Quando os CAMINHOS de Bidu se encontram…

As histórias de Bidu nos gibis sempre seguem três caminhos definidos e bem diferentes. Ora o cachorrinho azul é exatamente isso: um cão envolvido em situações cotidianas que ocorrem entre seres humanos e animais de estimação; ora Bidu se envolve em aventuras com outros animais, nas quais todos falam entre si, têm personalidades humanas e ideias mais humanas ainda. Por fim, há vezes em que Bidu assume o papel de “ator” de HQs, com direito ao contraregras Manfredo, outros atores e atrizes (e maquiadores, dublês, seguranças etc) caninos, respostas a cartas de leitores e cenários transformados em cinematográficos. Pois duas destas trilhas narrativas estão unidas com perfeição em Bidu – Caminhos, a primeira aventura solo do cãozinho pelo selo Graphic MSP.

Para quem não sabe ou não se lembra, o selo traz histórias mais longas e sofisticadas – as chamadas Graphic Novels, ou novelas gráficas – estreladas pelos personagens de Maurício de Sousa, mas criadas e desenhadas por outros artistas. No caso de Caminhos, lançada originalmente em agosto de 2014, assinam a obra a dupla mineira Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, que ficou conhecida em 2011 ao lançar Achados e Perdidos, primeira HQ nacional produzida por financiamento coletivo pela Internet.

A proposta de Damasceno e Garrocho é contar a própria versão de como Bidu foi adotado pelo dono, Franjinha. Com desenhos fofinhos e uma fluência que lembra um desenho animado -reforçada pela disposição das onomatopeias e até pelos rabichos flexíveis dos balõezinhos (rabicho é aquela parte do balão que indica o personagem que fala) – os dois conseguiram juntar em uma mesma história a interação dos cachorros com os humanos e uma aventura canina na qual os animaizinhos falam entre si.

E como falam !? Eis aí uma das melhores sacadas da HQ. Quando os seres humanos estão presentes, os balões são normais, com diálogos escritos (e eventuais recordatórios de Franjnha, que narra alguns trechos para situar o leitor). Já quando os cachorros estão sozinhos, “conversam” entre si por meio de balõezinhos com desenhos que indicam o que eles querem dizer.

Os próprios autores revelam que este formato dos diálogos caninos foi ideia de Sidney Gusman, editor responsável por todos os Graphic MSP. No entanto, a dupla mineira não só executou com perfeição a proposta como foi além. Impossível não rir e admirar, por exemplo, a diferença no “modo de falar” de Bidu e do “vilão” Rufius. Enquanto o protagonista se expressa por desenhos coloridos e fofinhos, a fala do canzarão é em duas cores e às vezes remete a gráficos de engenharia e arquitetura.

Também muito bem pensado é a visão do “cientista maluco” Franjinha. Nas HQs de Maurício, o personagem sempre faz invenções mirabolantes, que vão de fórmulas para ficar invisível a máquinas do tempo. Em Caminhos, as invenções e projetos são aquelas que todos fizemos quando criança – que envolvem caixas de papelão, tampinhas de garrafa, potes vazios de iogurte e muita imaginação – e uma delas literalmente traz o final feliz para a casa do garoto.

Cão de rua

O conto de Damasceno e Garrocho mostra Bidu como um cachorro abandonado, destes que vive em terrenos baldios. Vive muito bem, por sinal, mas sente falta de algo. Para não mencionar que tem que disputar seu castelo (um carro abandonado) e ossos com um certo cachorro amarelo que insiste em aparecer por ali (Alô, mamãe!) e com o brutamontes Rufius.

Além de terem criado suas próprias versões de Bidu, Bugu e do “cachorro mais bravo da rua”, os autores também colocaram na HQ o cãozinho Duque, que no gibi é o melhor amigo do protagonista. Em determinado ponto da aventura, Bidu e Duque acabam indo parar em um abrigo para cachorros e, depois de sofrer muito bullyng de Rufius, acabam se unindo em uma inusitada fuga pelos esgotos da cidade.

A partir daí, algumas reviravoltas – inclusive um ato de vingança de Bidu que coloca o vilão em maus lençóis – deixam a aventura ainda mais emocionante até chegar a um final no que muda os (adivinhem?) caminhos seguidos pelos quatro amigos caninos até então.

Como já tradicional nos livros da série, as páginas finais trazem extras que incluem layouts, originais e estudos dos dois autores, uma biografia resumida de ambos e um histórico do cãozinho Bidu, o primeiro personagem publicado de Maurício de Sousa (em 18 de julho de 1959). No histórico, além de texto, é republicada a famosa primeira tira do cãozinho e seu dono, bem como a capa da primeira revista, lançada pela Editora Continental em 1960.
Com ótimo roteiro, sacadas originais, desenhos caprichados e reinterpretação dos personagens em estilo próprio, Bidu – Caminhos segue a trilha de todas as demais Graphics lançadas até agora pelo selo. E isso, desnecessário falar, é muito bom. Mais uma vez, o selo criado pela MSP produções conseguiu trazer uma daquelas histórias que o leitor digere com prazer e, ao terminar, fica com um gostinho de “Quero Mais” na boca.

NOTA DO CRÍTICO: Esse é bom

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