o Homem-de-Ferro com a morte do amigo.

Djota Carvalho

Dario Djota Carvalho é jornalista formado na PUC-Campinas, mestre em Educação pela Unicamp, cartunista e apaixonado por quadrinhos. É autor de livros como A educação está no gibi (Papirus Editora) e apresentador do programa MundoHQTV, na Educa TV Campinas. Também atuou uma década como responsável pelo conteúdo da TV Câmara Campinas e é criador do site www.mundohq.com.br

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