Inumanamente maravilhoso
Um bom argumentista e belos desenhos conseguem transformar qualquer personagem secundário em uma estrela digna de ser admirada. Se você não acredita, corra para a banca mais próxima e compre Os Inumanos, minissérie em quatro edições que a editora Mythos acaba de trazer
para terras brasileiras.
Os Inumanos foram criados em 1964 por Jack Kirby e Stan Lee para fazer figuração para Os Quatro Fantásticos. E fizeram o papel de coadjuvantes com correção, nada além disso. Em 1998, porém, a Marvel Comics resolveu tirar os personagens do ostracismo e encomendou uma minissérie para a dupla Paul Jenkins e Jae Lee (irmão do "Deus" Jim Lee).
O resultado surpreendeu: sucesso de vendas e de crítica, além de um prêmio Eisner Award (o Oscar dos quadrinhos) concedido em 1999 para "a melhor minissérie do ano". Prêmio e sucesso merecidos, como agora podem verificar os brasileiros.
Os Inumanos são uma raça criada na terra pelos guerreiros intergalácticos Kree, que em tempos imemoriais decidiram habitar a Terra e desenvolveram a raça a partir dos humanos, para serví-los. Os Kree, porém, acabaram voltando para o espaço e os inumanos acabaram achando abrigo numa ilha em algum lugar da Europa, batizada como Attilan.
Donos de um intelecto superior ao dos demais humanos, eles se desenvolveram na ilha e um de seus cientistas, Randac, desenvolveu uma substância capaz de causar mutações nas pessoas, chamadaTerrí-geno. Randac foi nomeado rei e desde então todos os inumanos passaram a utilizar a substância quando atingiam a puberdade, em uma cerimônia mística na qual cada um desenvolvia poderes "escondidos"em seus códigos genéticos que a substância liberava.
A minissérie começa introduzindo o leitor ao mundo dos inumanos. De cara, ele conhece o rei, o mais poderoso de todos, chamado Raio Negro. Um homem que nunca poderá falar, pois um mínimo sussuro de sua voz é capaz de destruir tudo à sua volta.
Na seqüência são apresentados outros inumanos – dentre os quais o traidor do reino (e irmão do rei) Máximus – e uma série de jovens que passa pelo ritual de mutação. Com consequências surpreendentes para pelo menos dois deles, é bom dizer.
Oque acontece a partir daí é ação pura. Os humanos resolvem invadir a ilha, auxiliados por… adivinhe? Raio Negro se recusa a defender o lugar e aos poucos o leitor percebe que a sociedade perfeita de Attilan está apodrecendo por dentro, apesar do problema parecer externo.
Com um argumento bem amarrado que suscita questões como escravagismo, diferença de castas e até mesmo racismo em uma sociedade na qual o normal é cada indivíduo pertencer a uma sub-raça única (incrível, não?), Inumanos tem ainda como atração os belíssimos desenhos de Lee, que – vale a pena ressaltar em tempos nos quais editoras abusam do papel vagabundo nas revistas – ganharam mais força com o excelente tratamento editorial dispensado pela Mythos.
O número um está nas bancas e lojas especializadas por R$ 6,90 e o próximo chega em 27 de junho. Cada um dos quatro exemplares tem 64 páginas coloridas de história. É inumanamente impossível deixar de ler.
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