Classificados… em
primeiro lugar
Se tem a assinatura de Laerte, então é coisa boa. Começar uma análise sobre um álbum de tiras desta forma pode parecer parcial. Não tenha dúvida, é parcial mesmo. Afinal, é impossível se manter frio diante das tiradas deste que é, sem dúvida, um dos maiores cartunistas brasileiros de todos os tempos. Quem conhece e já leu Piratas do Tietê, Striptiras, Overman, Condomínio, A Insustentável Leveza do Ser, Bruxas e Fadas, apenas para citar alguns trabalhos do artista paulistano, sabe que não há exagero nestas linhas.
Já quem não conhece Laerte pode ter uma boa mostra de seu humor insuperável justamente no álbum "Classificados", lançado pela Devir, que reúne tiras que saíram no caderno de classificados da Folha de São Paulo a partir de 1998.
São 64 páginas coloridas recheadas das melhores tiras do período. O humor de Laerte consegue ser ao mesmo tempo universal e peculiar, cotidiano e surrealista. Classificações à parte, é impossível folhear uma página sem dar boas risadas (em várias delas, gargalhadas) com situações que vão da biga romana com peças recauchutadas à uma insólita goteira no aquário. Sem mencionar a Porra Louca, o Besouro multado, a manutenção sexual e outras tiras mostradas nesta página.
"Apesar de serem atemporais os cartuns trazem uma observação crítica, irônica e surrealista dos tempos perturbados e desprovidos de lógica em que vivemos", diz o release que a Devir fez sobre o livreto. Na mosca. Vale lembrar que Laerte sabe o que faz há muito tempo.
Desde 1972 o cartunista publica seus trabalhos, tendo feito um famoso livro de charges básicas para sindicatos (com artes de situações sempre atuais, que ainda hoje são utilizadas em panfletos Brasil afora), trabalhou em dezenas de jornais e revistas (além da Folha, Veja, Isto É, pasquim, Gazeta Mercantil…) e levou seu humor também para a TV, tendo escrito, por exemplo, para programas como TV Pirata e a TV Colosso, ambos da Globo.
Como qualquer pessoa ligada à área sabe, fazer tiras é o trabalho mais difícil para um quadrinista, pois é preciso contar uma piada/história inteira em um espaço restrito e se a tira é de humor, é preciso ter no mínimo 365 boas idéias por ano ou a coisa desanda.
Laerte, porém, faz o trabalho parecer muito fácil – mesmo quando não se trata de uma coletânea. O álbum classificados custa R$ 15,00 e pode ser encontrado nas lojas especializadas (Comic Shops) e em livrarias. E com um detalhe: trata-se do número 1, ou seja, uma nova coletânea de "classificados" já está prevista para o futuro próximo.
Comentar