Crime bem recompensado
Brainstore lança Canalha, revista com HQs dedicadas ao mau-caratismo
No País do juiz Lalau, de William Sozza e, não nos esqueçamos, no qual dois senadores acusam-se no plenário das maiores barbaridades (e outros tantos já foram caçados por elas), com certeza não vai faltar matéria-prima para a revista Canalha, que a editora Brainstore lança neste mês (a previsão é que ela esteja em algumas bancas ainda nesta semana).
A idéia da revista surgiu da cabeça do contista e ilustrador Wander Antunes, que andava atrás de uma editora para publicar as aventuras de seu personagem Zózimo Barbosa, um detetive do Rio de Janeiro que vive histórias amorais no melhor estilo das peças de Nelson Rodrigues.
Como não conseguiria fazer sua própria revista, Antunes criou um projeto para reunir em uma revista temática HQs de vários autores – entre as quais as de seu personagem. O primeiro passo foi conseguir autorização para publicar – e republicar – histórias de cartunistas como Laerte Coutinho (Piratas do Tietê) outras feras do traço.
"Aconteceu assim: ‘Laerte, estou lançando um gibi assim, assim… Posso publicar histórias suas?’. E o Laerte disse sim. E está aí, abrindo a primeira edição. Outras estrelas brasileiras também deram seu sim e vão desfilar em breve por essas páginas. O projeto foi apresentado então ao editor Eloyr Pacheco, da Brainstore, e aprovado", conta Antunes.
Segundo Eloyr Pacheco contou ao HGB, o primeiro número deve chegar nas bancas ainda nesta semana. O preço e o número de páginas o Eloyr não contou, mas pelo conteúdo parece que vale a pena:
Pra começar, um texto de Gabriel de Mattos situalizando o leitor sobre a figura do canalha – muitas vezes até simpática – na história humana, com citações que vão de Jung a Maquiavel, passando por filósofos/escritores clássicos como Diderot e Robespierre. Encerrada a parte literária, chegam as HQs, abrindo com a de primeira execução de pena de morte no Brasil, uma história fantástica de Laerte que foi publicada na revista dos Piratas número 11 (em setembro de 1991) e que vale a pena reler ou, para a maior parte do público mais jovem, ler pela primeira vez.
A história, clássica, mostra o criminoso Wanderley da Silva indo para a cadeira elétrica com direito à transmissão pela TV ao vivo e torcida organizada (Vai, Wandeco!!!). E tem um desfecho hilário e altamente possível de ocorrer em um País como o Brasil… vale ver mesmo.
Depois, além das já citadas aventuras do Rodriguiano detetive Zózimo, chegam HQs de brasileiros como Gustavo Machado (Sítio do Pica-Pau Amarelo) da dupla espanhola Antônio Segura e José Ortiz (Morgan, Burton e Cyb, Ozônio e Hombre), conhecidos por aqui por meio de HQs publicadas nas (extintas "por enquanto") versões brasileiras e estrangeiras da revista Heavy Metal.
O ponto comum das HQs, além de roteiros competentes e boa arte, é sempre um (ou mais) personagem canalha. E o curioso é que, ainda que haja HQs novas e outras de mais de uma década, nota-se que o mau-caratismo continua atualíssimo. É como diz o ditado: "Respeite os que têm cabelos brancos
…
mas não se fie neles, pois os canalhas também envelhecem."
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