Magia de Aria: nos passos de Sandman
Quando Sandman acabou, uma legião de órfãos de Neil Gaiman começou a comprar The Dreaming, um título que, ao melhor estilo José Serra, dava "continuidade sem continuismo" ao universo do Senhor dos Sonhos. Serra não deu certo, The Dreaming também não. E os órfãos de Sandman continuam procurando uma HQ que misture argumentos inteligentes, magia, misticismo, religião, filosofia, muita mitologia…
A procura talvez chegue ao fim com A Magia de Aria, graphic novel de Brian Holguin e Jay Anacleto lançada aqui no Brasil em álbum de luxo pela editora Devir (104 páginas coloridas, capa dura, formato 26 x17cm., R$ 27,00).
Lançada originalmente em 2002, em o Portugal,a HQ recebeu o prêmio de Melhor Álbum de 2002 no Festival de Banda Desenhada de Amadora, e com méritos. A começar pela arte fabulosa de Jay Anacleto, reproduzida com muito capricho pela Devir no álbum brasileiro. Anacleto, que antes de desenhar quadrinhos era dentista, tem um traço maravilhoso. E durante a história contada no álbum, o artista usa e abusa de estilos diferentes, do clássico ao mais modernoso, com direito a cenas em que Aria lembra a tomb raider Lara Croft (para delírio de uns e desespero de outros) e até mesmo alguns monstros no estilo de The Darkness.
A grande sacada de Aria – e sua semelhança com Sandman -, porém, está no argumento. A personagem principal, Lady Kildare, é uma fada exilada em Nova York, onde trabalha como colecionadora de antiguidades. Também na cidade habitam, disfarçados, dezenas de deuses e entidades, que o leitor mais atento vai sacar e o desatento não (aqui, mais uma semelhança…). Há um bar, por exemplo, que pertence a ninguém menos que o deus grego Dionísio…
Além destes detalhes e de diversas pontas soltas que são ou virão a ser amarradas no futuro – o que mais uma vez torna inevitável a comparação com a obra de Gaiman – A Magia de Aria traz uma história envolvente e muito bem argumentada.
Difícil resumí-la, mas basicamente trata-se da ascensão do Senhor das Trevas, possibilitada por um crime muito antigo envolvendo alguém da família de Lady Kildare. Cabe à mocinha e seus aliados viajarem pelos EUA, Inglaterra e Faerie para impedir a ascensão. Para alcançarem este objetivo, o grupo capitaneado por Lady Kildare fará um pouco de tudo – na fórmula da aventura estão magia, mistérios, erotismo, enigmas e violência, nas mais diversas proporções.
Fica apenas uma pergunta no ar, não respondida na HQ: por que ela se chama "Magia de Aria" se não há na história ninguém ou nenhum lugar com este nome? Este escriba contatou a assessoria de imprensa da editora para saber por quê e, ao que parece, a resposta é que a minissérie que deu origem à série foi publicada em uma revista com este nome. Resposta meio prosáica, mas coerente. No entanto, em se tratando de uma aventura que segue o estilo de Sandman, nunca se sabe: pode ser que, lá pelo décimo capítulo, descubramos realmente o porquê…
O álbum A Magia de Aria traz uma história completa, originalmente publicada nos números 1 a 4 da revista em portugal. Dependendo do impacto e das vendas do álbum por aqui, a Devir poderá lançar novas publicações com Lady Kildare e companhia (i)limitada.
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