Djota Carvalho
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Peço desculpas aos leitores por fazer aqui um depoimento pessoal. Mas a morte é pessoal, pessoal demais. Na minha fé, morrer é apenas uma passagem, a dor e o desencarne fazem parte da vida, mas não são o fim dela. Nem por isso, no entanto, deixo de sofrer e de, em casos como ocorrido nesta sexta (12), ficar chocado.
Não sei bem a hora, mas logo de manhã recebi um telefonema de minha irmã dizendo ter lido em um site que o cartunista Glauco Villas Boas estava morto. Pela notícia que ela leu, assassinado a tiros e junto do corpo dele chegara ao IML o corpo de um adolescente, previamente identificado como Raoni. Gelei duplamente. Não quis dizer nada, mas lembrei que Glauco tinha um filho com este nome, ainda que não fosse adolescente.
Desliguei o fone e entrei no twitter, onde a maioria dos amigos cartunistas já lamentava o fato, em um misto de solidariedade, choque e revolta. Liguei para o Bira (Dantas) para dividir o peso. Entre raiva contra o absurdo ocorrido e mentalizações de boa energia para a família, combinei de fazermos uma espécie de tributo, sei lá, alguma coisa em memória do Glauco…
Liguei depois pro Dalcio, coitado, nem sabia da história e eu fui o urubu. Mas ele, como eu e o Bira, sabia que nessas horas os amigos servem para isso: dividir. Dalcio também falou em fazer uma homenagem – eu mesmo já estava com a minha, que abre esta página, na cabeça – e dei um toque então para o Sidney Gusman, do UniversoHQ, para fazermos algo em conjunto para manifestar nosso apreço, nosso apoio, nossa saudade. Ele topou a ideia e ela foi para o Blog do UniversoHQ, pros twitpics da vida, pro MundoHQ, pra todo lugar.
E aí alguém pode perguntar: você era amigo pessoal do Glauco, por isso está tão sentido? Gostaria de dizer que sim, de ter conhecido o pai do Geraldão mais a fundo, mas infelizmente isso não é verdade. Infelizmente porque só tive duas ou três conversas com Glauco (acho até que falei mais com o irmão dele, o Pelicano, quando era repórter do Correio Popular). A última delas foi quando ele se preparava pra lançar uma revista do Geraldinho que, me contou, era um sonho antigo.
Mas nas poucas conversas com ele –e nas muitas com todos que o conheceram – vi que era um sujeito bacana, bonachão, bem-humorado e muito da paz. Era também o autor de personagens que marcaram a vida de milhões de pessoas (eu inclusive), que com um humor muitas vezes cáustico faziam não só rir, como refletir. E era um ser humano, um pai de família que foi morto na frente da esposa e dos filhos.
Há agora duas versões. A primeira divulgada pelo advogado Ricardo Handro, que se identifica como representante da família, diz que Glauco foi vítima de assalto e estaria tentando negociar com os bandidos para que ele fosse seqüestrado e não sua esposa ou crianças. E que o filho Raoni chegou em meio à negociação e acabou sendo morto junto com o pai, talvez por ter assustado os bandidos.
A segunda versão, divulgada pela Polícia, dá conta que o assassino seria um conhecido de Glauco, que estava em sua casa e que ameaçara se matar, e que Glauco e Raoni tentaram convencer o tal suicida (já identificado, diz a Polícia) a não se matar e acabaram mortos por ele.
O fato de não saber o que realmente aconteceu não impede o choque e o lamento por uma vida interrompida brutalmente. Peço então a todos que orem, rezem, façam um pensamento positivo, mandem boas energias por qualquer que seja o meio, para a família de Glauco neste momento de dor. E para que ele e o filho, Raoni, façam uma boa passagem para o paraíso que, com certeza, ficará mais bem-humorado na mesma proporção em que estamos tristes.
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