Durante 50 anos ele xingado (de encardido, principalmente) e torturado: teve as orelhas dispostas em nós dos mais diversos estilos e quantidades e, não bastasse isso, ainda foi arremessado com força e velocidade descomunais contra os autores dos tais nós. Talvez para amainar tanto sofrimento, de certa feita os estúdios Maurício de Sousa até deram uma namorada para o pobre, uma coelha rosa chamada Dalila, mas ela desapareceu rapidamente e o deixou novamente sozinho a mercê da sina cruel. Pois é, o coelho Sansão, vítima de tantos desenganos, assim como sua dona também está fazendo meio século e, brincadeiras à parte (ou, talvez, brincadeiras inclusas) vai ganhar uma exposição especial no Memorial da América Latina, a partir do dia 27 de fevereiro.
A ideia surgiu do cartunista Jal, que trabalha com Maurício de Sousa e é o criador das Flashexpo – exposições com temas atuais convocadas por ele via Internet, nas quais cartunistas de todo o país são convidados e podem participar livremente enviando trabalhos sobre o assunto anunciado. Como este é o Ano da Mônica, no qual inúmeras exposições, eventos e lançamentos irão homenagear a baixinha dentuça, Jal propôs uma exposição para corrigir “uma injustiça histórica”: ora, se Mônica faz 50 anos, o coelhinho que a acompanha desde sempre também está aniversariando.
“A ideia é que a Mônica nem apareça nos desenhos porque haverá muitas exposições sobre a Mônica 50 anos”, diz Jal, que após coletar os primeiros trabalhos fez também um engraçado alerta aos artistas que ainda pretendiam participar da mostra e ainda não haviam produzido seus trabalhos: “Já temos muitas piadinhas sobre nós.”
A exposição no Memorial da América Latina (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 – Barra Funda São Paulo) abre no dia 27 de fevereiro e fica em cartaz até 21 de abril, com entrada livre sempre das 9 às 18 horas.
Ao todo são mais de 50 cartunistas apresentando suas homenagens em cartuns, charges, caricaturas e ilustrações diversas, sempre com muito humor. Há desde “pontos de vista” e “vinganças” do coelho a metáforas de filmes famosos e outros personagens mundialmente conhecidos, como Pokémon e Calvin e Haroldo (esta, por sinal, é digna de nota e foi feita por Flávio Teixeira de Jesus, um dos melhores artistas da Maurício de Sousa Produções.
O público também poderá conhecer – em ilustrações e vídeos – a história e a concepção gráfica da criação, o desenvolvimento e a linha do tempo do personagem. Além disso, a mostra leva ao saguão do Terminal de Metrô da Barra Funda bonecos gigantes, de até quatro metros de altura, criados especialmente para a ocasião.
Ele era amarelo
Pra quem não conhece, vale lembrar como Mônica surgiu. O próprio Maurício de Sousa conta em uma de suas crônicas que, no início dos anos de 1960 e já razoavelmente conhecido por seus primeiros personagens (Franjinha, Bidu, Cebolinha, Piteco), foi perguntado se tinha algum tipo de misoginia. Depois de descobrir o significado da palavra, notou que realmente não tinha personagens femininos e decidiu fazer um.
Enquanto buscava inspiração, surgiram na sala suas filhas Mônica (de personalidade forte e carregando sempre a tiracolo um coelho amarelo), Magali (comilona e fã de melancias) e Mariângela (que acabou inspirando Maria Cebolinha).
Sansão, como se vê, estava lá o tempo todo. O bichinho de pelúcia real, porém, era bem duro e recheado de palha (segundo conta Maurício). No entanto, uma nova versão fofinha –e amarela – já foi mostrada pela própria Mônica Sousa, a real e deve ser lançada em breve no mercado (confira na foto abaixo).
(publicado em 24/02/2013)
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