Em 1930, a dupla Max e Dave Fleisher deu início a uma série de desenhos animados chamados “Talkartoons”. Os irmãos já haviam criado outros desenhos antes, mudos, e com aquela nova série partiram para os sonoros. Um dos personagens da série era o cachorro (que, por sinal, demorou para ganhar padrão: ora era baixinho, ora tinha pernas longas, variava de cor…).
E, no episódio Dizzzy Dishes, Bimbo contracenou com uma personagem criada pelo animador Grim Natwick, tido como um especialista em desenhos animados com formas femininas: uma cachorrinha com um certo ar de buldogue, que viria a ser batizada como Betty Boop.
A popularidade de Betty rapidamente ultrapassou a de Bimbo e ela se tornou a figura principal do desenho, apesar dele inda aparecer como, por assim dizer, um ator secundário – sempre como namorado ou pretendente da moça). Com o sucesso, Betty foi perdendo as características caninas (em especial as orelhas, que no final foram habilmente transformadas em brincos) e se tornou mais mulher.
O corpo da personagem era declaradamente inspirado na legendária atriz Mae West e Betty cantava como ninguém. Inicialmente eram músicas no estilo de Helen Kane, conhecida como “Boop-Boop-a-Doop girl”, o que não só deu origem ao sobrenome de Betty como também margem até para uma ação impetrada na Justiça pela cantora, que acabou pagando mico: ficou provado que ela mesma tinha copiado canções de outra intérprete.
As roupas sexy modelando o corpo (e com direito a algumas insinuações de nudez) e as músicas interpretadas por May Questal, que fazia a voz da personagem, acabaram elevando a mocinha ao “cargo”de primeiro sex symbol dos desenhos.
Aliás, muitos adultos gostavam mais das aventuras dela do que crianças, ainda que a erotização fosse caracterizada como “mais inocente” e “não-ofensiva” – em geral, brincadeiras onde suas roupas caíam ou eram levantadas pelo vento, por exemplo.
Ao todo foram produzidos mais de 100 desenhos estrelados por Betty, entre os quais se destacaram Betty Boop for President (1932), Bamboo Isle (1932) e principalmente Riding the Rails (1938), que chegou a receber uma indicação para o Oscar.
A popularidade de Betty aumentou ainda mais graças a participações musicais nos desenhos de dar inveja aos Simpsons. Entre outros, o cantor e trompetista Louis Armstrong participou do desenho (no episódio I’ll be glad when you’re dead, you rascal you, de 1932). Betty também virou brinquedos, relógios e bugigangas em geral.
Em 1934, a personagem virou tira de quadrinhos – publicada até 1937 – e Betty ganhou um longa-metragem em 1939, sucesso nos cinemas.
Tudo ia bem até que em meados dos anos de 1940/50, porém, a censura americana (o Hays Code, equivalente nos desenhos animados ao famigerado código de ética dos quadrinhos) obrigou Betty a mudar de roupa – usar vestidos longos, cobrindo as pernas – e a ser menos sensual.
Bimbo também saiu de cena, já que os moralistas de plantão não admitiam romance entre uma mulher e um cachorro, um “bestialismo” contra os bons princípios… Os irmãos Fleisher então criaram outros personagens, como um namorado humano e um avô cheio de invencionices.
Até mesmo um desenho colorido com Betty interpretando Cinderela foi lançado, mas, sem a sensualidade que a caracterizava, a personagem entrou em declínio e quase caiu no esquecimento.
Ainda mais quando os estúdios da dupla ficaram responsáveis pelas animações do marinheiro Popeye, que passaram a dar muito mais dinheiro e popularidade. Betty, ao poucos, sumiu da TV e dos cinemas sem muito estardalhaço.
Nos anos 80, porém, houve um revival. Primeiro, em 1984, quando ela voltou às tirinhas de jornal, ao lado do Gato Félix (a publicação destas aventuras durou quatro anos). Ela apareceu também em uma animação especial para a TV, em 1985: The Romance of Betty Boop.
Depois, em 1988, fez uma participação especial no desenho/live action Uma Cilada pra Roger Rabbit. Betty, que já foi chamada de precursora da voluptuosa Jessica Rabbit, aparece como garçonete de uma casa noturna, justamente onde Jessica se apresenta.
Depois, ainda em 1989, a personagem voltaria à TV em mais um especial: The Betty Boop Mistery. .
Em 1990, a First Publishing publicou a graphic novel Betty Boop’s Big Break, escrita por Joshua Quagmire e ilustrada por Milton Knight. Uma previsão de um novo desenho animado chegou a ser ventilada inúmeras vezes, para os anos 2000, com “vazamento de informações” dando conta que Betty até pilotaria uma Harley Davidson e usaria jaqueta de couro, porém aparentemente o projeto não vingou.
Em 2015, a Dynamite Entertainment comprou a licença para produzir revistas em quadrinhos, graphic novels e republicar as tiras em edições encadernadas, e lançou novas publicações com Betty em 2016. A princípio, porém, foram apenas quatro edições lançadas, a última delas em 2017 .
Curiosamente, apesar de estar longe das telas com desenhos animados, Betty nunca ficou muito longe da TV: inúmeras marcas “contrataram” a personagem para fazer merchandising de produtos diversos (em especial, ligados ao ramo da beleza).
Ela também continua aparecendo em capas de cadernos, estampas de roupas, games, máquinas caça-níqueis em cassinos e colecionáveis em geral. A linha de bonecos Funko, por exemplo, tem diversas opções de Betty Boop .
Enredo
Betty Boop é uma mocinha ingênua (ou, às vezes, que posa de ingênua) e extremamente sexy, que se envolve em confusões com seus amigos. Todos os desenhos envolvem, obrigatoriamente, performances musicais com Betty, uma cantora nata que enlouquece os homens (e outros animais também).
Personagens
Na primeira fase do desenho, além de Betty o elenco tinha Bimbo, o cachorro que originalmente estreava os curtas e era eterno candidato a namorado da heroína. Os demais personagens, em sua maioria, eram animais antropomorfizados. Em geral, cachorros, gatos, lobos e aves.
Na segunda fase, após a censura, surgiram:
- o namorado fortão Freddy (que aparece em apenas quatro ou cinco episódios)
- o avô de Betty, um inventor excêntrico que pode resolver qualquer problema com invenções das mais diversas (e que também chegaria a ganhar episódios como protagonista. E também Koko, o palhaço que foi o primeiro personagem fixo dos antigos desenhos mudos dos irmãos Fleisher. Também nesta fase, onde não havia mais animais antropomorfizados, apareceu Pudgy, o cachorrinho de Betty.
Curiosidade: Nas costas de Amy Whinehouse
Pinup admirada por muitos e rainha do merchandising, Betty Boop também se firmou como opção popular em tatuagens. Entre as personalidades famosas que revelaram ter a personagem na pele estava a cantora Amy Whinehouse, que usava Betty nas costas. Consta que teria sido uma das primeira tatoos da cantora (que tinha mais de uma dezena espalhada pelo corpo) e também uma das menores, com pouquíssimos registros fotográficos disponíveis.
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