Assim como muitos outras histórias pré-históricas dos quadrinhos e dos desenhos animados, as aventuras de Piteco – o homem das cavernas do universo de Maurício de Sousa – misturam criaturas que nunca viveram juntas, ou seja, homens-das-cavernas e dinossauros.
Mas em Piteco Ingá, Graphic Novel MSP assinada pelo paraibano Shiko, tem muito mais mistura: marcos arqueológicos reais, folclore brasileiro, um toque de magia no melhor estilo sword and sorcery, noções de antropologia, enfim, uma verdadeira salada. E com resultado dos mais saborosos.
A aventura – quarta do selo de novelas gráficas lançadas em 2012 por Mauricio de Sousa – é ambientada na aldeia de Lem, onde moram Piteco, Thuga, Ogra, Beleléu e outros personagens conhecidos do universo criado pelo pai da Turma da Mônica.
Por sinal, Shiko fez um belíssimo trabalho no desenho para dar um tom realista aos cabelos dos personagens (os de banana do protagonista e os de mola do cientista maluco), transformou a feiura de Ogra em exotismo rústico da “única guerreira da tribo” e Thuga ficou bela e sensual, a ponto de Piteco parar de correr dela e passar a correr atrás dela…
O enredo passa pela mudança de hábitos das tribos (além de Lem, lá estão outras das HQs originais, como Ur e a dos Homens-Tigre), a migração atrás da caça, o aprendizado do plantio. Além destes conceitos reais, a pedra do Ingá, que faz parte do cenário e de questões que vão além dele, é um monumento arqueológico real na Paraíba onde há diversos painéis com pinturas rupestres – que na HQ ganham sentido e autores.
Em meio a este contexto, Thuga é raptada e o trio de amigos segue atrás da companheira – Piteco com sua coragem e inteligência, Ogra com garra e força, Beleléu com suas invenções inusitadas.
A partir deste ponto a HQ lembra bastante uma aventura de RPG ou até de Conan. Impossível, por exemplo, não lembrar das feiticeiras sensuais que permeiam as aventuras do bárbaro ao ver os heróis de Shiko se depararem com a misteriosa M- Buantan.
Ela, por sinal, é inspirada em lendas do Boi Tatá e também aparece na história um curupira, montado em um tatu pré-histórico. E se pode causar estranheza ver em uma história de homens-da-caverna mitos brasileiros isso é pura falta de costume.
Afinal, a pré-história ocorreu em todo o planeta e se Piteco é brasileiro, nada mais natural que ter se deparado com lendas daqui (ou quem sabe, seres reais que o tempo transformou em lendas?).
Fato é que Shiko costurou habilmente todos estes recortes e a história de Piteco se sustenta, e muito bem. Tanto para os fãs do personagem quanto para quem gosta de uma boa aventura de fantasia e ficção, Piteco Ingá é leitura mais que recomendada.
E, nunca é demais lembrar, como ocorre nas Graphic MSP, ao final da história o leitor é brindado com a origem do personagem criado por Maurício e curiosidades da criação original e da edição especial.
Comentar