Arrowsmith: uma mágica metáfora
A guerra exerce uma certa magia sobre os adolescentes do sexo masculino – é muito comum encontrar casos de países envolvidos em conflitos nos quais jovens mentem a idade para poderem batalhar no front. No entanto, eventualmente todo soldado descobre o inevitável: em uma guerra, no fim, só há monstros de ambos os lados. No caso de Arrowsmith, a guerra da magia, graphic novel lançada no ano passado pela Devir que só agora chegou em boa parte das lojas de histórias em quadrinhos e livrarias, a descrição acima não é uma metáfora.
Ou, melhor dizendo, a metáfora torna-se literal nos quadrinhos belamente desenhados pelo espanhol Carlos Pacheco (LJA/SJA) e idealizados por Kurt Busiek (LJA/Vingadores e Astro City). Arrowsmith conta a história de um jovem estadunidense que, entediado com a vida em uma fazenda em Connecticut e a mentalidade tacanha do pai, mente a idade para se alistar na Primeira Guerra Mundial.
Assim, o jovem Fletcher "Fletch" Arrowsmith torna-se um recruta aviador e vai para a Europa descobrir que a guerra não é tão romântica quanto ele pensa. A fantasia da história fica por conta do seguinte "detalhe": Fletch voa não em um avião, mas graças a magia acoplada a um pequeno dragão sentado em seu ombro, o inimigo é uma espécie de monstro que tem em suas tropas vampiros e lobisomens, zumbis são recurtados por ambos os lados e magos concentram-se em desenvolver magias e armas que garantam a vitória para o lado que defendem.
O que a primeira vista parece ser uma estranha mistura de O Senhor dos Anéis com um documentário sobre a primeira grande guerra revela-se um belo conto sobre a desumanidade dos conflitos bélicos e, mais ainda, sobre o amadurecimento forçado de milhares de garotos que são enviados para o front. Quaquer front.
Assim, quando Fletch vê o primeiro amigo tombar, morto pelas tropas inimigas, ele e os demais jovens soldados celebram a honra do falecido, "um homem nobre" que morreu em nome de uma causa. Tempos depois, após salvar um grupo de sobreviventes por mera sorte e descobrir que os monstros literalmente estão de ambos os lados, o garoto descobre que morrer em uma guerra pode ser, sim, nobre. Mas é estúpido e desnecessário.
"Nós lutamos e os inocentes morrem. Mas, se desistirmos, mais inocentes morrerão", pensa um combalido Fletch, antes de concluir: os inimigos com certeza pensam exatamente a mesma coisa.
Além do bom argumento – Busiek contou com a consultoria de Lawrence Watt-Evans, que projetou 1100 anos de história alternativa da Europa e do mundo com "desenvolvimento sócio-político místico" -, a arte de Pacheco é deslumbrante. O desenhista caprichou tanto nos cenários de desolação na Europa (que poderiam muito bem passar pelos reais) quanto nas criaturas exóticas que aparecem em toda a história.
Dos cabelos de musgo e folhas do troll de pedra que havia se refugiado em Connecticut fugindo da guerra à maravilhosa seqüência em que o esquadrão de Fletch descobre estar transportando armas químicas, ou melhor, salamandras demoníacas que destruirão uma vila inocente, o traço do espanhol é cheio de vida e detalhes que fazem com que cada quadro mereça ser observado pelo menos mais uma vez após a leitura da obra.
Arrowsmith, a guerra da magia tem 160 páginas coloridas e tem preço sugerido de R$ 39,00, mas na maioria das lojas está sendo comercializada por algo em torno de R$ 50,00. A Graphic Novel, que nos Estados Unidos foi lançada em seis partes e aqui no Brasil teve todos os seus capítulos reunidos em uma única edição pela Devir Livraria, pode ser encontrada em Campinas em comic shops como a Pandora (fone 3234-4443) ou nas grandes livrarias dos shoppings. Também é possível comprar a obra diretamente no site da editora (http://www.devir.net).
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